Estão por toda a parte!

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— Não se mexa! — Insistia aquela voz, cujo dono ainda permanecia segurando a criança com força, obrigando-o a ficar imóvel.
Seu coração batia de forma acelerada, enquanto ainda podia sentir a mão pesada contra a boca, tapando-a, para evitar que qualquer ruído escapasse.
Ainda estava completamente apavorado e podia sentir que aquele homem o apertava cada vez mais, retirando-lhe toda a mobilidade.
Se entendia o que estava acontecendo? Não, não entendia. E a única coisa que queria naquele momento, era gritar por sua mãe. Mas estranhamente, não sentia medo do homem estranho que o segurava. Ao contrário: sentia-se seguro com ele.
Aonde já havia ouvido aquela voz antes? Aquele timbre de voz áspero e firme, que mesmo naquele sussurro extremamente baixo, lhe parecia tão familiar?

Tentou virar o rosto e olhar para cima, em busca do rosto do ilustre desconhecido, mas ele lhe havia segurado com mais força, mantendo firme a mão que lhe tapava a boca,  anulando qualquer movimento.
Não entendia o motivo daquilo, até que o Wendigo que o havia perseguido, passou ao lado de ambos, os caçando desesperadamente. Porém não conseguia vê-los, já que estavam completamente imóveis.

O cheiro de carne podre invadia o ambiente, quando o Wendigo soltava gritos estridentes, e mostrava as presas afiadas, completamente manchadas de sangue e com restos de carne humana.
Teria certamente gritado, ou começado a chorar imediatamente, se não fosse por aquele homem que o mantinha seguro em seus braços, o protegendo e amparando enquanto começava a se acalmar aos poucos.
Mesmo naquele breu absoluto, ainda conseguia enxergar algumas coisas em meio a escuridão, conseguindo vislumbrar nitidamente a silhueta gigantesca e esguia do Wendigo, que caminhava pesadamente sobre a neve.
A criatura continuava os rondando, movendo a cabeça de um lado a outro, ansiosa por qualquer movimento que lhe dedurasse a localização dos dois. Todavia, nenhum deles moveu um músculo sequer e o Wendigo tornou a saltar em direção aos pinheiros até desaparecer em meio à noite.

Ainda estava apavorado, claro que estava! Mas pôde respirar mais aliviado e relaxar o corpinho miúdo, quando finalmente sentiu os braços que o seguravam afrouxarem.
Aquele homem estranho continuava ali, olhando fixamente na direção por onde o Wendigo havia desaparecido, também soltando a respiração e relaxando o corpo, em pleno alívio.

Quando J.J finalmente virou para trás, erguendo o rostinho, esboçou um sorriso largo e extremamente animado ao se dar conta de que aquele homem estranho que o havia salvo era seu pai.
Era a primeira vez que o via, fora de seus sonhos. E aquilo era absolutamente incrível, pois cresceu ouvindo dos avós, que ele havia morrido na montanha.
No entanto, ele estava ali! Vivo! O protegendo do ataque daquele monstro, ao qual não sabia exatamente o que era.

Agarrou-lhe as pernas, abraçando-as com força enquanto encostava a bochecha rosada e gorducha aos joelhos do pai, deixando evidente o quanto estava feliz por tê-lo perto.

— Papai, você existe! Eu sabia! Eu sabia! — Disse eufórico, ainda agarrando as pernas de Josh, abraçando-as como se jamais houvesse pretensão de soltá-las.

Josh arqueou a sobrancelha, olhando para baixo e podendo ver o garotinho lhe abraçando as pernas. Era estranho receber uma demonstração de carinho, depois de tanto tempo solitário na mina.
Olhou para a direita, depois para a esquerda, como se procurasse mais alguém ali. Todavia, sabia que estava sozinho com o filho, naquele lugar.
Levou a palma da mão esquerda, a cabeça do garoto, lhe bagunçando os cabelos por baixo da touca. E até mesmo esboçou um sorriso discreto, que logo desapareceu após pigarrear, assumindo uma postura mais séria. Afinal, o que ele havia feito, era absolutamente perigoso. 

— Por que saiu sozinho no meio da noite? Não sabe que é perigoso? E se eu não tivesse chegado à tempo?! — Questionou em tom sério, mesmo que houvesse mais preocupação do que repreensão em sua voz.
J.J afastou o rosto dos joelhos do pai, ainda lhe agarrando as pernas, enquanto levantava o rosto para olhar para cima, fitando o rosto de Josh. 

— Eu saí para procurar a mamãe, papai. Ela saiu com o tio Chris, e esqueceu o casaco. Aí eu saí para entregar ele para ela. Eu não quero que fique resfriada, porque eu não sei cuidar de gente doente, então quem vai cuidar dela? É ela que cuida de mim quando eu fico doente, papai. — O pequeno dizia aquilo no tom mais franco e natural possível; o que fez com que Josh desviasse o olhar.
Ele tinha razão, era sempre Sam quem cuidava de si mesma e dos outros. E até pôde se sentir orgulhoso do garoto, ainda que não aprovasse sua atitude de sair sozinho no meio da noite, ainda mais em um lugar tão perigoso. 

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora