EXTRA - A deusa

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 Zitao seguiu seu senhor pelo longo corredor do templo da noite, preocupado.

  Ele não sabia exatamente o que Brahma pretendia fazer, mas nunca o viu assim, tão desperto, sério. Frio.

  O deus de mil nomes estava acordado e não parecia feliz, nem satisfeito.

  Suas palavras ainda rondavam a mente de Kwan, "Ela não é mais minha deusa, essa farsa termina hoje". O que exatamente significava? Ele iria matar a grande mãe?

  Kwan a servia, ela era sua deusa, sua senhora, e ele seu caçador de demônios... Mas as ordens dela sempre foram curtas e claras, seu dever acima dos demais era cuidar e proteger Brahma, então o que faria se eles se enfrentassem?

  E sobre suas últimas instruções? Guarde-o até que seu coração se aqueça... Significava que o coração dele aqueceu ao ver sua deusa mortal e agora Zitao não devia mais guardá-lo? Mas aquilo era aquecer seu coração?

  O que na realidade sua senhora queria dizer? Por que não era mais objetiva? O que ele faria agora? O que todos fariam agora?

  Atingiram o trono dela no templo imemorial e ele viu a grande mãe se erguer de seu trono em sua face de deusa da noite, da lua cheia. Com o canto dos olhos Kwan viu outra deusa ali, atrás do trono. Perséfone.

  O que a ex deusa do submundo estava fazendo ali?

  Aquilo não fazia absolutamente nenhum sentido...

Por que vem em meu templo Luh...

Uma única pergunta irei te fazer, mulher, e quero uma resposta clara, sem argumentações dúbias, quero a verdade...

Luhan...

  Zitao viu o olhar dela cravado em Brahma, insondável, frio.

  Engoliu em seco. A deusa loira se afastou alguns passos sentindo a tensão também.

Diga-me, por que escondeu-me a criança? A transição deveria ser fluídica, serena, e você iria ensiná-la no futuro e então repousar no descaso dos eternos. Por que?

  A deusa riu e desceu as escadas até ficar em frente ao Brahma.

  Kwan levou a mão ao seu machado tenso.

  Seus instintos diziam para proteger o senhor do universo, mas sua mente lhe dizia que devia obedecer a senhora de todas as coisas.

  Ele se via dividido enquanto ambos se encaravam como duas tempestades prontas para desaguem sobre a outra. Não fazia ideia do que fazer, mas sabia que deveria fazer alguma coisa.

Acredita que aquela menina inútil e infante pode me substituir só por que ela brilha com a minha alma? Jamais poderá me substituir, o destino perdeu a mão, ele errou e eu estava poupando meu consorte de se iludir...

—  Estava si poupando da ilusão que se revestiu ao pensar que me manteria ignorante da sua falta, acha que não reconheço a verdadeira alma da deusa? Por quem me toma Gaia? Eu lhe entreguei todo o poder para que fizesse um bom uso aos mundos, já que o coração de uma fêmea é mais justo e amoroso, contudo já não é mais a Gaia que conheci. O poder lhe tomou a razão e a razão findou sua bondade. Quando pôs a criança em risco, colocou sua divindade em ruína. Quem lhe deu autorização para uni-la àqueles dois mortais? Ela não tem destinados, ela não é uma bruxa mesmo tendo nascido em uma família de bruxas, você a visitou em seu nascimento... Eu vejo agora, a fez uma falsa bruxa da água para esconder todos os outros poderes, ela é uma deusa mortal, todas as suas graças não advêm de magia e só piorou quando Zmey ao pensar ajudá-la, despertou toda a magia falsa que você implantou nela, por isso ela estranha, por isso ela não controla, ela não pertence a um elemento, mas a todos. Quanto de vida você cedeu para que fizesse tudo isso criança? Era só por medo de perder o trono quando na verdade nem deveria estar sentada nele? Usar a amargura de Perséfone para tentar matar a consorte de Hades também lhe fez bem? Não uma, mas duas vidas, magia falsa em uma, tortura em outra. Valeu a pena?

Oito deuses na minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora