De 0 a 10, o quão brava você tá?

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P.O.V Lauren

2 semanas de treinamento na academia de polícia

- Recruta Jauregui, mais rápido, mais rápido! - a turma estava participando de um treinamento em campo, tínhamos que fazer um percurso com obstáculos enquanto tentávamos alcançar um suposto suspeito. Eu nunca me senti tão cansada em toda a minha vida, e esse era um cansaço físico e mental. O funcionamento da academia era com o objetivo de apenas sobreviverem os fortes e capazes de exercer a profissão. Foco era um dos meus principais lemas nessas semanas aqui e a cada dia de treinamento, além de cansada, eu me sentia mais preparada pra seguir minha carreira.

Após o final do dia, nos dirigimos pra o vestiário, eu tomaria um banho rápido e tinha planejado dormir na casa da Camz.

Eu tinha que admitir, mesmo que esteja só no começo do meu treinamento, eu não conseguia dar a atenção necessária pra Camila, mas eu percebia que ela estava tendo paciência por saber que eu queria muito aquilo. Espero que ela continue paciente até o final desses seis meses, eu preciso da minha menina ao meu lado.

2 meses de treinamento na academia de policia

TA TA TA TA TA TA

Eu sempre joguei muitos jogos de tiro e modéstia a parte, sou muito boa neles, mas a experiência de atirar com uma pistola real era totalmente diferente, mas aparentemente os anos de treinamento no Counter Strike me fizeram muito bem pois na categoria de tiros eu era a melhor da turma.

TA TA TA TA TA TA

- Muito bem, recruta Jauregui, muito boa pontaria, vamos ver se você continua assim numa troca de tiros onde os alvos não estão parados.

TA TA TA TA TA TA

- Ei, Jauregui, vamos ali no bar com o pessoal, hoje é sábado e merecemos depois dessa semana – olhei meu relógio e ele marcava 7:50 da noite. Ponderei um pouco mas decidi que eu merecia um pouco de diversão. Peguei o celular e enviei uma mensagem pra Camz:

"Amor, tô indo no bar com o pessoal da turma, mas não demoro, daqui a pouco eu chego aí na sua casa"

P.O.V Camila

- Puta que pariu, Lauren – eu estava sentada na minha cama com o celular na mão olhando aquela mensagem e me xingando mentalmente por estar esperando ela e ser trocada por um bar. Geralmente essas coisas acontecem com pessoas casadas depois de alguns anos, mas nós só estávamos no começo e já era assim. Senti uma lágrima escorrer mas logo tratei de enxugá-la. Eu disse que ia apoiá-la em tudo que fosse preciso, mas a verdade é que eu sentia muita saudade da minha namorada. Lauren passava a semana toda em treinamento, não podíamos nos falar durante o dia e a noite, quando ela chegava em casa, depois de poucas mensagens trocadas, ela parava de responder pois pegava no sono.

Aí chega o sábado e a trouxa aqui achava que ela chegaria e nós teríamos uma noite como namoradas normais, mas eu só achava mesmo. Depois de muito pensar, peguei meu celular e respondi sua mensagem.

"Não precisa vir, eu vou sair com as meninas"

Era totalmente mentira a parte de sair com as meninas, mas eu não queria ver a Lauren sendo que eu estava com raiva dela. Deixei o celular de lado na cama e levantei, indo até a sala e procurando minha mãe. Encontrei a casa totalmente vazia e um bilhete dela na porta da geladeira falando que dormiria na casa do delegado Prestes e que a casa era toda minha e da Lauren. Ri com a ironia daquilo e voltei pra o quarto, pegando meu notebook e voltando a pesquisar sobre os possíveis cursos que eu queria fazer.

Decidir o futuro era algo muito importante e delicado, eu sentia inveja da Lauren por ela ter certeza do que queria. Felizmente havia muitas faculdades nas cidades vizinhas e eu não precisaria me mudar, mas ainda assim eu precisava decidir algum curso e ser aceita em uma boa faculdade.

Minhas opções eram jornalismo, direito ou letras, pois livros sempre foram meus vícios, mas eu estava levemente tentada a tentar a faculdade de direito. Acho que a empolgação da Lauren com a ideia de fazer justiça me contagiou e não vou negar que me imagino num tribunal usando um lindo terninho alinhado, carregando uma pasta e provando a inocência dos meus clientes. Fui desperta dos meus pensamentos com meu celular tocando, mas suspirei quando olhei o visor e percebi quem era.

- Oi, Lauren.

- Amor? Você tá bem?

- Sim, e você?

- Eu tô preocupada, achei sua mensagem um pouco estranha, então resolvi ligar.

Um pouco estranha, né, só um pouco.

- Impressão sua. Já pode voltar pra sua diversão.

- Você tá brava, né?

Argh, ela só estava piorando a situação.

- Lauren, depois nós conversamos.

- Não, amor... Eu quero conv...

- Lauren, boa noite.

Eu sabia que me arrependeria daquilo depois, mas desliguei a ligação e em seguida o telefone. Ela tinha me trocado por um bar e estava difícil digerir aquilo. Talvez eu precisasse mesmo sair com as meninas, mas provavelmente elas estavam em algum lugar com seus namorados/ficantes/fretes ou seja lá o que for que a Mani tem com o Alex e a Ally tem com o Daniel, ou seja, o que jovens normais fazem no sábado a noite.

Minha noite acabou se resumindo em uma panela de brigadeiro e eu na frente da TV assistindo "Diário de uma paixão". Acabei lembrando que foi o que me fez começar a conversar com a Lauren, ela veio me questionar sobre o que eu estava lendo e era justamente o livro desse filme. Suspirei e levei outra colher cheia de brigadeiro até a boca, mas ouvi a campainha tocar e meu coração já acelerou, prevendo quem poderia ser. Levantei e tentei me acalmar no caminho até a porta, ouvindo mais uma vez o barulho da campainha.

- Oi, amor, posso entrar? - a Lauren estava parada na minha porta e aquela maldita era linda até quando eu estava espumando de raiva. Tentei não encarar ela e abri a porta, acompanhando ela até a sala e voltando a sentar com a minha panela de brigadeiro. Ela olhou a TV, olhou minha panela e sentou ao meu lado, respirando fundo e parecendo pensar no que falava. Eu nada dizia, apenas comia meu brigadeiro e encarava a panela, como se aquilo estivesse muito interessante.

- De 0 a 10, o quão brava você tá?

- 11.

- Eita.

- É, eita, Lauren. Você fez merda.

- Eu sei. Desculpa, amor, eu não sabia que você ia ficar tão brava, era só uma horinha de atraso.

- Ah, você não sabia, Lauren Michelle?????? EU ESPERO A SEMANA TODA PRA TE VER E VOCÊ ACHOU QUE EU NÃO IA FICAR BRAVA??????? - eu apontava ameaçadoramente a colher na sua direção e percebi seus olhos se arregalarem, mas logo me controlei e voltei a comer meu brigadeiro. Lauren estava calada me olhando como se tivesse assustada, então eu só suspirei e continuei – Lauren, é nessa hora que você tenta livrar sua barra, ok?

- Ah... ok... ok. Então, amor, eu entendo o que você está dizendo e agora percebo que errei. Eu sinto muito sua falta, eu só estava muito cansada, essa foi uma semana pesada na academia e eu queria me distrair um pouco com o pessoal, eu acabei fazendo alguns amigos lá, mas assim que você desligou o celular, eu me despedi deles e vim te ver.

Suspirei ainda sem olhar pra ela, eu sabia que aqueles olhos malditos iriam me amolecer, como sempre. Balancei devagar a cabeça e olhei pra TV que ainda passava o filme, pois eu tinha esquecido de dar pause. A cena que passava era a que Allie e Noah estavam se sujando de sorvete e se beijando. De repente meu coração apertou e minha raiva tinha sumido, dando lugar a uma carência e sensibilidade extrema. Fiz beicinho e olhei pra minha Lolo.

- Me da carinho, amor, eu tô de tpm.

Passamos o resto da noite trocando carinhos, comendo brigadeiro e assistindo filme. Uma das vantagens de namorar outra menina é que ela entende perfeitamente suas tpm's, suas cólicas, suas mudanças de humor. Minha Lauren era meu melhor remédio pra tpm, mesmo as vezes ela sendo o motivo da minha raiva. Essa mulher é realmente minha diaba, viu.

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