Gabriela POV
Abri a porta e Carolina estava ali. Um caco. O semblante cansado, com olheiras, cabelo bagunçado e preso em um rabo alto, moletom e um pacote do hooters na mão.
- Trouxe comida. Posso entrar? Eu preciso conversar com você, amor - Carolina falou, em tom de voz extremamente ameno e embargado, com uma lágrima inconsciente descendo pelo seu olho esquerdo.
Relutei com o desejo de fechar a porta, mas Carolina estava péssima demais para que eu tivesse coragem de fazer algo, apesar de tudo que havia nos levado até ali. Sem dizer nada, apenas abri espaço com o corpo, escancarando a porta para que ela pudesse entrar.
- O que você quer? Não tô com cabeça pra conversar.
- Eu preciso te explicar a cena que você viu... Não é nada do que você pensou.
- O que eu vi foi você beijando aquele babaca, Carolina. Como é que você diz mesmo? Ah, não adianta justificar o injustificável.
Carolina andava de um lado pro outro do quarto.
- Ei, para de zanzar. Você veio aqui pra isso? Se sim, eu prefiro ficar sozinha - gritei.
- Ele me beijou a força Gabi! Foi exatamente no momento em que você apareceu... Eu já estava dando fora nele há alguns minutos, até ele me puxar a força. Eu nunca faria isso com você! - Carolina terminou a frase e começou a chorar incessantemente, o que me preocupou e me fez sentir extrema necessidade de abraçar seu corpo, mas não o fiz. Estava engasgada.
- A gente não conversou a noite toda cara. Da hora que ele chegou, até a merda acontecer, você só me deu atenção àquela hora na pista. A gente se animou tanto pra isso, pra ser assim?
- M-m-mas... Você estava lá com Gleici e os amigos dela.
- Não tem mas, foi o que aconteceu e pronto. Você sempre soube o meu desconforto com esse cara... Os comentários nas suas fotos, as mensagens no direct, os convites. A gente nem tá juntas a tanto tempo assim, mas esse cara já foi além de todos os limites. E mesmo sabendo disso tudo, você insistiu em chamar ele pra festa. - desabafei.
- Você tinha dito que tudo bem ele ir! - arguiu Carolina, mordendo a ponta de seu dedão.
- É claro que sim, não quero nunca ser a namorada chata ciumenta possessiva. Não é saudável pra gente... mas mesmo assim, mesmo sabendo disso tudo, você o convidou.
- Me desculpa Gabi. Eu juro que nunca quis que isso acontecesse... Eu te amo tanto pra fazer isso com você - ela falou, ajoelhando-se de frente para minhas pernas.
- Eu abri mão de tanta coisa pra chegar aqui, Carol. Cortei totalmente o contato com Maria Laura... e fiz isso por saber o quanto ela te incomoda. Não que eu espere que você faça as coisas em troca, mas tudo que a gente precisa pras coisas no mínimo darem certo, é reciprocidade e responsabilidade entre nós e nossas atitudes - ao fim do que disse, comecei a chorar.
- Você não sabe como doeu te ver sair por aquela porta. Eu sei das suas dificuldades. Você é o ser humano mais lindo que eu já conheci. Não sei como te pedir perdão, não sei nem se mereço que você me desculpe, vendo pelo seu lado. Mas tô aqui, louca de saudade, com meu coração partido em mil pedaços... - Carol levantou e se sentou de frente pra mim.
- Se coloque no meu lugar... sabendo como você é ciumenta. O que você sentiria se fosse eu? Você passou a festa toda com ele.
- Eu não consigo nem pensar em alguém te beijando que já fico irritada - ela respondeu, dando um riso frouxo, pegando meu par de mãos.
- Você errou Carol, você sabe que errou - falei, puxando as mãos e me levantando.
Peguei uma cerveja no frigobar e abri o pacote que Carolina havia levado. Era uma porção de chicken wings, igual a que eu havia comido em nosso primeiro dia nos EUA... e do mesmo lugar. Fiquei imaginando-a dentro do restaurante, daquele jeito, no meio de tantos peitos. Não me contive e dei uma risada baixa.
- Que foi? Tá rindo de quê?
- Tô aqui pensando em você dentro do hooters, nesse estado, rodeada de peitos - respondi.
- Ah... mas dessa vez foi mais fácil. Não tinha ninguém pra aquelas otárias atacarem - ela respondeu, se levantando.
Carol tirou o celular do bolso e, surpreendentemente, começou a mexer, o que me deixou desconfortável, afinal, ela tinha ido ali para conversar comigo e resolveu mexer no celular?
Passados dois minutos tentando conectar à rede, Carolina colocou uma música e deixou o celular em cima do criado mudo, caminhando em minha direção. Tirou a cerveja de minha mão, colocou na mesa do quarto e se ajeitou no meu abraço, pedindo por uma dança.
O silêncio fez o forrózinho tomar conta do quarto.
- Lembra dessa? Cantamos juntas quando brincamos de The Voice dentro do bbb.
"Sei que ai dentro ainda mora um pedacinho de mim
Um grande amor não se acaba assim
Feito espumas ao vento
Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa, feito brincadeira
O amor deixa marcas que não dá pra apagar
Sei que errei tô aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo"- Sabe Gabi, desde a hora que você saiu, fiquei tão aflita e desnorteada... Eu não sei o que faria se você largasse de mim, mas eu entenderia se assim você fizesse... Sei que errei, to aqui pra te pedir perdão... - Carol falou, olhando em meus olhos, cantarolando o fim de sua fala.
- Eu te amo, Peixinho... Mas acho que preciso de um tempo pra digerir as coisas. Sabe?
...
Hariany POV
- Foi o que você fez comigo ontem, ué - falei, voltando a cobrir o rosto.
- Ah, então vai ser assim Hariany Nathália? Se você vai me ignorar, vou ficar com o presente que comprei pra você lá na Universal Studios.
A palavra "presente" me pegou de surpresa. Apesar de orgulhosa, falar que vai me dar algum presente é tocar na ferida. Natália mal terminou de falar quando tirei a coberta da cabeça.
- Véi, você comprou pra mim. Não tem essa de ficar pra você! - resmunguei.
- Oxe, tava até agora me ignorando e agora quer presente? - debochou Natália.
- Você sabe o porquê - falei - Vai véi, me dá aqui - completei, puxando seu braço.
Natália sentou na ponta de minha cama segurando a embalagem - Você tá acabadinha, hein? - comentou, passando a mão em meu rosto antes de depositar um beijo em minha testa.
- Não faz isso, é melhor pra mim se você não fizer - supliquei, levando as mãos aos olhos.
- Tá bom - ela levantou - Toma aqui... Entrei na loja do Shrek e quando vi isso só soube lembrar de você, o biscoitinho de Carol.
Abri a embalagem e só soube sorrir.
- Que fofooooooo, cara!!!!!!!!! - gritei, me sentando na cama.
- Que bom que gostou, biscoitinho - Nati respondeu, virando-se de costas para sair do quarto.
Num surto repentino de coragem me levantei e a empurrei contra a parede. Segurando um de seus braços pra baixo, deixando o outro livre.
- Me diz que aquele beijo no bar não foi coisa da minha cabeça.
- Hari, me larga. Vou sair com Clara! - pediu em tom ameno.
- Fica aqui comigo, só um pouco.
Nati fechou os olhos e encostou sua testa na minha. A ouvi respirar fundo antes de assentir com a cabeça e levar a mão livre para minha nuca.
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Só tinha de ser com você
FanfictionO reencontro meses após o fim do bbb trouxe à tona sentimentos que imaginavam terem sentido por carência, mas só elas sabiam que era muito mais do que isso.