"Deixai aqui toda a esperança, vós que entrais" Parte 1

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◯ - Quebra de personagem, ou seja, os personagens estão no mesmo cenário, logo estarão no mesmo cenário, ou estão interligados por algum motivo.

⦽ - Quebra no tempo, é um tempo mais avançado, há mudança de personagem e cenário.


Lília olhava aquela cena desesperançosa, alguém tinha ouvido, mas ninguém estava chegando, seu bebê estava ali naquele altar e o avô Benjamin estava prestes a cravar a adaga no recém nascido, o sogro a segurava com firmeza por mais que a jovem bruxa não tivesse forças para se soltar, sentia a vida lhe deixando junto com a sangue que deixava o seu corpo. Estava pálida e fria, tremendo. Nem gritava mais.

— Você vai ver querida. — ouviu a voz esperançosa de seu sogro — Eles vão voltar. Irina, Anna e o nosso Ben.

Apenas as lágrimas caiam pelo rosto de Lília, enquanto ela tomava suas forças para dizer a verdade ao homem.

— Eles não vão voltar. Ele mentiu para você. Para que elas pudessem voltar, deveriam ter sido iniciadas como Ben foi. — ergueu a cabeça e olhou para o homem — Ele te enganou.

— Você não vai me impedir de ter a minha família de volta.

A jovem abaixou a cabeça e suspirou, nunca foi tão próxima assim do pai de Ben, não fazia ideia do que o tiraria daquele transe. Fechou os olhos e apenas teve fé de que a ajuda estava chegando. Neste momento o idoso começou a invocar os ancestrais, o céu, antes escuro, tomava um tom vermelho alaranjado, sons de lanças de metal tocando o chão podiam ser ouvidos de dentro do círculo de fogo.

Neste momento ouviu uma voz em sua mente, uma voz de criança que ela desconhecia.

— Eles não vão passar pelo fogo.

— Eles não vão passar pelo fogo — dizia Atlas, olhando o círculo de fogo no meio da fazenda — Eles não podem...

Dr. Kauffman olhava a cena impressionado, o céu havia mudado de cor, não sabia dizer se haviam mais pessoas ali, mas conseguia sentir outros seres ao seu redor. Não sabia dizer se realmente queria ver o que estava naquele ambiente, infelizmente não tinha tanta sorte, um raio atingiu o local iluminando a região escura com um relâmpago, o que permitiu que Kauffman visse as figuras envoltas em sangue, trajadas com ossos e sem expressão. Se aproximou do garoto o mais rápido que pôde, porém o menino parecia estar em outro lugar de sua mente. Estava outra vez imerso no mundo de suas recordações.

Atlas voltou ao quarto e após tomar um banho, decidiu sair e olhar a lua. Depois da atrocidade que seu irmão realizou, o jovem bruxo decidiu que não seria uma boa ideia deixar o governante sozinho e o principal, com a fama de assassino de crianças. Tomou a culpa para si, na condição de que o irmão jamais tentaria algo do tipo novamente.

Durante seu passeio, viu um cervo passar entre as colunas de uma construção, andou até o animal em meio a penumbra e o tocou, acariciou sorrindo, neste momento sentiu algo atravessar suas costas, perfurando seu coração, sentiu aquela dor excruciante dilacerar o seu músculo cardíaco. Caiu sobre uma pedra e em seus últimos minutos de desespero, ouviu passos se aproximarem e viu a constelação de hydra no céu.

Atlas estava ali, diante da cortina de fogo com uma dúvida terrível. Foi claro com seu irmão sobre os rituais do livro vermelho. Sabia que se tocasse no fogo toda a verdade viria a tona, porque voltou naquela forma fraca? E o principal, quem foi seu executor. Temeroso, ergueu as mãos e tocou nas chamas, sentiu apenas o calor da chama e não o ardor. A cortina se desfez a frente de Atlas e então ele adentrou acompanhado por uma coruja que aproveitou a abertura e deu um rasante acima da cabeça da criança.

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