Por um pedido

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Stela sabia que seria questão de tempo para sucumbir a paixão por ele, ela sabia e, no entanto, resistia com todas as suas forças por que desejava, ansiava para que ele retribuísse o seu amor, não queria estar com ele apenas pela paixão, ela precisava ser amada e lutaria por isso...

— Não sei não, Kell, isso é tão clichê! - Thasya deixou de lado as folhas com o capítulo que Kell estivera tentando desenrolar durante toda a semana e bufou. Ela sem querer a imitou, sabia que era clichê, mas o que poderia fazer? Estava travada naquela cena. Sua amiga e vizinha pegou a xícara de chá que estava entre elas na mesinha de centro e bebericou pensativa, por fim ela voltou a falar – Acho que está precisando sair amiga, vai ver homens por ai e quem sabe não ganha umas inspirações? Esse mocinho é muito sonso.

— Não posso Thasya, Eduardo estará na minha porta na semana que vem, ele vai querer esse romance pronto, pelo menos semi finalizado. Eu preciso ficar e trabalhar, escrever dia e noite se for necessário.

Kell evitou estremecer. Amava escrever, tinha nascido para isso, mas às vezes era uma cruz difícil de carregar, seu público gostava sempre de novidades, de mocinhas abrasadoras, de romances maravilhosos e ela estava em uma maré de pouca inspiração.

— Ei amiga, por que não aproveita o Esbat de hoje à noite e emenda um pedido? Fala com a Deusa, sei lá, diz que precisa muito de um bom herói para salvar esse romance, tenho certeza que ela lhe dará bons sonhos.

— Esbats são para reverenciar a deusa Thasya, não para ficar fazendo pedidos egoístas! Eu já expliquei.

— Eu sei, eu sei, não precisa ficar brava ok? Sou sua beta e sincera amiga, temos opiniões próximas e Stela e Roger não estão rolando, você vai ter que apelar para seus deuses!

— Sabe, para uma ateia convicta até que tem falado e acreditado bastante nos deuses...

— Sabe como é, sou vizinha de uma cigana maluca e criativa, a gente acaba associando as coisas por osmose. Bem, o papo está bom, mas eu tenho que ir trabalhar.

Thasya se ergueu do chão da sala e esticou o corpo. Kell acabou fazendo o mesmo também.

Não adiantava ficar batendo a cabeça, a coisa não ia fluir essa noite e, além disso, tinha um ritual para fazer.

— Obrigada Thasya e bom trabalho.

— Para você também e lembre-se, às vezes a sua deusa esquisita pode ajudar.

Sua vizinha piscou e saiu de seu apartamento. Kell evitou rir. Ela tinha quase certeza que das duas, sua amiga era a maluca do prédio.

Três horas depois Kell encarava sua janela e a lua cheia no céu claro e refletia se talvez Thasya não tivesse um pouquinho de razão, não ia fazer mal algum pedir um favorzinho desses para a deusa faria? Afinal, pouco realizava rituais, gostava mais de acender uma vela e bater um papo com a deusa, assim, simples. Este era seu jeito, mas talvez precisasse praticar mais, abrir o círculo, chamar os elementos... Seria possível?

— Bom... Então vamos lá.

E ela se voltou para a vela diante dela e fez seu pedido a deusa.




Kell cruzou o salão imenso cujo teto era um céu estrelado e brilhante. Não fazia ideia de onde estava, mas tinha certeza que nenhuma das suas deduções estavam preparadas para o que via logo a sua frente sentada sobre um trono de flores.

Os seus cabelos escorriam abundantes pelo chão, enrolados, fartos, negros. Sua túnica era branca, brilhante, como uma lua cheia misteriosa e na mão trazia uma taça prateada. Seus olhos estranhos, grandes, sorriram para Kell e seu coração deu um salto súbito. Era a deusa... A grande mãe do mundo. Pelos deuses!

Oito deuses na minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora