Taluna: Mar e Sangue

SOLIDÃO

Enquanto vou nadando de volta à Atlas,fico pensando sobre o que Haji me contou,ele parece ter conhecido minha mãe, embora eu também não me lembre dele, claro,esqueci até minha própria mãe como me lembraria de um vampiro entre tantos que viviam conosco,quando me aproximo da área onde fica o trono encontro Enko que estava à minha procura.

- Taluna,por onde você andou,achei que íamos caçar hoje pela manhã.

- Santos camarões é mesmo,desculpe Enko fui nadar e acabei me distraindo,me esqueci,sinto muito.

- Tudo bem sua sereia distraída,na próxima tente não se esquecer de mim.

- Está bem,vamos?

- Então vamos? - Enko pergunta - hoje vamos para perto da costa.

- Sim,vamos - falo o seguindo - Enko,eu queria pegar algumas conchas.

- Vamos ver se achamos algumas no caminho.

- E se não acharmos uma boa o suficiente?

- Não se preocupe acharemos,não vou deixar que nade despida por aí.

- Muito gentil de sua parte nobre tritão.

- Vamos Taluna - ele começa a rir - não comece.

Fomos conversando e brincando durante o percurso até a costa,o sol já estava no centro do céu, em breve alguns pescadores viriam apanhar suas armadilhas de pesca,Enko e eu já estavamos à espreita esperando nossa vítima,não demorou muito até que aparecesse,enquanto a presa mergulha Enko lhe acerta a cauda na cabeça o fazendo desmaiar,o levamos para o fundo do mar e minhas unhas fazem o resto do trabalho,então após alguns segundos já podemos apreciar nossa refeição.

Retornamos para o reino,hoje é um dia monótono no reino de Atlas normalmente não temos muito à fazer, apenas nadamos pelo reino observamos os animais,o que me ajuda a relaxar, as vezes é meio chato e se não fosse pelo Enko eu estaria sempre sozinha,ao menos posso conversar com Enko,que é uma companhia muito agradável.

Nós,o povo do mar, passamos a maior parte do tempo na água, especialmente nos últimos anos,não podemos sair nem nos transformar,na verdade até podemos nos transformar,mas normalmente só os casais costumam fazê-lo,porém não fora dos domínios do mar,normalmente as rochas que ficam sobre as águas ou alguma pequena ilha no centro do mar, namorados,casais costumam passear por elas,os recém-casados costumam viajar por elas durante a lua de mel ou até após o casamento,além do que só é possível as sereias e tritões terem filhos na forma humana,diferente do que muitos podem pensar.

Passo o dia ansiosa pensando nos caranguejos que Haji prometeu me trazer,sempre quis muito experimentar alguns,mas não consegui,agora posso saciar minha curiosidade,e gula talvez,mesmo que normalmente comamos carne humana também comemos algumas algas é um cardápio até que bem variado,aprendi uma palavra nova agora vou sempre usá-la " cardápio".

Vai ser difícil sair sempre sem que Enko possa notar,ele é um bom observador e está sempre de olho em mim para evitar que eu me meta em alguma confusão,embora entenda a preocupação dele as vezes isso é um pouco exaustivo e irritante,mas ao menos sempre tenho meu melhor amigo por perto.
Meu pai está ocupado como sempre,então aproveito para ir dar uma volta,como de costume Enko me acompanha,decido ir até as rochas Belisas são um pouco mais próximas que as de Iktar,essas rochas são um pouco mais altas que o nível do mar,com alguns musgos ao redor,também são um pouco maiores que as que costumo ir .

- Acho que vou dormir aqui - falo.

- Você sabe que não podemos - Enko retruca.

- Não disse você,estava falando de mim,se quiser ir embora fique à vontade - levanto os ombros sem dar importância ao que ele fala.

- Qual é Taluna,não seja tão teimosa.

- Não vou sair ,não tenho nada para fazer lá embaixo,é chato,e o papai está sempre ocupado com coisas mais importantes.

- E eu? - Enko me questiona .

- Você é o único que se importa comigo,se não fosse por você eu morreria de tédio pela solidão - falo aborrecida.

- Não é bem assim Taluna,seu pai te ama,ele só não consegue desmonstrar isso de uma forma que não seja por preocupação.

- Sei bem como é,mas ok,quero dormir aqui hoje,está confortável,posso ver a lua,as nuves,estrelas,as gaivotas ao longe,não quero voltar agora,só por hoje Enko,por favor?

- Essa rocha é mais alta,não tem muita maresia que nos alcance,mesmo com o frio da noite,você não vai permanecer nessa forma por muito tempo.

- Que saco - falo entediada - Não tem algum jeito?

- Creio que não.

- Então vou dormir...vou dormir em forma humana hoje.

- Você está louca - Enko esbraveja com o rosto vermelho - ,não pode dormir nua,eu não vou permitir.

- Ninguém vai ver mesmo.

- E eu?

- Hm...isso é constrangedor.

- Taluna,seja um pouco racional.

- Estou sendo racional,quero dormir em um lugar diferente e agradável,não há nada errado nisso.

- Há,desde que você decide dormir em forma humana e ainda por cima despida e comigo ainda por cima.

- Está louco seu tritão descarado,quem falou em você?

- Nós sempre dormimos juntos,não pode simplesmente me expulsar.

- Então o problema é você,quer me ver despida não é? Seu tubarão desalmado,e eu achando que você era um tritão decente.

- Eu sou um tritão decente,você que é maluca. Não tenho nenhuma má intenção ao seu respeito,mas você que sempre me mete em situações constrangedoras.

Começo a sorrir da situação,embora esteja realmente irritada e queira dormir aqui,é sempre engraçado observar as reações de Enko.

- Do que você está rindo Taluna? Isso não é engraçado.

- Ok,ok,desculpe,não consegui aguentar,ver você em uma situação constrangedora é realmente engraçado,você está todo vermelho.
Hm....ok,acho que exagerei um pouco dessa vez embora não tenha mentido sobre querer estar aqui,eu realmente não quero voltar ao mar agora ,por favor Enko.

- Santos camarões,você me dá tanto trabalho Taluna - ele sorri - está bem,vamos dormir aqui hoje.

- Anh? C-como assim vamos? Você não...não pode ficar aqui.

- Posso e vou - ele sorri de forma convencida - agora quem é que está vermelha hein?

- Idiota.

- Quê? Como ousa madame? - pergunta sorrindo - Não se preocupe Taluna,vou buscar algo e já volto,espere por mim - diz mergulhando e nadando velozmente em direção a Atlas.