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  Amanheceu. Pelo menos é isso que o ponteiro do relógio me mostra, pois nesse quarto não se tem uma janela para que eu possa ver o céu.

8:45am

Daqui a quinze minutos receberei alguém. Estou tão ansioso. Será que ela vem? Eu sinto que não.

— Bom dia. — o doutor adentra no quarto.

— Bom dia. — murmurei.

— Precisa tomar um banho, mas antes teremos uma conversa. — ele senta na poltrona a minha frente. — Seu pai me contou que você tem uma deficiência nas pernas, mas os exames não me mostram isso. O que, de fato, aconteceu?

  Conto ou não? Eu queria tanto fazer uma surpresa para minha família.

— Eles não mentiram. — engoli o seco. — Mas, milagrosamente, fui curado. Porém não quero que conte isso a minha família. Quero... Fazer uma surpresa. Sei que não posso receber mais de uma pessoa, mas quando esse momento chegar, será que pode me dar o privilégio de liberar a entrada de todos eles?

Ele abre um sorriso singelo.
— Claro! É... Um verdadeiro milagre. Não duvido do que eles me falaram, mas é que temos conosco os papéis que comprovavam a sua deficiência. Dois anos... É incrível! Sorte a sua.

— Não foi sorte. — sorri, desinteressado. — Sempre foi Deus.

Depois de alguns minutos, fui levado para o banheiro. Tomei um banho quente e logo a enfermeira me trouxe para o quarto, na cadeira de rodas. Jônatas me aguardava com um olhar ansioso, sentado na poltrona.

— J! — contém as lágrimas, levantando-se.

— Oi. — sorri.

As enfermeiras me ajudaram a sentar na maca. Tenho que me transformar em um grande ator e não mexer minhas pernas.

— Irmão... — se aproxima, me abraçando. — Eu tive tanto medo. Tanto! Te amo.

Sorri em meio ao abraço.
— Eu também, Jonny.

— Mas isso não significa que quando estiver cem por cento recuperado não lhe darei uma bela de uma surra. Onde estava com a cabeça?! — segura meu rosto. — Se acontecesse aquilo que pretendia, não sei o que seria de mim, J. Você é importante para mim. Me prometa que não vai tentar fazer isso, de novo!

— Eu prometo. — curvei a cabeça. — Me desculpa. Não sei o que deu em mim. — confessei, enquanto ele beija minha testa.

— Quando o papai me contou o que de fato aconteceu, você não tem ideia de como foram meus dias. Eu sei que meu Pai Celestial não iria permitir que nada de mal acontecesse a você, mas a todo momento cogitava a cena em que tirava sua vida. É frustrante, J.

— Eu não queria chamar atenção. Juro.

— Sei que não... Só não faz mais isso. — implora.  — Tenho que ir, afinal todos querem te ver.

Todos? Será que Natalie também está aí?

Minutos depois, minha mãe adentra no quarto super emotiva. Trocamos alguns carinhos e sabia que a mesma seria a única a tocar no assunto de Natalie.

— É complicado. — suspira. — Durante esse mês, ela trabalhou forçado. Mas sempre quando chegava do trabalho, ligava para saber informações do seu estado e hoje não foi diferente. Jônatas contou que finalmente você acordou. Ela ficou feliz. Entretanto, alguns dias antes foi lá em casa para ter uma conversa comigo e seu pai... — pigarreia. — Eu prefiro não comentar, porque a mesma disse que precisava falar com você pessoalmente. Seria muito covarde da parte dela não lhe dar explicações.

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieOnde histórias criam vida. Descubra agora