Capítulo • 01

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Camilla Menezes 🌻

Quando pequena minha mãe me dizia que pra tudo na vida é preciso escolhas, e a cada escolha é preciso arcar com suas consequências, sejam boas ou não. O que eu nunca imaginei é que algumas destas escolhas não seriam feitas por nos. Não por livre espontânea vontade.

Algumas vezes, fazemos escolhas erradas, por simplesmente não termos outra opção.

Quando pequena, meus pais me ensinaram, que mesmo que me custe a vida, eu devo zelar por quem amo, pois em algum momento, eles cuidaram ou cuidarão de mim também.

Me ensinaram o valor que tem a família, a cuidar uns dos outros.

Quando eu tinha 15 anos, minha mãe faleceu. Me deixando nas mãos do meu herói.

Com o tempo, meu herói ficou velhinho, e hoje vejo o câncer querendo levar ele também.

"Se ele não fazer os tratamentos necessários ele não irá sobreviver. Você pode tentar ir pelo SUS, mas demora e tempo é oque não temos. Quanto antes o tratamento, maiores a chance de viver"

Eu tentei, juro que tentei ir pelo caminho correto. Um caminho que desse orgulho a ele, mas eu não consegui.

A cada tentativa eu só recebia "não"

" Inexperiência, faltas de vagas, entraremos em contato "

Eu não tinha tempo, apenas medo.

Pedro me fez a oferta, e obviamente eu me neguei.

Eu nunca que conseguiria fazer isso, ia contra todos os meus princípios e conceitos.

Me prostituir em um puteiro qualquer de morro?

Não.

Porém... Ele só estava piorando, já nem conseguia comer.

Meu herói...
Prometi cuidar e ajudar ele, custe oque custar.

Então aceitei.

Mesmo não sendo de se orgulhar, mesmo sendo ridículo.

Oque me importa além da vida dele?

Oque seria mais importante que a vida do meu pai?

— Bença meu amor - Disse beijando a testa do mesmo que comia seu jantar - Você parece cansado, que tal se deitar?

— Eu estou bem minha filha - forçou um sorriso cheio de rugas - Não vai trabalhar?

— Só depois que te deixar na cama, a boate vai abrir mais tarde hoje. - Obviamente, papai não sabe da verdade. Pra ele eu trabalho em uma boate como garçonete. Não suportaria o desprezo que sentiria ao saber a verdade.

Após verificar que ele tinha dormido mandei mensagem pro Pedro vir me buscar.

Ouvi a buzina e peguei minha bolsa saindo de casa.

— Ela é mo gata, e tem uma cara que não vale nada - Cantou me vendo sair e eu sorri

— Fala mó - Dei um beijo na sua bochecha

— Sobe vaca - Disse e eu subi na garupa da moto

— Vê se não faz graça, Jae? - digo subindo. Porque ele é palhaço e adora fazer graça de moto. Ainda mais comigo.

— Relaxa mulher - apertou minha coxa acelerando.

Pedro e eu somos amigos desde menor. Claro que as vezes rola umas putaria, mas eu e ele sabemos que não passa disso. Já tentamos e não dá mesmo. Sexo e amizade pra nos são  suficientes.

— Quer que eu te busque? - neguei descendo da moto - Um dia ainda te tiro desse lugar, papo reto. Te joguei ai pra uma noite só rapa.

— Idai? - dei de ombros - eu gostei e quis ficar - sorri pro mesmo que negou.

— Falsa - Disse e me deu um celinho

Entrei para meu pesadelo, vulgo puteiro da CDD.

— Ta atrasada - Lucia a dona daqui veio na bronca e eu rolei os olhos - Primeiro cliente já está te esperando. Se arruma e vai pra lá.

Fechei os olhos respirando pesado.

Que comece o show.

Vida de Bandido - 𝐂𝐎𝐍𝐂𝐋𝐔𝐈𝐃𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora