Lauren é problema

485 35 0
                                    

P.O.V Camila

Segunda feira na escola evitei ao máximo olhar e falar com a Lauren, não me sentia preparada pra tirar alguma satisfação ou ter qualquer conversa com ela. Quando descobri que teria as aulas vagas antes do intervalo, passei na biblioteca e peguei um exemplar de "1984" e me dirigi até o depósito, esperava encontrar paz e solidão naquele lugar, era tudo que eu precisava. Na verdade eu já tinha lido esse clássico muitas vezes, mas acho que resolvi relê-lo para tentar entender como é possível algo ter tanto poder de manipulação sobre as pessoas. E sim, eu estou me referindo à safada dos malditos olhos verdes. Eu quero saber porque todas cedem, quero saber como ela consegue o que quer.

Foi com esses devaneios que sentei num pequeno sofá que tinha na área iluminada do depósito e me ajeitei confortavelmente para ler. Tirei um sanduíche da bolsa e após dez minutos de leitura, escuto passos no depósito, e pra minha infelicidade, enxergo quem eu menos queria ver no dia.

- O que você tá fazendo aqui, Lauren?

- Bom dia pra você também, morena. Te procurei pela escola toda, e como não achei, pensei que pudesse estar aqui. Trouxe uma coisa pra gente fazer.

- Entendi, mas eu não quero fazer nada com você.

- O que aconteceu? Por que tá me tratando assim, ein? - sentou ao meu lado e colocou a mochila no chão.

- Lauren, como você consegue? Como você pode falar comigo e mostrar ser alguém agradável e decente, mas quando tem a oportunidade, sai fudendo com a vida dos outros sem se importar com as consequências? Eu não consigo nem te olhar agora, menina. Sai daqui, por favor.

- Ei ei ei, eu não vou sair daqui até você me explicar exatamente o que eu fiz pra você me tratar assim, Camila.

- Você destruiu o namoro do meu primo, você pegou a namorada dele e provavelmente fez isso só pra aumentar seu ego e ter mais uma na sua lista, não é? Eu juro que estava começando a te achar uma boa pessoa, eu gostava da sua companhia, mas você estragou tudo, Lauren.

- Mila, eu não sabia que ela namorava, muito menos que namorava o seu primo. Me desculpa, de verdade, mas eu não fiz nada de errado. Sou solteira e pra mim, ela era também. Acho que seu primo deveria me agradecer por ter salvo ele dessa cilada que era esse namoro. Confesso que ela não significou nada pra mim, mas isso não muda quem eu sou, isso não me torna uma má pessoa.

- Que vontade de apertar seu pescoço, Jauregui. Você usa as pessoas...

- As pessoas usam umas às outras, morena.

- Não, não e não. As pessoas não devem ser usadas, não é assim que deve ser. - olhei para as minhas mãos enquanto ela sentava mais próximo de mim e segurou levemente minhas mãos.

- Morena, eu realmente sinto muito pelo sofrimento do seu primo, mas não quero que isso atrapalhe nossa amizade, não quero deixar de ter nossas conversas.

Apenas suspirei, sussurei um "Eu preciso ficar só", tirei minhas mãos das dela, levantei pegando o livro e minha bolsa e sai de la. São os olhos, eu tenho certeza. Eu olhava aqueles olhos e parecia que tudo estava bem, mesmo com a minha parte racional gritando pra mim que ela tinha feito uma burrada.

A verdade é que eu não sabia exatamente porque estava brava com ela. Eu só sabia que estava brava. Como ainda tinha muito tempo livre, voltei para a biblioteca e lá encontrei minha amiga Normani sentada em uma das mesas com alguns livros, aparentemente fazendo alguma pesquisa.

- Mani, eu preciso conversar, preciso que alguém diga que eu não estou ficando louca. - ela me olhou assustada com o jeito que cheguei e logo se ajeitou na cadeira para me dar atenção.

- Sou toda ouvidos, comece.

- Vou resumir. Sabe a Lauren Jauregui, ne? Eu comecei a ter uma estranha aproximação com ela e comecei a achar que ela era diferente daquela imagem ruim que todos tem, comecei mesmo. E ela me decepcionou, ela ficou com a namorada do meu primo George, me disse que não sabia que a menina namorava e que era melhor assim para ele, mas eu não consigo acreditar nela e eu to tão brava, Mani.

- Mila, e se ela realmente não sabia que a menina era comprometida? Se isso for verdade, você não tem motivos pra estar tão irritada e ainda está sendo injusta com a Lauren.

Passei as mãos pelo cabelo e abaixei a cabeça na mesa, falando abafado: "Lauren é problema, Mani".

P.O.V Lauren

Assim que Camila saiu do depósito, fiquei sentada pensando no que aconteceu. Aquelas palavras me magoaram, eu não esperava isso. Sei que eu e ela nos conhecemos a pouco tempo, mas era a minha palavra contra a da Kelly e ela não acreditou em mim. Eu sei que tenho uma fama, eu sei que quase ninguém acreditaria em mim, mas algo dentro de mim queria que a Camila acreditasse. O que aconteceu naquela noite pra mim não teve nenhum significado, eu só queria me divertir e foi o que a noite me proporcionou.

Depois de muito pensar, desisti de tentar entender a raiva da Camila, desisti de tentar entender a Camila. Eu tinha levado o notebook pra escola, pretendia chamá-la pra assistir Diário de uma paixão nos nossos horários vagos, achei que seria justo, já que ela me apresentou ao livro. Meu deus, por que eu tô triste com isso? É esse o problema com as relações humanas. Quando você se importa, quando você se abre pras pessoas, você é atingido, seja pelas coisas boas ou pelas coisas ruins. E eu queria voltar ao meu estado de espírito de não me importar, então sai daquele depósito e decidi filar as últimas aulas. Fui pra casa, troquei de roupa e depois de uma caminhada de 5 minutos, bati na porta do Nick, meu melhor amigo.

- Ei, minha amiga preferida resolveu dar sinal de vida? - me puxou pra um abraço apertado como só ele sabia, era muito bom ter um bom amigo como o Nick.

- Oi falsiane, tem o que aqui pra comer?

- Desista, Jauregay, isso aqui é casa de estudante, nos dias de glórias você pode até achar pizza na geladeira, mas estamos nos dias de luta.

Ri e fui até a cozinha com ele. Nick fazia faculdade em uma cidade vizinha, então ele dividia uma casa com um amigo também estudante. E a casa não negava o tipo de moradores que tinha. Abri a geladeira e tinha: água, cerveja, vodka, sachê de ketchup e maionese e dois ovos. Olhei pra geladeira, olhei pra ele, voltei a olhar pra geladeira e peguei uma das cervejas, já abrindo-a e sentando ao seu lado.

- Eu preciso te avisar antes quando vir aqui pra que você faça umas compras. Sério, que bizarra sua geladeira.

- Que tal quando você vier aqui, passar no supermercado e fazer umas compras pra minha cozinha? Ela ia amar!

- Cara de pau! - dei um murrinho no braço dele, mas logo Camila me voltou à mente e resolvi falar com ele – Eu preciso dos conselhos do meu melhor amigo...

- Ele está aqui. Abra esse seu coração gay pra mim.

E nesse clima de provocações e piadas, acabei contando toda a história pra ele que parecia muito interessado. Quando acabei, ele levantou, foi até o armário e voltou com um beck e um isqueiro na mão. Acendeu o cigarro e deu uma boa tragada antes de passar pra mim:

- Olha, minha gatinha, fica ligada que a raiva dessa mina não é normal. Ou ela é muito apegada a esse primo e tá sentindo toda a dor dele, ou ficou brava por você estar por ai beijando bocas alheias. - o olhei com uma expressão de dúvidas, dei uma tragada e senti a sensação da fumaça descendo pra meus pulmões.

- Você acha que ela tá com ciúmes, Nick? Mas ela não tá interessada em mim, nossa aproximação foi apenas no sentido da amizade, mas sinto falta dela.

- O que essa menina tem pra você ter aberto uma exceção para a luz no seu mundo das trevas, Jauregótica?

- Boa pergunta, Nick, se você a conhecesse, saberia do que estou falando.

We knowOnde histórias criam vida. Descubra agora