"Deixai aqui toda a esperança, vós que entrais" Parte 3

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Noah encarava o corpo na sua frente com lágrimas nos olhos, sentia seu estômago embrulhar com aquela imagem infernal. A ânsia de vômito consumia o seu ser. Jamais, em situações normais, teria coragem de arrancar o intestino da única pessoa que o aceitou da forma como era, tampouco sentiria satisfação ao comer todos aqueles órgãos cheios de sangue e líquidos corporais.

Sentia seu corpo tremer, seus olhos piscavam tão rapidamente que parecia estar num filme, onde as imagens iam sendo passadas uma por uma, lentamente. Arranhou um pedaço do chão, arrancando uma lasca da pedra e sentiu um bolo de sangue sair de sua garganta.

Nunca havia sentido tanto desespero em sua vida. Soltou um grito alto, que ecoou por toda a floresta. 

Hart acordou, seus olhos viram uma feroz besta negra de pelos brilhantes e sedosos encarando-o, com belíssimos orbes azuis, os quais pareciam lhe analisar, famintos. Reconhecia aquele olhar. Tentou se aproximar, mas foi parado com um alto rosnado e sons de garras quase rasgando o chão duro. Deu um passo para trás ao ver os dentes afiados mirando-o, além da saliva que escorria, sedenta, pela boca do animal.

— Noah, sou eu, por favor — disse Hart assustado com aquela atitude inesperada. Sinceramente, tinha que admitir, não conhecia nada sobre a cultura do seu amado, mas jamais desistiria de tentar a compreender, pelo bem de Noah. Estaria ao lado dele mesmo após sua morte.

A fera rosnou e saltou sobre o humano, fazendo este cair com tudo no chão, desviando de cada investida que o namorado dava contra seu pescoço. Iria morrer daquela forma. O loiro socou, com uma pedra grande, a face do animal, então, o chutou para longe e correu para perto deste, buscando algo para estancar o sangue.

— Espera aí, Noah, eu já vou te ajudar — sussurrou puxando algumas plantas e começando bater elas, fazendo uma pequena pasta, passando-a sobre o ferimento do seu amado. 

Escutou o animal rosnar, então, se levantou rapidamente, mas foi novamente derrubado pela besta, batendo sua cabeça contra o chão. 

Noah brandava em meio aos altos uivos, sentia-se totalmente tomado por uma fúria monstruosa. Aquele não era o garoto doce de sempre, era algo preso, um monstro tenebroso tentando desesperadamente sair. Os lobos mostravam, com sinceridade, que todos carregavam um ser obscuro dentro de si. 

Hart conseguia sentir a respiração pesada sobre seu pescoço. Soltou um suspiro, mesmo aquele monstro querendo o devorar, ainda era seu namorado e sentia certa excitação em situações perigosas. Talvez, quem sabe, tivesse a batido a cabeça com muita força. Acariciou os pelos do animal escutando-o esbanjar. Sorriu calmo e continuou. Se iria morrer, ao menos, que fosse ao lado de quem amava.

A besta rosnou e tentou morder seu braço, mas foi surpreendida quando o outro mexeu os pés, sem querer, contra sua intimidade, atiçando-o. O lupino se calou e farejou o humano, rosnando sempre que este se mexia. Hart virou-se tentando fugir, mas foi impedido pelo animal, que segurou sua cintura com força. Não iria ceder sua posição daquela forma.

Noah lambeu o seu pescoço levemente, apertando seu quadril, cravando as garras em sua roupa, machucando sua pele levemente. Os dentes roçaram sua nuca de forma deleitosa, fazendo-o soltar um gemido baixo, que não passou despercebido pelo companheiro. 

— Não faça isso — ditou virando-se. Hart engoliu seco ao ver os olhos brilharem ansiosos em sua direção. Conseguiu ver a saliva transbordar pela boca gigantesca. Se afastou um pouco, então, de forma calma falou — não seria melhor você estar na sua forma humana?

O lobo nada disse, apenas avançou, puxou o corpo para perto e se posicionou. Infelizmente as calças do humano o atrapalhava. Rosnou e farejou até a virilha do companheiro, esbravejando quando viu o tecido preto. Iria rasgar aquilo, porém foi parado pelo outro que segurou seu rosto e beijou seu focinho. 

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