CAPÍTULO XLV Avaliação Psicológica

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Onze meses antes

Kate Moraes

Essa era a primeira vez em dias que eu via minha mãe tentando dirigir a palavra a mim, porém seu semblante carregava o mesmo cansaço de muitos outros. Meu pai me dava instruções sobre como não deveria agir na avaliação psicológica.

1º Não decore uma resposta para seus testes. Eles vão perceber que está errado pela sua atitude.

2º Não fique nervosa. Eles só vão traçar e verificar qual é o seu perfil e ele é ótimo. Então não há nada para se preocupar.

Ele repetia sem parar como se fosse simplesmente aquilo. Sinto que seu propósito era me acalmar, entretanto eu estava mais calma que ele.

_Laurensmile? - Me chamou puxando meu queixo e fixando bem aqueles olhos grandes e amedrontadores que transbordavam ternura nos meus. - Não decore uma resposta para seus testes, seja sincera filha. Eles só vão ver qual é o seu perfil e ele é ótimo. - Afirmou mais uma vez. Coloquei minha mão na sua e acariciei na tentativa de tranquiliza-lo. Ele surpreendeu-se com o meu toque. Pareceu um pequeno milagre pelo brilho de seus olhos. Como todos na cidade, também já sabia que nesse ponto eu já não existia mais. É por isso que estou tão calma hoje. Independentemente do que eles traçarem o meu destino é fadado a viver sem Jorie e isso já é castigo suficiente se comparado a prisão ou algum lugar para menores. Ela mantinha o meu espírito livre, agora é como se eu estivesse presa a mim mesma para todo sempre.

Chegamos na Ala psiquiátrica do hospital da cidade. As pessoas já nos conheciam e se afastavam de mim como se eu fosse matar a todos a qualquer instante. Meu pai iria repetir a mesma coisa e parou quando eu balancei a cabeça em afirmativo, enquanto minha dona Elisangela só lançou um olhar de 'não faça mais nenhuma besteira'. Entrei e respirei fundo. Havia uma mulher de quase meia idade olhando para uma pilha de papeis e anotando algo ao mesmo tempo.

_Não precisa ficar com medo. Pode sentar no sofá e ficar à vontade, já vou te atender. - Disse. Fui em direção ao sofá e sentei. Embora o meu cheiro estava horrível ela não tampou o nariz igual as outras pessoas, então esse pode ser um bom sinal. - Laurensmile Kate! - Olhou como se estivesse me avaliando. - Um nome bem diferente. - Concluiu com um sorriso nos lábios. Sua sala tinha aquele clima de verão na Europa: caloroso e tranquilo. Numerosos móveis faziam um encaixe perfeito com os estofados dispostos desordenadamente pelo cômodo. Apesar de ter vários arquivos, consegui ver alguns livros e a saga de Jogos Vorazes entre uns de psicologia infantil. Marjorie iria gostar desse lugar. Menos da falta de organização que ela tinha com os papeis. Ela continuava a minha frente fazendo diversas perguntas e vendo que eu não responderia nenhuma, pegou várias imagens e começou a me mostrar, pedindo para que eu apontasse a resposta. Sua pele pálida mostrava as copiosas olheiras que se estendiam depois dos olhos. Muitas noites trabalhando, sugeri eu. Tentei descobrir se eu estava bem ou mal, mas ela não demostrava nada. Parecíamos estar evoluindo até que entraram abruptamente pela porta e me levaram para sala de depoimentos da delegacia local.

_Nós temos que cooperar com a polícia! - Conseguia ouvir meu pai dizer a mamãe.

_Mas sem advogado? Quer que a nossa filha fique num lugar imundo? - Sua voz a cada momento ficava mais furiosa, tenho a certeza que dela sairiam bolas de fogo se ele continuasse a contrariando.

_Claro que não! Como pode ser capaz de dizer isso? Se chamarmos um advogado eles já vão declará-la culpada, ela precisa mostrar que não há nada para esconder.

_Mostrar? Tem noção do que você está falando? Saí do mundo da Lua, Jamal! Ela não toma banho a dias, está fedendo, cabelo caindo, não fala uma palavra e ainda por cima está toda manchada de sangue! - Gritou. - O que você acha que ela tem para mostrar? - Eu não queria ter que concordar com ela porque o papai estava sendo muito paciente comigo. Mas ela estava certa. Mesmo assim, entrei na sala sem advogado, eram tantas perguntas, tantas agressões que acabei desmaiando e acordei dias depois na cama de um hospital com o Senhor Jamal dormindo na poltrona ao lado da maca. 

As estrelas podem ser perigosas [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora