A última praga (Parte 2)

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Gray contava calmamente as facas, que tinha guardado em seu estojo. Precisava prestar bastante atenção para que tudo desse certo. Estava esperando todos se aproximarem para ele determinar as ordens. 

Um som tranquilo de crianças brincando, o vento passando pelas árvores verdes daquele local, os pássaros cantarolando de forma deliciosa. Tudo tinha encontrado um ponto de equilíbrio ali. A violência contra mulheres e homens tinha diminuído de forma surreal, a comida, que antes era escassa, estava conseguindo ser repartida entre a população — agora não só os fracos e desprovidos de status tinham que trabalhar —, tinham, finalmente, conseguido expandir o território e, para somar, conquistado novas tecnologias, o que provava que uma boa gestão conseguia modificar muitas coisas e, principalmente, que um líder deveria ser um exemplo para os seus seguidores. 

Estava tão distraído, aéreo em seus pensamentos, que apenas conseguiu ver as milhões de pessoas juntas quando foi chamado pela moça de cabelos ruivos, Alice.

— Perdão — Comentou à garota e logo virou-se para os outros sorrindo animador. — Estamos aqui hoje para ajudar essa pequena criança lupina, outrora expulsa por Regulares, de volta para a alcatéia dela em segurança — iniciou, via algumas caras de espanto, nojo e insatisfação no meio da multidão curiosa, então, continuou — Por anos vivemos nos escondendo. Vivemos séculos de intolerância e medo, onde nós, o grupo mais forte, acabamos cultivando um ódio por aqueles que eram contra nossos pensamentos; e, principalmente, matando seres indefesos, como esse pequeno lupino que nada estava fazendo além de fugir de outros que, igual a nós, estavam cometendo um genocídio.

Os grupos de caçadores, que no passado foram tratados como animais pelos amigos do antigo líder, sentiam-se, enfim, representados naquele jovem de sorriso sincero e simpático, o qual os dava motivação para seguir adiante. Os mais fortes, os quais eram uma minoria, apenas conseguiam soltar alguns resmungos de insatisfação, reprimidos pela onda de emoção do povo.

Gray encarou tudo aquilo como o início de um novo começo. Sorriu mais ainda, sendo abraçado por Noah. Então, sem quebrar o clima, finalizou. — Esse é um novo tempo, uma nova era, iremos refazer tudo de forma correta, sem intolerância e sem medo. Faremos um mundo melhor. QUEM ESTÁ COMIGO? — Gritou ansioso recebendo gritos de seus aliados, todos concordando com ele. Sorriu, novamente, então começou a declarar as ações de cada membro, separando os mais debilitados dos mais capacitados, dando ordens de acordo com as limitações de cada pessoa. 

Poderia sair daquela sociedade por um tempo, totalmente cronometrado, para conseguir fazer o seu trabalho e retornar à base. Se desse tudo certo, nenhum caçador voltaria ferido, no máximo com um arranhão, uma dor na musculatura de tanto andar, ou um tapa caso tentasse acasalar com uma lupina e a mesma não deixasse. 

Sorriu ao ver Noah abraçar Hart na frente de todos, as alturas totalmente diferentes acabavam criando um contraste enorme e, para aqueles que não eram íntimos, acabava fazendo parecer que o lupino era séculos mais novo em comparação com o loiro. O garoto se segurou no pescoço do outro, colocando suas pernas ao redor da cintura do mesmo e sussurrando palavras de gratidão, além de algumas informações pessoais sobre o estado deles. Seu amigo lhe encarou pedindo, de forma muda, um momento para se retirarem e para conversarem sobre aquele assunto tão delicado, o que foi concedido sem qualquer pestanejar. Enquanto esperava os dois braços, direito e esquerdo, retornarem, ficou designando ordens e sanando dúvidas, além de outros problemas diários da população. 

— Gray… — Sussurrou o amigo com Noah, em sua forma lupina, nos braços. As orelhas felpudas do Ômega estavam abaixadas, junto com o olhar sem vida e a cauda entre as pernas, o menino não havia gostado daquele bate-papo. 

O caçador passou as mãos sobre a cabeça do lupino tentando transmitir conforto para ele, o que não ajudou muito. Hart também parecia um pouco frustrado com aquela conversa. 

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