Taluna: Mar e Sangue

LEMBRANÇAS

Fecho os olhos e caio no sono,pesadelos me assombram,as imagens daquele dia,um grito,sangue na água,depois tudo fica embassado,ouço apenas a voz do Enko me chamando,em seguida Titan,o rei dos mares,meu pai,chega e o vejo com minha mãe nos braços.

- Mamãe! Mamãe! - grito desesperadamente.

- Taluna ela morreu,ela morreu - meu pai diz chorando.

- Não, não! Mamãe.

- Calma Taluna - Enko me abraça - vai ficar tudo bem.

Ele tenta me consolar mesmo enquanto ele próprio estava chorando,abraço Enko bem forte,sinto suas lágrimas quentes caindo no meu rosto,após alguns minutos consigo me acalmar,permaneço naquele abraço enquanto olho para as ondas e o sangue que se misturava na espuma das águas do mar.

De repente acordo,estas lembranças,elas nunca me deixam,ao menos fico feliz que Enko esteja sempre comigo pra me consolar.
Olho para o lado e vejo que ele está dormindo,parece um anjo como sempre,suas escamas são verdes como algas e com a luz da lua brilham de uma forma excepcional,acho que entendo porque ele tem tantas pretendentes.

- Aquelas piranhas - sorrio enquanto penso em voz alta - ainda bem que meu Enko não tem mau gosto,chorem piranhas!

- Do que está rindo?

- Ah,você acordou?

- Falando sozinha de novo Taluna? Não me diga que é por falta de amigos,porque eu estou bem aqui.

- Não é isso,estava apenas pensando em voz alta.

- Como sempre. É melhor levantarmos,já está na hora de voltar.

- Está bem - falo sentando - vamos voltar.

Olho para o céu mais uma vez e me despeço da lua,abano minha cauda nas rochas porém noto algo estranho,pés. Como fiquei mais tempo em cima da rocha acho que meu corpo secou então tomei minha aparência humana.

- Não se levante Enko!

- O quê? Por quê?

- Não olhe para cá,vire de costas.

- Por que tudo isso? Ah,não me diga que você está com pernas Taluna! - me repreende - se seu pai visse isso ele com certeza iria me matar.

- Não se preocupe elas vão sumir num instante,só vou saltar na água,te aviso quando elas sumirem.

- Ok,ok. Cuidado quando for saltar, você não sabe usar pernas,eu deveria estar cuidando de você - resmunga - que guardião inútil eu sou.

- Pare de reclamar tanto,venha minha cauda já voltou.

- Estou indo,saia da frente ou vou cair em cima de você.

- Anda logo Enko,não foi você que estava com pressa?

- E você que não estava, esqueceu? Agora vamos,por favor não deixe isso acontecer novamente está bem?
Você sabe como é perigoso uma sereia se transformar,se algo acontecer com você eu...eu não sei o que faço,você não quer me fazer chorar quer? Então não faça isso de novo.

- Tá bom Enko, desculpa. Não vou fazer você chorar,mas bem que eu fico bonita com pernas admite.

- Eu não olhei esqueceu?

- Ah,mas eu achei tão bonitinho,meus dedinhos são tão pequenos,você devia ter visto Enko é muito fofo.

- Do que você está falando sua maluca? Você mesma me disse para não olhar,se eu tivesse olhado você teria me socado até a morte.
Além disso não tem que ficar achando fofa sua forma humana,você não pode gostar dela ou vai querer ficar se transformando e você não pode.

- Tá, tá, eu já sei Enko.
Mas que tipo de traíra você acha que eu sou que mataria meu melhor amigo!?

- Eu sou seu único amigo,então é óbvio que eu sou seu melhor amigo e não sei,foi você quem me ameaçou uma vez se lembra?
Você estava trocando suas conchas e disse que se eu olhasse me daria tantos socos que se eu não morresse iria ficar cego pelo resto da vida.

- Eu tive que te ameaçar pra ter certeza de que não iria espiar,não tenho culpa, foi necessário.

- Está bem sua bobinha,eu sei que você não me machucaria,mas não se preocupe, eu não espiei nem espiaria sou um tritão de respeito.

- Claro que sim,deve ser por isso que meu pai o escolheu como meu guardião.

- Talvez,mas se não nos apressarmos esse tritão aqui vai virar uma sardinha,nade depressa.

- Calma Enko estou indo o mais rápido que posso.

Após um longo tempo de nado chegamos à Atlas,o reino das sereias e dos tritões,meu pai governa este reino há quase cento e cinquenta anos,nós seres míticos,como somos conhecidos pelos humanos,podemos viver por muitos anos,alguns vivem até trezentos e noventa anos,como o meu avô por exemplo que foi o mais velho de todos,ao menos que eu conheça, e também foi o rei antes do meu pai.

Após a morte da minha mãe ele se tornou superprotetor comigo e proibiu qualquer sereia ou tritão de usar sua forma humana,não tenho muitas lembranças de como minha mãe morreu,tudo que me lembro é que ela havia ido pegar algumas conchas na praia,ela usava uma roupa de algas, muito bonita,eu e Enko estavamos com ela,eu tinha dez anos e Enko treze,viviamos sempre juntos,como ele era órfão meus pais o haviam criado como um filho,
De repente Âmbar,minha mãe,vem correndo em nossa direção e com muita pressa nos atira ao mar,tudo que ouvi foram seus gritos,desmaiei por um tempo e acordei com a voz de Enko me chamando.

Não sei o que houve e ninguém fala deste assunto desde aquele dia,apenas eu e Enko conversamos sobre isso mas tudo que ele fala é que um vampiro matou minha mãe e que eles são perigosos. Honestamente não entendo por que os vampiros são perigosos para nós, eles se alimentam de sangue humano e nós não somos humanos e o sangue que corre em nossas veias é totalmente diferente do sangue humano,mesmo que nós tenhamos certa semelhança com os humanos somos seres totalmente distintos e os vampiros da mesma forma.

Lembro-me de quando era criança havia uma aliança entre o povo do mar e os vampiros,costumávamos compartilhar a comida,talvez muitos não saibam mas nós nos alimentamos da carne humana e os vampiros do sangue,porquê? Eu não sei,foi sempre assim desde que me lembro,então nós costumávamos dividir,os vampiros ficavam com o sangue e nós com a carne,eles sempre vinham ao mar para trazer ou buscar comida,mas isso foi há muito tempo,agora nós somos inimigos.

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Estou sem muito tempo esses dias devido ao trabalho, mas postarei capítulos sempre que puder,então até o próximo capítulo meus leitores.