Sonhos estranhos.

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A noite era fria e tempestuosa. Ideal para se causar os pesadelos mais intensos e assustadores, como as muito recorrentes em filmes e contos de terror.
Movia-se agitada de um lado ao outro na cama, transpirando exageradamente. Debatia-se sobre o colchão, esboçando uma expressão de angustia e sofrimento, enquanto palavras desconexas lhe escapavam pelos lábios.

—Josh... — Dizia entre um gemido agoniado, e outro.
Em sua mente, podia ver-se de forma clara e quase palpável, caminhando pelo túnel que dava acesso às minas, com uma lanterna em mãos.
Tudo era tão igual, tão vivo, tão real... Era como se revivesse cada mínima parte de todo o horror que vivera naquela noite.
A única diferença, é que caminhava sozinha pelas minas, descalça,  trajando apenas a mesma camisola azul clara com a qual dormia.

Não havia ali, Mike, Ashley, Chris, ou Emilly. E sim apenas Sam, caminhando trêmula pela escuridão, amparada por uma lanterna cuja luz era extremamente débil.
Tudo parecia tão... Intacto, tão perfeitamente igual, como se realmente estivesse de volta à montanha.
Podia ouvir nitidamente o uivo do vento passando por entre as estalactites e ver de forma clara os carrinhos enferrujados e puídos, que os mineiros utilizavam em outras épocas.
Movia a lanterna em diversas direções, pisando aos trilhos gastos, enquanto sentia o coração disparar.

— Olá? — Dizia em seu sonho, com nítido pavor em sua voz, que escapava quase esganiçada por entre os lábios trêmulos. E, no entanto, não havia resposta alguma, além do eco de sua própria voz.
O barulho da água gotejando sobre uma poça ampla era perfeitamente ouvido ali, assim como o som da respiração acelerada de Samantha, que continuava avançando pela escuridão.

— O que diabos estou fazendo aqui, de novo? — Disse consigo mesma, olhando de um lado ao outro, tão trêmula que era quase impossível manter a lanterna firme pela mão, mantendo a luz em uma direção fixa.
Foi então, que um novo som começou a ecoar pelo ambiente. Um som que fez com que seu corpo todo se arrepiasse em nítido pavor.

— Sam... — Soava uma voz masculina, um tanto quanto abafada.

Ela se virou imediatamente para trás, apontando a lanterna na direção por onde provinha a voz. —Quem está aí?! — Perguntou em tom preocupado, buscando em meio ao escuro, o dono da voz. Porém, não conseguiu enxergar nada além de um outro carrinho sem as rodas, tombado ao chão.
A voz tornou-se ainda mais próxima e persistente, e logo pôde ouvir novamente o chamado.

— Sam... — Continuava a voz, desta vez em outra direção, enquanto pôde ser perfeitamente ouvido o som de passos pela escuridão.

— Pelo amor de Deus, quem é?! — Dizia Samantha com a voz ainda mais apavorada, sem saber para onde virar a luz fraca da lanterna que começava a oscilar.

— Estou aqui, Sammy. — Insistia aquela voz masculina, totalmente áspera, quase em tom inumano.

A luz da lanterna havia desaparecido e Sam começou a dar pequenos tapinhas em sua base. — Merda! — Disse ainda tentando fazer a lanterna voltar a funcionar. E quando a luz ressurgiu, Samantha a apontou em uma direção qualquer. Um grito de horror escapou de seus lábios, ecoando pelas minas, quando em sua frente surgiu o rosto de Josh, completamente manchado de sangue, com dentes extremamente pontiagudos aparecendo pelos lábios, surgindo também por uma fenda horizontal pelo canto da bochecha.


Acordou em um sobressalto, ensopada de suor, ainda gritando a plenos pulmões. Levou a mão direita a testa, enxugando-a, enquanto o coração ainda estava completamente acelerado. Tateou pela mesinha de cabeceira até alcançar o interruptor e logo pôde com satisfação constatar que estava novamente em seu quarto, sentada sobre sua cama. Graças a Deus havia sido apenas um pesadelo.

O barulho forte do trovão e o clarão absurdo de um raio, a fizeram se encolher sobre a cama, podendo ver a porta do quarto sendo aberta, e por ela cruzar um garotinho de aproximadamente quatro anos de idade, de pele morena e cabelos castanhos, que corria em sua direção ainda usando o pijaminha azul escuro, com desenhos de planetas e naves espaciais.
A criança arrastava um urso de pelúcia pela mão, conforme se apressava em direção a mãe que ainda tentava se recompor do pesadelo que tivera.

— Mamãe, estou com medo da tempestade. — Soou a voz da criança, em tom manhoso e assustado, levando o polegar destro a boca.

Samantha ainda respirava ofegante, observando o filho parado diante de si, quando abriu os braços, curvando-se sobre ele,  o trazendo até a cama, sentando-o ao seu lado. — Vem, meu amor. A mamãe não vai deixar a tempestade te pegar. — Afirmou deitando a criança, o cobrindo antes de aninhá-lo junto a si. 

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora