O INCAPAZ - História de Joabe e Natalie

3.2 ♿

  Ela não voltou para cama. E eu não posso, simplesmente ir atrás dela. Me encontro bastante cansado e tudo isso pode resultar em mais brigas.

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  Amanheceu. Mais um dia de uma rotina cansativa, de consciência pesada, de estresses, de cargas. Foi um das piores noites da minha vida. Nem consegui pregar os olhos.

— Bom dia, querido. — minha mãe deposita um beijo em minha testa. Ela aparentava não saber o que estava acontecendo. Seu semblante era calmo.

— Onde está... Bom dia. — suspirei. Eu não queria perguntar, mas a preocupação e o arrependimento era maior.

— Natalie? Estranhamente dormiu no sofá. Acordou super cedo e já saiu. — explica.

— Saiu...?
Meu coração estava apertado.

— Trabalho. Ela explicou que teria que chegar mais cedo, pois o seu chefe marcou uma breve reunião e um café super importante com uns sócios. — explica com um sorriso singelo no rosto. Mas... O quê?!

— Hum... Reunião... Café... Chefe... Entendi.

  Estava começando a pensar na possibilidade daquele infeliz a roubá-la de mim. Ele mexeu com a mulher errada, na hora errada e no estado errado de um ser humano!

Pego meu celular dentro do bolso e ligo para minha sobrinha. Perdi a fome.

— Oi, bom dia para o tio mais lindo do mundo. — imaginei um suposto sorriso saindo de seus lábios. Aquela voz me acalmava tanto.

— Mah, eu... Estou nervoso. — suspirei. — Estou com muita raiva, vontade de quebrar tudo. Estou com ódio, com medo... Confuso...

— Calma, calma... Faz o seguinte, vá para um ambiente silencioso. Um lugar onde você se sente bem.

  Enquanto a mesma ditava, manobrei minha cadeira até o jardim.

— Presta atenção. Está tudo bem, hum? É só mais uma crise. Você está ansioso e nervoso, mas isso faz parte. É natural do ser humano. Não ache que virou um monstro por sentir. Agora, apenas puxe pelo nariz e solte o ar pela boca.

Fiz o que a mesma pediu.

— Isso. Agora, me diz o que está se passando. Quer desabafar?

— Eu... Eu queria muito, Mah, mas a van do meu trabalho acabou de aparecer. — disse, triste.

— Tudo bem. Nos falamos mais tarde caso se lembre de mim. Vai ficar tudo bem e lembre-se: não tome nenhuma decisão quando seu estado emocional estiver assim. Beijos.

  Horas mais tarde, todos se reunem na cantina do prédio para almoçarem.  Eu, praticamente, era um dos poucos deficientes que existe na empresa. Eu era o único de cadeira de rodas. Todos conseguiam se mover facilmente.

Meu celular vibra. Tirei depressa do bolso, achando ser ela. Caio.

— Diga. — falei.

— Estava pensando em passar o final de semana com você. Estou indo visitar colega de longas datas e devo passar por aí. — disse.

— Estou mesmo precisando de você. — suspirei.

— Aconteceu alguma coisa, mano?

— Sim... Eu e Natalie estamos passando por grandes conflitos. Sabe quando eu te contei que às vezes sinto vontade de ficar isolado? Então... Estou tendo crises de ciúmes e não suporto quando ela começa a falar a todo momento sobre nossa casa. Fico irritado. Caio, você sabe que sempre amei essa garota, por mais que no começo eu tenha negado. Depois do acidente, uma parte de mim a ama muito. Quero dizer: eu acho que isso é amor. Mas tudo me deixa irritado. É por isso que minha mãe não conversa muito comigo, porque ela sabe que vai chegar um momento em que vou gritar e manda ela calar a boca. — confessei.

— Sua mãe não conversa muito com você, porque ela sabe da sua situação. Isso foi conversado. Então, acho que com sua noiva não deveria ser diferente. Natalie é uma garota muito compreensiva. Tenho certeza que vai entender.

— Tudo bem. Mas não é isso que me preocupa... Acho que nossa aproximação me deixou desacostumado. Ela começou a trabalhar e ontem meu patrão foi fazer uma doação para clínica em que ela reside... A encontrei conversando com seu "supervisor"... Caio, se você visse a forma em que ele a olhava... Natalie é tão ingênua. A Igreja deixa as pessoas assim? — perguntei, indignado.

— Existe um fato: as mulheres sabem quando um homem está gostando dela. Tem umas que a chegam a se iludirem com a educação, mas no fundo, elas sabem. Todos nós sabemos que sua noiva tem experiências com homens. E, também, sabemos que ela te ama. Você precisa confiar nela.

— Eu confio!! O problema é aquele loiro aguado! Não quero que ninguém a tire de mim. Natalie é muito bonita e sei até que ponto um homem luta para se ter algo que já pertence a alguém.

— Caro amigo, não faça besteira. Eu aconselho que se acalme. Não deixe sua mente brigar com você e depois a chame para uma conversa. Tenho que ir. Fica com Deus.

— Beleza.

Coloquei o celular no bolso.

— Ei?!! — chamei um rapaz que parecia estar com pressa. Ele estava carregando um buquê. — Você... Trabalha... — apontei para sua farda.

— Sim.

— Fazem entrega para qualquer lugar?

— Sim, senhor.

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*Natalie*

  Eu vim trabalhar apulso. Não queria estar aqui, demonstrando ser quem não sou e o que não sinto.
  A pior coisa é você gostar de trabalhar com pessoas, de fazer o dia de alguém feliz, sendo que o seu interior está gritando.

— Doutora? — Reynaldo, o porteiro vem ao meu encontro com um buquê em mãos.

— Sim? — abro um sorriso singelo.

— Chegaram essas flores para a senhora. — me entrega. Coloquei a prancheta sobre o balcão e a coloquei em meus braços.

— Que lindas! Obrigada, Naldo. — agradeço e ele se retira. Procurei o cartãozinho, que dizia:

"Fui um idiota. Não preguei os olhos essa noite, pensando em você. Por isso, quero que aceite jantar comigo. Um carro vai pegar você em casa, às sete e quarenta. Te amo."

Me peguei sorrindo.
Ah, Senhor, me dê forças para suportar essa dupla personalidade do meu noivo.

— Uau! Que lindas. — Maurício admira as flores. — Eu amo flores, principalmente a Begônia. Seu noivo tem um excelente gosto.

— É... Estou descobrindo o nome dessa espécie agora, mas... Adorei. Elas são lindas.

— E se adaptam facilmente canteiros, aos jarros com água... Você não vai ter muito trabalho com ela, mas sugiro que pesquise um pouco de como cuidá-la. — explica.

— Bom... Obrigada pela dica. — sorrio espontaneamente.

— Por nada... Não sei se é impressão minha, mas acho que seu noivo não gostou muito da minha pessoa. — disse, sem jeito.

— Ele é assim. Mas se conhecê-lo melhor, vai perceber que não é nada daquilo que pensou. Joabe é um amor de pessoa.

— Bom... Então vamos aproveitar que estamos em horário do almoço para me explicar como o conheceu. Vou adorar saber.

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“Meu filho, siga os meus conselhos
e grave na memória as minhas
instruções.”
Provérbios 7:1

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