O INCAPAZ - História de Joabe e Natalie

3. Formatura ♿

   Passei o dia no trabalho com o sentimento de culpa e muito estressado. Eu precisava voltar a falar com Natalie, mas tenho medo de como deve me tratar. Com certeza está tão chateada quanto eu.
   Finalmente chegou meu horário de ir para casa me arrumar. E assim fiz. Minha mãe me ajudou com o terno. E depois corremos para o espaço.

  Tudo estava completamente enfeitado com flores e cristais. Os formandos ainda não foram chamados. Sentei em um lugar que ela não poderia me ver. Quero fazer uma surpresa.

— Filho, é bem provável que por não te ver, não consiga discurssar.

— Ela vai conseguir, mãe. Natalie é forte e concentrada. — me mantive na mesma posição.

— Ainda acho isso uma péssima ideia. — murmurou.

  Minutos depois me encontrei com os pais delas e expliquei meu plano. Eles meio que discordaram, porém consegui convencê-los.
  As horas haviam passado rapidamente e logo os formandos começaram a ser chamados.
  Meu irmão, minha cunhada, minhas sobrinhas, Diego, meu pai, minha mãe, meus sogros e os amigos de Natalie sentaram bem perto do palco. 
  É bem impossível não reconhecer uma cadeirante no meio dessa multidão, porém procurei um lugar totalmente isolado.

  Depois de, mais ou menos, uma hora, chegou o momento da entrega dos diplomas. Ao subir ao palco, seus olhos vagavam em todo o espaço à procura de alguém. Coitada.

— Natalie Carter.

(Aplausos)

— Bom, como tem um pouco tempo para falar... Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, depois aos meus professores, meus pais e também a uma pessoa que gostaria muito que tivesse presente aqui nesta noite. É uma pessoa muito especial para mim, que me motivou muito a chegar a esse patamar. Se não fosse Deus usando seus lábios, eu não teria terminado esse curso. Talvez a pessoa não saiba, mas foi ela quem me deu motivações para que eu concluísse. Me lembro que já me peguei perguntando a Deus o porquê não conseguia desistir. Por que eu não conseguia trancar? Eu tinha amor pela fisioterapia, mas parece que... Não tinha sentido. Até alguém que eu amo muito perder... O movimento das pernas. — disse a última frase com a voz embargada. Meus olhos umedeceram. — Foi a partir daí que vi a resposta de Deus. Quero que todos saibam que tudo tem um propósito. E no dia em que essa pessoa conseguir recuperar esses movimentos, espero poder compartilhar com vocês. Os médicos disseram que só um milagre para ele recuperar, mas acho que esse homem não sabia que existe um Deus que vai além da medicina. Obrigada.

  Tenho que admitir que a fé de Natalie é muito bonita. A forma apaixonada que ela fala de Deus, como ela expressa que acredita no seu poder é incrível! Eu queria poder acreditar como antes, mas assim como eu não sinto minhas pernas, perdi o sentido de todas as outras coisas.
  Vi ela abraçar sua família e meus pais. Até meu pai abraçou ela. Esse homem não tem jeito. Não me importo com isso. O grande problema é se foi verdadeiro.
  Me concentrei na leitura labial e a vi falar "Ele não veio". Em seguida as lágrimas rolaram sobre sua face. Minha mãe a abraça novamente e meu pai me lança um olhar repreendedor. Seus lábios diziam: "Dá para parar com a palhaçada?"

  Ignorei aquela pergunta e lancei um olhar mortal, dizendo que se ele contasse, iria se arrepender.
  O baile começaria daqui a pouco. E era lá que me revelaria.

💕 (...)

  Minha mãe a todo momento vinha ao meu encontro, dizendo para que eu aparecesse, pois Natalie dizia que não estava fazendo mais sentido estar ali.

— Se a senhora ficar a todo momento levantando, ela vai desconfiar. — a repreendi.

— Eu sei meu filho, mas a garota não para de chorar e quer porque quer ir embora!

— Eu vou aparecer agora, mas só se a senhora sentar e ficar quieta. — disse calmo.

— Vê se não demora, pois seu pai está prestes a abrir a boca e dizer que você estava aqui desde quando começou. — ela se retira, furiosa.

  Essa era a hora perfeita. Acabou de ser anunciado que a dança cerimonial começaria. Todos se levantam, menos ela, que limpava os olhos com um lenço.
  Empurrei a cadeira até sua mesa.

— A senhorita me concede essa dança? — perguntei com um sorriso torno, enquanto a mesma arragala seus olhos claros.

— J?! Meu amor... Você... Você...

— Desde quando a formatura começou. — afirmei. — Acha mesmo que iria perder de ver minha garota vestida nesse tecido? Você está maravilhosa, Naty. — aproximei seu rosto do meu e selei nossos lábios.

— Eu... Eu...

— É melhor você não dizer mais nada. — sugeri. — Eu amo você, Natalie. — dessa vez ela quem me beija.

— Eu tenho o melhor noivo do mundo. — disse emocionada. — Já estava pensando em passar alguns dias na casa de seu irmão, pois me deixou bastante decepcionada.

— É? — perguntei brincalhão. — Então quer dizer que preferia dormir num quarto de hóspedes, sozinha, do que com o bonitão aqui. Não é me gabando não, mas até cadeirante sou um gato! Pode admitir.

Ela solta uma gargalhada.

— Algumas meninas, quando eu estava escondido ali atrás, não paravam de me olhar. — continuei.

— É mesmo? — pergunta com ar de riso. — Mas, agora, todas elas sabem que você têm dona. Que você tem a noiva mais encantadora deste mundo, que em breve estaremos ela nossa reunião e nossos filhos no caminho de Deus.

  Uma fé tão bonita e não merecida para alguém que pode a machucar a qualquer momento. Só sei que não consigo ficar longe dela, porém não sei mais o que sinto.

— Sabe que essa ideia de filho é complicado para mim. — tentei não transparecer minha irritação. — Queria poder dançar com você agora, princesa.

— Mas é claro que lhe concedo essa dança. — ela levanta.

— Não, não, Natalie. É ridículo estar sentado numa cadeira, enquanto você está de pé! — indaguei.

— Deixa de ser ignorante. — revirou os olhos e empurrou minha cadeira. A mesma parou no centro da pista e  estendeu minha mão. — Você é meu príncipe encantado. Eu passaria o resto da minha vida dançando contigo... Eu te amo.

  Enquanto eu permanecia intacto, no mesmo lugar, Natalie mexia seu corpo lentamente, fazia alguns rodopios por detrás da minha cadeira e isso era muito chato, porque eu não podia acompanhar seus passos.

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“Seu corpo humano e fraco morreu
na cruz, mas agora ele vive pelo poder grandioso de Deus.”

2 Coríntios 13: 4

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