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Natalie

Acordei e não recomendo. Estou com uma cólica miserável e ainda estressada, sensível... Droga! Tomei um remédio para aliviar minha dor, mas ainda sim está pinicando.

— Bom dia! — Monique aperta meu braço, eufórica.

— Amiga, não faz isso. — tentei não ser seca, mas não consegui. — Estou muito estressada. Sei que não tem nada a ver com os meus problemas, mas hoje acordei com uma cólica miserável. Já tomei remédio e ainda sim, continuo com uma sensação de que não darei conta do serviço. Sabe, o fluxo está intenso. Terei que ir ao banheiro de dois em dois minutos para verificar se está ok. — recuperei o fôlego.

— Entendo. Pensei que tinha brigado com Joabe. — ajeita seu jaleco.

— Não... Também não quero conversar. Não quero descontar minha angústia, meu estresse e minha falta de sensibilidade sobre ele.

  A verdade é que esse período me deixava totalmente desequilibrada. É incrível minha incapacidade de fazer qualquer coisa! Meu corpo só pede cama.

— Por que não pede para Maurício te liberar? — sugeriu. — Sei que ele estava muito chateado pelo fato de você estar faltando por conta de Joabe, porém isso já tem dois meses e desde então, nunca mais faltou.

— A questão não é essa. Quantas mulheres trabalham aqui e ainda que esteja passando por esse momento não reclamam de ter que trabalhar? Seria injusto. — protestei.

— Acontece que seu fluxo é diferente. Bom, pelo menos esse mês. — esboça uma expressão confusa.

— Posso saber o por quê as madames não se direcionaram aos pacientes? — Maurício surge atrás de Monique. Revirei os olhos e apertei uma perna contra a outra.

— Digamos que minha amiga está com probleminha. Coisa de mulher. Se é que me entende.

Monique carregava puro sarcasmo em seu tom de voz. Ela não tem jeito.

— E...? — desdenhou.

— Ela está indisposta. Acontece que o fluxo desse mês veio mais potente do que os anteriores. — explicou e ele fez cara de nojo.

— Dra. Carter, a senhora está em condições de trabalhar? Porque se não estivesse, não estaria aqui, certo?

— Sim, mas acredito que não deixaria que eu faltasse. — suspirei.

— Não faço isso por minha vontade e, sim, porque existe uma autoridade maior acima de mim. Então, qualquer falta de funcionários do meu grupo é cobrado da minha pessoa. Seu registro de faltas ainda é razoável, mas pode gerar desconto de salário se continuar com essas desculpas. O que devo justificar em sua saída? — seu tom agora muda para preocupado.

— Indisposição. Juro que não é drama. Quando o senhor encontrar uma companheira, verás o quanto é difícil.

Por alguns segundos senti minha visão escurecer, mas logo despertei. Só conseguia ouvir as vozes de Maurício e Monique perguntando se eu estava bem, mas nada fazia sentido. Vejo ele me carregar no colo e me levar para a sala de emergência. A atenção dos outros funcionários é voltada para mim.

— Natalie? Dra. Natalie? — o clínico geral apontava a lanterninha na bola dos meus olhos. Aquilo me incomodou. — A senhorita consegue me ouvir?

— Sim. — respondo com muita dificuldade.

— Vou pedir para que a equipe médica te examine. Caso te liberem, lhe darei um atestado de cinco dias.

Disse se retirando junto com Maurício e fiquei sobre os olhares de Monique.

— Devo mandar uma mensagem para Joabe? — pergunta.

— Não acho que seja uma boa ideia. Ele ficaria preocupado e não desejo falar com ninguém. — fechei os olhos, cansada.

— Sinto muito amiga, mas você tem um marido possessivo, romântico, impulsivo demais para esconder uma coisa dessa. Vai que ele lhe manda chocolates? Se não quiser, eu como tudinho. Bye. — deixa um beijo em meu rosto e sai às pressas. Nem deu tempo de protestar. Não queria abrir os olhos. Havia preguiça até de fazer isto.

  Acordei num ambiente diferente. Tentei lembrar do que havia acontecido, mas minha Indisposição era tamanha. Eu estava no quarto de Joabe.

— Ah, acordou! — Rebeca adentra, carregando consigo uma xícara. — Trouxe chá. Vai acalmar esse teu fluxo.

— Sinto que fui atropelada por um trator. — resmunguei.

— Pois você acabou pegando no sono antes da enfermeira te avaliar. São uma hora da tarde e seu marido não para de ligar para saber se já acordou. — me entrega a xícara. Tomei um gole com medo de queimar minha língua.

— Não estou com vontade de conversar. Os médicos, pelo menos, disseram o que causou essa falta de disposição?

— A senhorita não está se alimentando direito. Posso saber o por quê?

— Não sei. Tristeza? — crispei os olhos e ela fez o mesmo.

— É a saudade, não é? Sei que não está sendo fácil para nenhum de vocês, mas precisa se alimentar. — pegou minha outra mão e acariciou.

— Ontem eu não tomei café, por preguiça e hoje acordei sem fome ou, talvez, com fome, porém a cólica não me deixou sentir. — expliquei.

— Pois nesses cinco dias de folga, ficará aqui comigo. Vou cuidar de você como se fosse minha boneca.

   A noite havia chegado. Tomei um banho intenso, porque a sensação de estar tendo um pré-parto é horrível! Eu só conseguia ficar deitada. Não tinha forças para levantar.
  Meu celular se manifesta com o barulho da notificação. Desbloqueei a tela e vi a mensagem de Joabe.

"Por que não me atende?"

"ESTOU DESESPERADO!"

"Naty, por favor..."

Suspirei e coloquei o aparelho na cama. Não era nada proposital. Eu só... Não queria magoá-lo com minhas palavras.  Ninguém tem culpa dos meus problemas e não é por isso que vou descontar todo meu rancor sobre ele.

— Lie? — meu sogro bate na porta.

— Entra.

— Oi. Joabe está desesperado. Será que tem como... Bom, você poderia dizer que está bem e não está com condições de falar.

— Quem garante que ele não vai me encher de perguntas?

— Por favor, Lie. Eu quero dormir. — a sua última frase me fez rir.

— Ok. — peguei o celular e justifiquei minha falta de interesse. A resposta não demorou.

"Não vou incomodar, mas estou chateado. Melhoras."

   Hum, estava merecendo mesmo uma dessa. Eu confesso com todas as letras que a ausência de Joabe está me prejudicando. Não deveria, porque já somos acostumados a viver longe um do outro. Porém, após do casamento as coisas mudaram. Ele está em um ambiente com outras pessoas e amigos que acompanharam o seu passado.


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“Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?”

Números 23:19

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O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieOnde histórias criam vida. Descubra agora