CAPÍTULO XLII Tudo em Vermelho

219 12 11
                                    

Um ano e 11 meses antes

Kate Moraes

_Sugeriram uma avaliação psicológica.

Foi a única coisa que entendi de tudo que meu pai falou. Desde o dia em que minha mãe perdeu a paciência, ele tem vindo toda noite conversar comigo. Isso menos parece uma conversa, é mais uma comunicação oral, visto que só ele fala. Sobre o dia, quais chuvas de meteoros estão prestes a acontecer, qual foi a última fofoca inventada. Enquanto ele fala, eu continuo sentada na poltrona virada em diagonal para a janela, meus olhos estavam atentos a todo e qualquer sinal que me desse uma notícia de Jorie, a notícia de que ela estava viva e fora tudo um terrível engano. De que está pelo menos em coma e a qualquer momento poderá estar novamente conosco.  

Saturno começava a ficar visível a olho nu no céu da tarde, dizendo que logo as estrelas surgiriam, dando inicio a noite. Se eu desse sorte hoje veria mais três mil estrelas, pode parecer muito mais nosso universo possui mais de cem bilhões de estrelas. Mais do que os grãos de areia na terra.  Jorie costumava dizer que um dia de sol era um sinal de esperança mesmo quando tudo ficava difícil, porque ele nos aquecia e mostrava com mais clareza o que antes não estávamos vendo. Embora o sol seja um a estrela, ela não se compara com outras estrelas que não identificamos a olho nu. Se fosse possível, poderíamos colocar centenas de terras juntas para chegar ao tamanho do sol. Ainda assim, seu mais de um milhão de diâmetro não é pareo para Eta Carinae, 5 milhões de vezes maior que o sol; Betelgeuse, trezentas vezes maior que Etta Carinae e VY Canis Majoris um bilhão de vezes maior que o sol. 

Por isso a noite é quando eu sempre consigo ver com mais clareza: há mais luz. Massivas, grandes e perigosas. E por mais que não percebemos todo nosso universo está rodeado de buracos negros (fantasmas de estrelas massivas). Todo o nosso destino está ligado ao destino das estrelas. Elas fazem o universo funcionar. Não é a toa que o meu parece ter parado.

Balecei a cabeça em negativo e vi meu reflexo no espelho. Meus cabelos permanecem do tom azul que ela afirmava ser verde e há mechas de vermelho em vários pontos dele. Vermelho de seu sangue. Que irônico ver que depois de uma longa discussão sobre que cor eu deveria pintar ele da próxima vez o destino decidisse sobre, como se estivesse farto dos argumentos que eu pronunciava.

Vermelho!

Ela em nenhum momento sugeriu essa cor. 

Minha mãe não entrava mais no cômodo, parecia que eu estava com alguma doença contagiosa e ela não queria correr o perigo. Esses dias vislumbrei a sombra de sua silhueta pela fresta da porta, pensando se deveria entrar ou não, talvez. Talvez eu apenas estivesse delirando igual a todas as outras vezes em que eu saí correndo para sacada achando ter visto Marjorie na rua. Eu não ouvia mais a voz de Dona Elisangela pela casa como antigamente, quando meu pai conversava com ela, também não se escutava nem um piu. Legal saber que até isso eu estraguei. Vilages, vocês estavam errados! Eu não merecia uma família melhor. Quem sabe vocês já sabiam disso e inventaram essa desculpa para eu não me sentir tão mal? Nunca vou saber, mas a verdade é que a segunda opção parece mais apropriada para o momento.

As estrelas podem ser perigosas [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora