Lauren é minha pessoa

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P.O.V Lauren

Acordei no domingo com a sensação de vibração e quando achei a origem, era meu celular que tocava sem parar e na tela tinha o nome da minha mãe.

- Uhum... Eu sei que temos o almoço em família, mãe... Ok, eu não demoro pra chegar, não precisa gritar... - desliguei o celular e respirei fundo. Eu tinha esquecido do almoço com a minha família pela comemoração do meu aniversário. Virei na cama e vi que Camila já estava acordada e me observava com um sorrisinho e uma cara linda de sono.

- Ei, morena, bom dia – selo nossos lábios mas logo me assusto com batidas na porta do quarto.

- Camila?

- Oi, mãe? - ela responde tentando aparentar naturalidade.

- Ta tudo bem aí? Eu tava passando pelo corredor e ouvi vozes... - ela parecia desconfiava e eu já tava desesperada. Levantei rápido já procurando onde deixei minha roupa pra vesti-la e fugir, mas Camz fazia sinal pra eu ficar calma.

- Ta sim, mãe, eu tava vendo um vídeo aqui no celular, foi isso.

- Sei... Então se arruma logo e venha almoçar. - ela disse e ouvimos os passos se afastarem. Olhei pra Camila e sussurrei já me imaginando presa por abuso de menores.

- E agora??? Como eu vou sair? Minhas opções são pular a janela, quebrar a perna e ir me arrastando até em casa ou então sair pela porta e talvez receber um tiro e ir me arrastando até em casa. Acho que quebrar a perna é menos perigoso né? - ela ria e se aproximou de mim, segurando meu rosto e me enchendo de beijos.

- Eu fico me perguntando como você é tão corajosa pra umas coisas e tão frouxa pra outras. Eu vou distrair minha mãe e você sai pela porta da frente, ok?

- Estilo 007?

- É, tipo isso aí. - respirei fundo e tentei me acalmar, afinal, o plano tinha seus riscos e eu tinha que estar preparada. Troquei de roupa e vesti a minha da noite anterior enquanto a Camila repassava o plano comigo.

- Então, Camz, você vai descer e vai dizer que precisa conversar muito sério com ela, né?

- Sim, e então vou chamá-la pra conversar no quarto dela. Quando você ouvir o barulho da porta do quarto fechar, vai com cuidado mas rápido pra porta e sai, entendeu? - balancei afirmativamente a cabeça e puxei ela pela cintura, lhe dando um selinho demorado.

- Se eu morrer, saiba que foi maravilhoso cada momento com você, morena. - ela começou a me dar tapas pelo ombro e eu ria enquanto tentava segurar suas mãos.

- Não fala isso nem de brincadeira, Lauren! - eu balançava a cabeça devagar, concordando com ela enquanto domava a fera e a puxava pra um beijo daqueles que só a gente saber ter, aquele beijo com pegada e com carinho ao mesmo tempo, aquele beijo que se eu tivesse fôlego, passaria horas e horas envolvida e sem parar, mas fomos interrompidas por mais um grito da mãe da Camz a chamando. Ela saiu do quarto mas antes parou na porta e soltou um beijo pra mim, beijo esse que tratei de pegar e guardar com todo o cuidado.

P.O.V Camila

- Oi, mãe!

- Oi, filha! Que demora...

- Pois é né... Mãe, eu posso conversar um assunto sério com a senhora? - ela me olhou preocupada e logo largou a panela no fogão e se aproximou de mim na bancada.

- Claro que sim, meu amor. O que foi?

- Nós podemos ir pra o quarto? Pra o seu quarto? - minha mãe estranhou, mas apenas concordou com a cabeça, desligou o fogão e começou a subir as escadas comigo. No seu quarto, fiz questão de fechar a porta com um pouco de força pra que a Lolo ouvisse o barulho e entendesse o sinal pra ir embora.

- E então, qual o assunto importante? - eu já havia pensando em qual desculpa usar e na verdade, nem era uma desculpa, era um assunto sério que eu realmente queria falar com ela.

- Mãe, eu to preocupada com a sua saúde. Saúde mental, eu quero dizer...

- Por que?

- Mãe, desde a morte do papai, não conversamos muito sobre o que aconteceu. As vezes eu te vejo chorando e eu sei que é normal porque também acontece comigo pois sinto muita falta dele, é como se houvesse um buraco no meu peito. Mas eu não posso permitir que a gente se perca, nós temos que cuidar uma da outra, mama... - minha mãe já tinha os olhos marejados e balançava a cabeça, concordando com as minhas palavras. Levei as mãos até seu rosto e enxugava suas lágrimas enquanto as minhas caiam pela minha face.

- Eu sei, minha filha, você tem razão. É que tudo parece tão fora do lugar depois que ele se foi, sabe? Eu não pude nem me despedir, ele sai pra trabalhar e não volta mais, isso é errado em todos os sentidos, Camila, isso é tão errado! - quanto mais a minha mãe chorava, mais eu chorava junto e acabamos abraçadas e chorando mais ainda, sussurrando uma pra outra que tudo ia ficar bem e que sempre estaríamos juntas.

Falar sobre o meu pai era um assunto delicado pra mim, pois eu sempre ficava assim, então a melhor maneira que eu encontrei foi não falar sobre isso e esperar que o tempo ao menos amenize a ferida que existe em mim, mas eu sentia que precisava abrir exceção quando se tratava da minha mãe, eu faria qualquer coisa por ela. Quando voltamos pra cozinha, já estávamos mais calmas e eu fui ajudá-la a preparar o almoço, pois hoje meus parentes viriam almoçar conosco. Sinto meu celular vibrar e confiro uma mensagem da Lauren dizendo que chegou viva em casa e agora se sentia uma agente secreta. O resto do domingo foi tranquilo com minha família, é sempre bom quando estou junto deles, eu me sinto muito amada, mesmo quando todos os tios e primos estão reunidos e por algum motivo começam as discussões clássicas de almoço em família.

-

- CAMILA, VEM TOMAR CAFÉ, VOCÊ VAI SE ATRASAR!

Eu não tenho culpa se o despertador toca muito baixo e eu sempre durmo mais. Desci rápido as escadas enquanto arrumava minha tiara, logo colocando um copo de suco de laranja e sentando pra comer meu pão.

- Todo dia é isso, ein moça?

- Eu sou inocente, mama, juro. E hoje a Lauren vai passar aqui pra me pegar e a gente ir pra escola.

- Ah é? Interessante... E quando ela vem falar comigo?

- Falar sobre o que?

- Ué, o namoro.

- Mas nós não namoramos...

- E o que é isso que vocês tem?

- Algo... - senti meu celular vibrar e quando olhei, era uma mensagem da Lauren avisando que tinha chegado.. Comi o último pedaço do pão e sai correndo, deixando um beijo na minha mãe – Ela chegou, tchau mama. Bom trabalho!

-

Lauren parou o carro no estacionamento da escola e eu tentava disfarçar a conversa que tive ontem com minha mãe, mas foi em vão pois antes de eu sair do carro, ela segurou meu braço e me olhou com doçura.

- O que está acontecendo, pequena?

- Nada, Laur, eu tô bem...

- Eu sei que não tá, mas quando quiser conversar, estarei por aqui, ok? - suspirei e me ajeitei no banco, olhando minhas próprias mãos e já sentindo os olhos marejados.

- Eu sinto falta dele, Lolo, todos os dias. Ontem eu conversei com a minha mãe sobre isso, sobre como ela estava reagindo a isso tudo, e tudo que eu tentei enterrar e não sentir, voltou com tudo...

- Não sentir não é uma opção, morena. Eu não consigo nem imaginar o tamanho da sua dor, não consigo mesmo e eu sei que todo mundo deve te falar pra ser forte, mas se você em algum momento não conseguir ser forte o suficiente, lembra que você tem uma Lolo muito forte pra te ajudar sempre.

- Tenho? - limpei minhas lágrimas e levantei o rosto pra olhá-la, segurando sua mão e procurando aquele olhar de cumplicidade que logo encontrei. Aquele olhar da Lauren.

- Tem. Você tem tudo de mim.

Tem certas coisas na vida que nós sabemos que são eternas e isso inclui algumas dores. Mas também existem pessoas capazes de amenizar essas dores e capazes de nós fazer enxergar que apesar dos pesares, o sentido da vida é sempre pra frente e que podemos ser felizes de novo. Lauren é minha pessoa.  

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