Um estava nos sonhos do outro.

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"Desde o dia em que havia matado os três oficiais da equipe de resgate, tomou a decisão irrevogável de jamais tornar a comer carne humana.
Foi como um súbito despertar de consciência, acompanhado do mais doloroso arrependimento. Como se ao fechar os olhos, ainda pudesse sentir o sangue quente a tingir-lhe as mãos e as vísceras se rompendo entre os dedos.
Odiava se lembrar daquilo! Simplesmente odiava a lembrança de que por algum tempo, fora um monstro. E se não tivesse parado com toda aquela insanidade? Será que teria se tornado um wendigo completo, como Hannah e tantos outros? Realmente não gostava de pensar nisso, afinal, qual importância aquilo tinha? Sam o havia salvo novamente, mesmo que de forma indireta. Ela sempre o salvava de si mesmo.
Era como se a pudesse sentir ali, mesmo que estivesse à quilômetros e quilômetros de distância, como se ainda estivessem lado a lado como antes.
A via todas as noites quando fechava os olhos e se entregava ao sono mais profundo. Ela estava ali, sorrindo para si,  o aninhando junto ao seio como antes. Partilhando de seu calor e deixando evidente que estava tudo bem.
E, para sua frustração, se dava conta de que aquilo era irreal, quando abria os olhos com o nascer da aurora.
Mais uma vez se sentava em algum canto frio e escuro, abraçando as pernas. A esperaria voltar para resgatá-lo, nem que isso levasse anos.
Naqueles momentos de solidão, se lembrava do que havia dito a Chris: "A vingança é o melhor remédio!" E se envergonhava disso. Pois no final das contas, percebia que seu anseio por vingança, o havia levado a perdição.


Vinha se sentindo angustiado, nos meses mais recentes. Era como se uma preocupação inexplicável, se abatesse sobre si.
Ele não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas a cada dia se preocupava mais com Sam. Como se algo dentro dele, o alertasse de que ela estava enrascada com alguma coisa.
Conforme os meses avançavam apenas sentia essa preocupação crescendo, se tornando mais intensa. 

Realmente não sabia explicar o que estava sentindo, mas tinha certeza de que algo estava errado. Como se enquanto se sentia mais preocupado com Sam, também se sentisse ainda mais ligado a ela. Algo como um laço invisível e inquebrável, que os ligava de uma forma inexplicável.
Em seus sonhos, caminhava por uma casa pequena, porém aconchegante. E quando terminava de cruzar um pequeno corredor, se deparava com uma porta entreaberta. Era evidente que entraria no quarto e quando o fazia se deparava com um berço azul claro, aonde um bebê jazia adormecido, porém com o rosto oculto por uma manta esverdeada.
Era assim todas as noites: Via a criança dormindo, se aproximava do berço e quando estava prestes a descobrir o rosto do bebê, a luz do sol invadia a mina abandonada por uma fresta e o acordava.
Já estava na hora de se levantar e procurar comida novamente.

Já não mais matava seres humanos para se alimentar. Porém, ainda havia  a sede por sangue e o anseio absurdamente intenso por carne. Era como se sua "metade wendigo", precisasse sentir o sabor da carne para aprazer seus instintos cruéis. E como não mais atendia aos pedidos por carne humana, - já que que sua humanidade havia voltado – precisava satisfazer sua fome, devorando animais aos quais conseguia caçar.

Os meses iam avançando de forma rápida e impiedosa, assim como a forma que ele matava algum animal para saciar sua fome.
Claro, não tinha noção alguma de há quanto tempo estava ali. Realmente não fazia a mínima ideia de quantos meses já faziam desde que atraíra os amigos ao chalé, no intuito de vingar as irmãs.
Talvez o tempo tivesse parado para ele, mas não para Sam. E naquela manhã específica, algo diferente aconteceu. 

Não fazia a mínima ideia disso, talvez até fosse absolutamente irrelevante, mas já faziam exatos nove meses, desde que Sam havia sido sua, pela última vez.
Ao se levantar, sentiu-se estranho; como se algo o deixasse ansioso e agoniado. Não sabia explicar, havia sido invadido por uma ansiedade abrupta, que o fizera sair mais cedo do lugar aonde se escondia e caminhar pela montanha.
Nem bem o sol havia nascido e Josh já estava caminhando pela grama úmida pelo orvalho da manhã, completamente inquieto. A noite havia sido realmente turbulenta, tendo acordado diversas vezes. Era como se durante alguns momentos da noite, estivesse preso entre um estado de inconsciência e, ao mesmo tempo acordado.
Preso entre o sonho e realidade, podia ver as feições contorcidas de Samantha, denotando uma dor extrema.

Aquilo o deixou tão perturbado, que simplesmente saiu da mina, caminhando sem rumo pela montanha.
E como era parte de sua rotina, caminhava da forma mais suave possível, enquanto procurava por algum animal que pudesse comer.
Passou pela frente do chalé e pela primeira vez em meses pôde ver a total pilha de escombros em que ele havia se tornado.
Havia fragmentos de vidro quebrado por todos os cantos, assim como pedaços, e mais pedaços de madeira queimada espalhados pelo chão. 

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora