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  O altar foi assumido pelo pastor, que pediu que a Igreja ficasse de pé para fazer uma oração.
  As pessoas clamavam alto, mas nenhum barulho se tornava maior do que o vazio dentro de mim. Em pouco tempo de mudança, gerei um grande distanciamento entre eu e Deus.

— Querida, Deus mandou eu lhe abraçar. — uma mulher me tira dos meus devaneios.

  Encarei sua face resplandecente e concordei. Ela me puxou para um abraço confortável e acalentador. Às lágrimas voltaram a rolar.

— Oh, Jesus... — fez um pequeno estalo com a boca. — Jesus. Jesus... Filha minha, como senti sua falta. Ainda bem que ouviu a minha voz e reconheceu que precisávamos ter um encontro. Sua vinda a esta casa não foi em vão. Eu precisava fechar algumas cicatrizes abertas, porque isso prejudicaria o meu trabalhar. A sua missão não acabou.... Vou tratar das suas dores, pois entreguei o dom da cura em suas mãos e você vai usar essa ferramenta para curar pessoas. Pessoas essas que colocarei em seu caminho. Sei que daqui para frente me procurará, mas não irei a lugar algum, filha. Sempre estarei com você. E no decorrer dos dias lhe mostrarei todos os meus sinais, porque existe uma jóia rara escondida entre os enormes cascalhos e precisa ser encontrada. Não vai ser fácil. Não vai, porque essa joia gosta se esconder. Usarei suas mãos para vasculhar e ponha as luvas, porque entre elas existirão cacos de vidros pontudos, mas sararei suas feridas com meu bálsamo. Não desista de procurar, minha filha. Não desista, porque ali está o tesouro. Desejo que fuja da aparência do mal, antes que crie raízes profundas. Viva seu chamado no trabalho, em sua casa, em qualquer lugar que pisares. Não perca tempo com as coisas da terra, mas permaneça vinte e quatro horas com o pensamento em mim e verás o que irei fazer. Lembre-se: tudo no meu tempo. Tudo. Tudo.

  O abraço é encerrado assim como a oração da Igreja. Em seguida o pastor ministra a palavra sobre a fé. Fiquei impressionada com a sua capacidade de manusear cada frase.

— Gostou do culto? — Mony pergunta após estacionar em frente ao meu prédio.

— Amei. Eu, realmente, estava precisando ter um encontro com Deus. Pretendo ir mais vezes. — lhe devolvo um sorriso singelo.

— Certo. Então, todas as vezes que quiser ,pode mandar uma mensagem que venho lhe buscar. E não é incomodo para mim. Tchau, miga.

— Até amanhã. — abro a porta do carro e sigo em direção ao elevador.

Aquela coreografia vai ficar marcada na minha trajetória. Meu sonho de consumo é poder estar ali no meio. Dançar é uma arte e uma das melhores formas de adorar a Deus.

As portas se abrem no meu corredor. Levei um baita susto ao vê-lo parado, em frente a minha porta.

— J?

  Ele estava com as mãos no rosto e fungava.

— Naty? — ergue a cabeça. Pude ver seus olhos e ponta do avermelhado. — Achei que... Não queria me atender.

— Eu... Estava... No culto. — crispei os olhos. Será que o porteiro não avisou isso a ele? — O que aconteceu?

— Podemos conversar?

Concordo, destrancando a porta e dando passagem para que o mesmo entre. Entrei depois, seguindo para cozinha para pegar um copo de água.

— Naty, eu não quero me casar.

Bastou ouvir aquilo para que o copo espatifasse no chão.

— Naty...

— Eu... Eu limpo... Eu... Não precisa se incomodar...

O INCAPAZ - História de Joabe e NatalieOnde histórias criam vida. Descubra agora