Capítulo 5

465 53 9
                                    

    No dia seguinte, Laurel procurou recostar-se na sua almofada, encarando Harry. O rapaz parecia atormentado e ela não o podia culpar. Tinham ambos estado frente a frente com Voldemort, ou pelo menos uma fração do antigo Senhor das Trevas.

- O sangue de unicórnio está a dar-lhe forças suficientes para ir buscar a Pedra Filosofal.- afirmou Laurel, fitando Hermione, que assentiu.
    

    Tinha sido Hermione que a encontrara na floresta, a chorar. Draco chegara logo a seguir e juntos, pela primeira vez sem xingamentos de nenhuma das partes, ajudaram a ruiva a caminhar para fora da floresta, com Hagrid e os outros no seu encalço. Mais afastado de Laurel, Harry estava pálido e em choque, como se o seu pior pesadelo tivesse voltado à vida, o que levara Laurel a perceber de imediato que o Menino Que Sobreviveu estivera na presença de Voldemort, tal como ela tinha estado.
    

    Era por isso que Harry, Hermione e Ron estavam ali no dia a seguir, junto da cama da enfermaria onde Laurel se encontrava com o braço engessado mas com a mente perfeitamente lúcida e a encaixar as peças todas que eles tinham, sem dificuldade. Tinha convencido Hermione de que era tão importante para ela impedir que a Pedra caísse nas mãos de Voldemort como era para Harry, embora em nenhum momento lhe dissesse o seu motivo. Inclusive pedira desculpa por se ter afastado da menina, prometendo que lhe contaria o porquê mais tarde, quando estivessem sozinhas. Hermione limitara-se a sorrir e a abraçar a ruiva, deixando de lado o seu ressentimento para com ela e sentindo-se contente por ter a sua primeira amiga de volta. Juntas seriam com certeza uma dupla imparável, admitira.

- A Pedra está aqui, em Hogwarts, protegida por um... cão de três cabeças?- perguntou Laurel, duvidosa- Têm a certeza que é um cão de três cabeças?

- Absoluta.- resmungou Ron, olhando desconfiado para ela- Era enorme e tinha literalmente três cabeças agarradas a um corpo, não tinha nada que enganar.

- Chama-se Fluffy e é do Hagrid.- explicou Hermione, encarando a amiga- É o primeiro obstáculo para quem quiser buscar a Pedra. Há outros, de certeza. Segundo a Professora McGonagall, a Pedra está muito bem protegida.

- Eu não acredito que o Snape ande à procura da Pedra.- afirmou a menina, ajeitando o braço engessado numa posição mais confortável- Dumbledore confia imenso nele, é um dos professores em quem o meu...- parou de falar, sabendo o que ia dizer- O Diretor mais confia. E se Dumbledore confia nele, por alguma razão é.

- É o Snape!- exclamou Harry, irritado- Eu vi-o a ameaçar o Quirrell, anda pela escola a mancar como se tivesse sido mordido por um cão, só pode ser ele!

    Laurel abanou a cabeça, recusando-se a acreditar. Severus Snape era o seu professor preferido e sabia que Dumbledore confiava a sua vida aquele homem. Não conseguia acreditar que ele o fosse trair, nem por um segundo.

    A porta da enfermaria abriu-se com um rangido, anunciando a presença de mais alguém. Com um sorriso gigante, Ashley correu até à cama de Laurel, que não conseguiu deixar de esboçar um sorriso.

- Oi Ley.- cumprimentou, acenando.

- Olá Laurel! Ouvi dizer que estavas na enfermaria de novo e vim visitar-te!- a Hufflepuff sentou-se à beira da cama, alheia às três pessoas que a encaravam com curiosidade- Como te sentes? Oh não, partiste o braço?

    Hermione pigarreou, chamando à atenção da menina. Esta abriu muito os olhos ao vê-la, agarrando na sua mão de imediato e abanando-a com entusiasmo.

- Olá Hermione Granger! Muito prazer em conhecer-te, és tão inteligente! Aquele debate sobre quais as melhores raízes para curar uma dor de cabeça com a Professora Sprout? Foi incrível! Onde é que leste sobre isso? Andei à procura na biblioteca mas não encontrei nada de jeito e...

    O barulho de Ron a enterrar a cara na almofada da cama do lado fez Ley dar um salto, calando-se com o susto. O ruivo falou qualquer coisa aos gritos, sendo tudo abafado pela confortável almofada. Perto de si, Harry ria, dando umas palmadas nas costas do melhor amigo.

- O que ele tem?- perguntou Ley, de sobrolho franzido.

- Problemas em estar rodeado só por pessoas inteligentes.- respondeu Harry, a rir- O meu nome é Harry e este.- apontou para Ron, que se recompunha- É o Ron.

    Poucos segundos depois, Ron tapara os ouvidos, a cabeça quase a explodir com as quinhentas palavras que saíam da boca de Ley sobre o fantástico Harry Potter e tudo o que ela sabia sobre ele (o que se revelara bastante). Enquanto isso, Laurel apenas sorria, o coração alegre por estar rodeada de pessoas ao fim de tanto tempo de solidão. Por momentos, o seu olhar pousou em Hermione, que ria. Talvez Dumbledore tivesse razão. Talvez ela pudesse contar à Granger o seu segredo, falar com ela sobre isso. Talvez pudesse andar com estes meninos e estas meninas, ser amiga deles.

    De novo a porta abriu-se, revelando uma figura pálida e magra, com um par de olhos cinzentos frios como o inverno. Draco Malfoy ficou estático ao ver toda aquela gente à volta de Laurel, que o olhava surpreendida.

- Olá Draco.- cumprimentou-o, sorrindo-lhe, deixando de lado o choque por ele ter vindo vê-la.

    Malfoy olhou para ela, na dúvida. Ele tinha vindo saber se ela estava bem, depois de a ter encontrado a chorar no meio da Floresta Proibida pensara que ela poderia estar gravemente ferida e perturbada. Mas, ao olhar para a ruiva, constatou que estava melhor que nunca. Os seus bonitos olhos azuis brilhavam de contentamento, apesar do braço engessado e das olheiras que rodeavam os seus olhos. O rapaz tentou sorrir de volta mas a sua atenção foi desviada para Harry, que o fitava de forma desconfiada. Harry, o rapaz que detestava, o famoso Harry Potter que todos adoravam. Os dois rapazes fitaram-se mutuamente, com ódio. Por fim, foi Draco que os desviou, virando as costas a todo o grupo, ignorando o chamar confuso de Laurel.

- O que lhe deu?- perguntou Laurel, passando a mão pela cara- Eu não entendo aquele rapaz! Uma hora é irritante, outra hora é simpático, que raiva!

    Harry e Ron trocaram um olhar descrente entre si. Da sua experiência, Draco Malfoy não tinha um pingo de simpatia no seu corpo magricela e cabelos oxigenados.

- É melhor deixarmos te descansar.- disse Hermione, percebendo a perturbação da menina- Vais fazer os exames de fim de ano?

    Laurel não respondeu de imediato, ainda chateada com Malfoy. Quando se apercebeu do que Hermione falava, o seu rosto corou, de aflição.

- Claro que vou!- exclamou, desenvencilhando-se dos lençóis e pondo-se de pé de um salto- Tenho de ir estudar!

- MISS RAVEN, VOLTE PARA A CAMA IMEDIATAMENTE!- gritou Madame Pomfrey, irritadíssima- Pode muito bem estudar nos outros dias todos, hoje vai ficar a descansar e em breve vou aí pôr-lhe o braço no sítio! Dê-me um minuto!

    Laurel bufou, voltando para a cama. O pequeno grupo despediu-se dela e saiu, exceto Harry, que hesitou à porta, como se ainda lhe quisesse dizer alguma coisa.

- Harry?- chamou Laurel, fazendo o menino aproximar-se de novo da cama- O que se passa?

- Porque é que Voldemort não te atacou?- perguntou-lhe, sério.

    Hermione tinha-lhe feito a mesma pergunta e Laurel não soubera responder. Encolheu os ombros, cansada, a cabeça cheia de pensamentos. Ela não fazia ideia.

- Voldemort matou os meus pais.- disse Harry, mesmo sabendo que ela já sabia, toda a gente sabia afinal de contas- E agora quer-me matar a mim, com certeza. Mas a ti ele não fez mal. Não te atacou.- o menino fitou-a, em dúvida- Qual é a tua história com o Quem-Nós-Sabemos, Laurel?

    Laurel não respondeu. Baixou os olhos, encarando o lençol. Quando voltou a encarar o rapaz, lágrimas desciam-lhe pelo rosto abaixo, os olhos tristes.

- Matou os meus também.- respondeu, como se aquilo fosse resposta. Mesmo que não fosse, Harry não insistiu. Pegou-lhe na mão boa, dando um apertão amigável.

- Lamento muito por isso.

    Com um último sorriso, Harry foi-se embora, deixando Laurel sozinha. No peito da moça, o medalhão da Ravenclaw brilhava com um forte tom de vermelho, tão forte que mesmo pondo dentro da camisa ainda se via um pouco. Laurel aconchegou o lençol mais para cima, tapando o peito e sorrindo a Madame Pomfrey, que lhe sorriu de volta, ansiosa por tratar o braço da menina.

SAPPHIRE [1]⚡️ HP ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora