As estrelas podem ser perigosas [CONCLUÍDO]

CAPÍTULO XIV Filhote de demônio

Um pouco mais de dois anos antes

Jorie Pinheiro 

_Não sabia que você gostava de azul marinho! Elas não lembram minhas notas e tudo mais?! - Joguei na cara dela ainda parada na porta que dava entrada para o seu quarto.

_Não gosto! - disse e eu me aproximei para entender qual era o novo episódio de sua crise pop-star.

_Então porque comprou uma bolsa assim?

_Não é bolsa. É MOCHILA!

Busquei a relevância na minha mente do por que as pessoas colocam nomes diferentes para coisas iguais e adivinhem? Não achei; o que me sobrou foi vociferar o que meus pensamentos afirmavam.

_Tanto faz. A finalidade é a mesma!Parece até que você pegou na sessão maternidade.

_E peguei mesmo. Era a mais bonita que tinha nesse tom.

Tudo pelo estilo, a aparência fala antes de você. Nunca me surpreendi com isso, mas agora sei o porquê as pessoas do grupo três faz o indivíduo querer ser seu amigo: Eles chamam atenção inconscientemente! Estávamos no período volta as aulas e por isso havia vários artigos de papelaria espalhados em sua cama.  Ir para o colégio é sinônimo de ir a uma festa nos U.S.A.

_Minha mãe disse que não irá mais lavar minhas mochilas, pois como eu as jogo em qualquer lugar, todo final de semana ela tem de repetir o mesmo processo, e ela não é obrigada! - Ela começou a relevar gesticulando tanto com as mãos que cheguei a pensar que seus pulsos iriam abrir e eu teria que fazer um procedimento de emergência até ele voltar para o lugar. O primeiro passo seria imobiliza-lo "impedindo" assim que os sintomas progredissem, logo depois colocaria uma bolsa de gelo por aproximadamente 20 minutos. Em consequência da enorme quantidade de estruturas que possuímos nessa região, como cartilagens, tendões, vasos sanguíneos, ela deveria ser avaliada por um especialista para diagnósticos exatos, isso evitaria uma tendinite crônica e outras complicações. Por outro lado, se apenas houver uma inflamação sem o aparecimento da dor, eu poderia aplicar uma compressa fria para reduzir a inflamação. Se a dor estiver presente troco a compressa fria por uma quente, além de adicionar algumas gotas de lavanda, assim diminuiria a inflamação, dor e relaxaria.

A ciência afirma que as pessoas fazem isso para obter mais confiança do interlocutor. Estudos indicam que noventa e três por cento da comunicação se dá através da linguagem corporal, assim estimulamos o canal visual daquele que nos ouve, manipulando o tempo de duração que as informações permanecerão no seu consciente. Pisquei várias vezes para tentar lembrar o que a Lauret havia tido nos últimos minutos quando ela parou de gesticular e olhou para mim buscando consolo.

_Já estava passando da hora mesmo – Senti uma almofada sendo arremessada e desviei.

_Era para você ficar do meu lado!

_E eu estou, ora bolas! Prezo pelo seu conhecimento e experiência nas técnicas que no passado foram tachadas de "coisas de mulher". -ela fez uma careta e dei prosseguimento a minha curiosidade - Aliás o que isso têm haver com uma bolsa azul marinho?

_Nossa eu via você bem mais inteligente do que está aparecendo agora hein! Azul marinho é quase preto, ou seja, suja menos. Já que eu terei de lavar que seja pelo menos reduzindo a metade de vezes que a minha mãe lavaria.

Essa era a Kate que eu conhecia. Astuta como um filhote de demônio! Se sua mãe queria que ela passasse pelo mesmo processo, isso ela já não faria.

_Aparece menos.

_O que? - Perguntou

_Aparece menos!

_E? - De fato ela estava bem irritada, que os deuses me ajudem – Eu aqui com a minha ideia brilhante e você me dando sermão de como a sujeira aparece nas cores! - Pois é! Meus elogios pelo visto contavam bastante. Talvez eu tenha sido insensível mesmo, porém não tem como não ser quando você tenta entender o que está acontecendo que não necessariamente é importante para a manutenção e prosseguimento da vida de todo o cosmo.

Aslam dai-me paciência!

_Eu realmente nunca havia pensado nessa opção. Ótimo trabalho!

_Elogio forçado não é elogio!

Aquela coisa de "desejos naturais não necessários; (...)"

_Você pintou o cabelo de verde! - Afirmei mais para mim mesma do que para ela.

_Até que enfim você notou, estava aqui vendo mentalmente quantos minutos a mais eu precisaria esperar para que esse momento se concretizasse. Ademais não é verde é azul. Têm certeza que você não é daltônica? - Era a segunda vez no mês que ela me faz essa pergunta. A primeira foi quando eu confundi cinza com um azul sacola sem graça.

_Daltonismo é uma doença do cromossomo XY, eu não sou homem e, portanto, não há possibilidades de estar portando essa anomalia. - Disse pela terceira vez no mês, e manobrei para o assunto que estávamos conversando outrora. - Ei meu elogio não foi forçado, eu ia te elogiar, mas você não parava de falar, parece até que engoliu um gravador.

Joguei-me na parte de sua cama que estava vazia relembrando de quando reformamos todo o conceito do seu quarto. O guarda-roupa ficou isolado numa parede onde não chamava tanto a nossa atenção; um espelho enorme e cheio de luzes foi colocado próximo a escrivaninha de frente para a cama; o papel de parede branco imitando bloquinhos de tijolo na parede do sofá de dois lugares, que demoramos 5 horas para escolher e depois ficamos mais 3 na fila, porque era black friday e "ninguém" se lembrou que a loja estava cheia; adicionamos uma estante que por mais incrível que pereça só havia conteúdo de Star Wars, Star Trek e outras coisas astronômicas a qual eu não dava a mínima, mas valorizava o conhecimento de alguém que conseguisse entender sublimemente.

_Um gravador grande ou pequeno? - indagou.

_Do tamanho de um pulmão!

_Amm – disse com desdém.

E rimos até a mãe dela dizer que ela tinha obrigações de casa a cumprir. Uma desculpa para me expulsar, obviamente, porém eu a Lauret já sabíamos disso e demos uma para outra aquele olhar 'sei o que você quer dizer' seguido de um ataque de riso que estressou sua mãe ainda mais.