A primeira trombeta (Parte 2)

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Seu sorriso nervoso crescia sempre que encarava a barriga, a cada dia maior, do irmão. Kin acompanhava muito atentamente os movimentos e sons que o filhote fazia, principalmente, quando ela se aproximava dele. Parecia haver uma ligação entre eles, quando esta ia para perto o outro se remexia buscando sua atenção. O genitor sempre dizia que o feto se alegrava quando a menor começava a conversa com ele, ficava quieto prestando atenção em cada palavra gaguejada devido a ansiedade, mas o pequenino apenas ligava para a voz calma da criança, por conta disso, Kin era convidada para passar horas conversando, enquanto o irmão aproveitava para poder conseguir dormir.

Celeste passava próximo do local, então visualizou novamente a de cabelos negros deitada na cama conversando com o feto, como se este realmente prestasse atenção em suas ações nervosas. Tocou a madeira da porta, arranhando-a com suas afiadas unhas, observou atentamente a mestiça lhe olhar assustada

– Não faça barulho, o bebê fica com medo assim. – Falou a outra lhe repreendendo por desejar um pouco de atenção. Entretanto, Celeste nada disse, apenas fechou a porta com força fazendo um estrondo ecoar pelo corredor e assustar todos. Se afastou um pouco vendo seus familiares e o parceiro do seu irmão correrem para o local de onde veio o baque. Cerrou os punhos, então suspirou caminhando vagarosamente pelas escadas. Escutou os murmúrios chegarem aos seus ouvidos atentos, mas nada disse.

Saiu da casa, não sabendo o que se passava em sua cabeça, começou a puxar algumas plantas do jardim de Kin, arranhando a mão com as pontas afiadas destas, enquanto caminhava apressada até o seu lugar secreto. Como qualquer criança criativa e com um quintal gigantesco, Celeste tinha um local que ninguém conhecia, onde só ela e sua irmã sabiam onde ficava, ia para lá sempre que se sentia frustrada e, logo depois de um tempo, a outra chegava para lhe compreender, entender seus sentimentos mais profundos que nem mesmo os deuses conseguiram desvendar. Ela esperou pacientemente, as pernas juntas, abraçadas pelos seus braços, seu queixo sobre os joelhos.

Esperou, esperou e esperou.

Então, finalmente, após um longo tempo, escutou um galho ser quebrado, passos calmos pisando na grama verde, encarou a porta imaginando ser Kin a sua procura, preocupada. Entretanto, por ele não passou a irmã, tampouco um ser humano, mas uma gata prenha buscando um local confortável para de deitar. Rosnou assustando o animal, algo que não ligou.

Se levantou e notou que o bicho tinha uma das patas machucadas e sorriu maliciosamente. Um ser que não conseguiria fugir dela. Andou calmamente para perto da felina, sorrindo amplamente. O clima pesado que se instalava naquela área fazia a prenha mãe buscar socorro com os olhos, miando assustada, ameaçando com seus sons vocais e mostrando as garras. Mas nada disso foi o suficiente para afastar Celeste.

A loira chegou em casa manchada de sangue, placenta e outros líquidos corporais, alguns machucados causados por garras e dentes. Algo que não ligava, mas, mesmo assim, foi o suficiente para trazer o seu bom humor e esquecer-me, temporariamente, do que havia lhe causado estresse. Ela passou pela porta, deixando o vermelho pintar no chão enquanto andava, foi até a cozinha pegar algo passando as mãos sobre o branco da geladeira e tingindo-a, abriu-a, então pegou um pedaço grande de carne, mordendo-o completamente, em apenas uma dentada tinha arrancado quase metade do mesmo.

Do outro lado da porta, a garotinha de cabelos negros caminhava empolgada, indo para a cozinha pegar algo, algum alimento. Passou, vendo Celeste manchada de vermelho e tocou os ombros desta com delicadeza.

Foi imediatamente que a loira encarou Kin e sorriu, esperava ansiosamente algo doce vindo a outra, uma frase que demonstrasse o quanto ela estava preocupada com o seu desaparecimento. Encarou-a, os olhos brilhando levemente, totalmente atenta.

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