Eu quero mais é que o mundo se exploda

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P.O.V Vero

Eu estava perdendo minha amiga. A Lauren entrou num estado de reclusão que eu nunca imaginei ver alguém passar por isso. Já tinha se passado cinco meses desde o sequestro da Camila e desde então, nada mais foi como antes. Nosso grupo entrou no que parecia ser um luto sem fim. E eu digo luto, não pela certeza que ela estava morta, mas pela ausência dela e da sua energia com a gente.

Estávamos nos últimos meses do ano letivo e a preparação para o baile estava a todo vapor. Ao mesmo tempo que eu queria ir e levar a Lucy, eu pensava na minha melhor amiga em casa, sofrendo e chorando pela barbaridade que lhe fizeram.

Há um tempo eu fui à casa da Lauren e ela não quis me receber. Sua mãe me disse que ela passava o dia trancada no quarto e apenas saia pra escola. Durante os intervalos entre as aulas, ela sumia e assim que a última aula chegava ao fim, Lauren corria para seu carro e fugia da gente. Vinha sendo assim e eu me sentia impotente, me sentia incapaz de conversar e confortar aquela que sempre considerei uma irmã.

P.O.V Lauren

Sinceramente? Eu quero mais é que o mundo se exploda. Não ligo pra porra de baile nenhum, acho que estava bem claro que eu não iria, assim como eu não ia mais a lugar algum. Os únicos momentos em que eu saia de casa era pra ir à aula, ir ao lugares que eu costumava frequentar e ficar sozinha com a Camz, ou quando eu ia à delegacia ver o delegado Prestes. Sem que ninguém soubesse, eu e ele fazíamos uma investigação extra oficial. Na verdade, ele fazia e eu o acompanhava, mas era algo sigiloso já que ele havia recebido ordens pra encerrar a investigação, mas não saíamos do lugar, era como se estivéssemos andando em círculos e sempre voltando para o mesmo lugar.

O delegado Prestes foi fundamental para que a dona Sinu não se afundasse de vez na depressão. Se ela já não estava bem com a morte do marido, depois de todas as merdas dos últimos meses eu temia pela sua saúde mental, mas eu era a última pessoa do mundo saudável o suficiente pra ajudá-la com isso, então ele fez esse papel, ele a acolheu, ele não deixou com que ela perdesse as esperanças, ele cuidou dela como imagino que o Alejandro faria.

Algumas noites, eu abria a janela, olhava a lua e sentia meu coração apertar de uma maneira familiar. Era o aperto que sentia quando a Camz me abraçava e deitava a cabeça no meu peito. Não havia um dia em que eu não me arrependia por não ter dito que também a amava, mas eu sabia que onde quer que ela estivesse, nossas mentes e corações sempre estariam juntos.

P.O.V Camila

Eu não sabia há quanto tempo estava presa naquele inferno. Eu não sabia mais como manter a minha sanidade, eu sabia que enlouquecer nessa situação era apenas questão de tempo. Pra evitar a loucura, eu tentava focar meus pensamentos e lembranças nas pessoas que deixei pra trás sem nem dar um adeus. Pensava na minha mãe, na Lauren e nas minhas amigas. Eu tentava imaginar o quanto elas estavam desesperadas com isso e com a falta de notícias e me maltratava internamente por não pode fazer nada a respeito. As vezes eu podia sentir elas bem próximas de mim, se eu fechasse os olhos eu conseguia. Eu sentia o aconchego da minha mãe, o beijo da minha Lolo, o abraço das minhas meninas. Eu precisava daquelas coisas mais uma vez, a vida não poderia ser apenas isso, não pra mim. Não pra mim, Deus.

Austin me mantinha presa em um porão, um lugar sem nenhuma ventilação ou abertura que mostrasse a luz do dia ou sinais de outras pessoas próximas. No meu novo quarto apenas tinha uma cama, uma mesa com duas cadeiras e um estante com alguns livros, minha única ocupação durante todo o tempo. Toda manhã ele descia, levava alguma coisa pra comer e dizia que ia trabalhar pra sustentar nossa família. Era claro que ele estava totalmente desequilibrado, agindo como se eu concordasse com toda essa merda. Austin havia mudado todo seu visual. Aparentemente usava lente de contato pois seu olho estava muito claro, além de uma barba estranha, provavelmente falsa. O cabelo também estava claro e tudo indica que ele andava no meio da sociedade como se fosse um cidadão inocente.

Não sei se chamo de sorte ou ajuda de Deus, mas ele não me tocava. Eu acredito que um resto de sanidade nele falava mais alto nessas horas pois a única vez que ele tentou me beijar, eu fiz um escândalo e ameacei me matar se ele encostasse um dedo em mim. E eu provavelmente faria isso, a ideia daquele monstro me tocando, me invadindo, me violando me dava vontade de colocar pra fora toda a pouca comida que ele me dava.

Toda noite quando ele chegava do suposto trabalho, descia até o porão e me levava uma refeição, sentava e me assistia comer enquanto ele contava sobre seu dia na empresa.

Como se eu quisesse saber.

Porém eu estranhei quando o vi descer com uma sacola de comida, parecia japonesa, e na outra mão, um buquê de rosas, que ele ofereceu pra mim e sorriu daquele jeito louco.

- Pra você, minha querida, pra comemorar nossos 5 meses juntos. - não movi um músculo em direção ao buquê e muito menos o respondi, então ele apenas deixou em cima da mesa junto com a sacola- Bom, como hoje é uma data muito especial, resolvi que teremos um jantar especial, então comprei japonês.

Como não tinha muito o que fazer e eu precisava me alimentar, sentei na mesa e ainda sem falar nada, peguei meu combinado, meu hashi e comecei a comer.

- Então meu amor, hoje foi um longo dia, ainda bem que chegou ao fim e eu pude vir pra casa ficar na presença da minha esposa. Eu já te contei que o Luis da contabilidade sempre chega bêbado no trabalho? Hoje ele foi despedido e fez o maior barraco lá. Ah, eu me irritei muito com o meu chefe, ele acha que eu sou uma máquina que posso trabalhar sem parar – ele folgou a gravata e me olhou, suspirando – Eu passo o dia naquela empresa pensando em você.

Começou a sessão Gossip Girl do dia.

Não desviei os olhos da minha comida, como sempre faço, mas ao invés de continuar falando como ele sempre faz, o Austin levantou e veio na minha direção, parando na minha frente.

- Mila, eu já aguentei isso por muito tempo, mas sou seu marido e não sou de ferro, eu preciso do seu corpo, eu preciso te sentir.

Cada célula do meu organismo se arrepiou nessa hora e eu apenas paralisei enquanto percebi ele se abaixando ao meu lado e colocando o meu cabelo para o outro lado, então não aguentei e acabei falando com muita raiva.

- Você sabe o que acontece se você me tocar de alguma forma!

- Mas eu te quero tanto.. - ele beijou meu pescoço e o pânico começou a me dominar, meu corpo todo estava em alerta – E hoje é um dia especial, nós merecemos isso – ele virou a minha cadeira, me deixando de frente pra seu corpo e me dando uma vista do seu rosto coberto pela loucura da sua alma – Eu quero você, Camila!

Ele se inclinou na minha direção como se tivesse a intenção de me beijar, então o instinto falou por mim. Minha mão que ainda segurava o hashi acumulou toda a raiva, angústia, medo, desespero desses meses e eu ouvi seu grito alto ecoar por todo o porão quando um hashi foi enfiando no seu olho. Ele caiu no chão gritando enquanto o sangue escorria por todo o seu rosto. Inicialmente minha reação foi de pânico pelo que fiz, mas logo meu instinto me alertou que aquela poderia ser uma possibilidade, então aproveitei o estado dele e comecei a apalpar seus bolsos a procura da chave, mas ele percebeu e tentou me segurar. Por eu estar em vantagem, comecei a lhe dar alguns murros no rosto e na barriga, mas o golpe fatal foi um murro com toda a força que consegui no momento nos seus órgãos genitais. Ele gritava e rolava de dor no chão, então eu achei a chave no bolso da sua calça e não pensei duas vezes, sai correndo, abri a porta do porão e sai procurando a porta de casa.

Finalmente eu estava livre.

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