Contos De Naestria

Nova Era - Pão, Presunto E Circo

"Levante-se!"

Quase automaticamente eu me levantei da cama como do mesmo jeito que os servos zumbi da rainha lich fazem saindo da cova. Bem, eu sou mesmo uma zumbi servindo um lich, mas não essa lich.

"Bom. Hebi lhe ensinou bem."

Já faz um mês que meu criador, o senhor lich Hebi, me deixou aqui nesse castelo com a rainha lich Verata.

"É quase instinto."
"Hm..."

Notei que ela está usando um vestido roxo que fazem ela parecer uma cosplay das cartinhas que meu criador tanto gosta. Só que mais magrela e pálida e sem tatuagens roxas pelo corpo todo.

"Suponho que já notou que hoje nós iremos sair."
"Ok."
"Não me venha com 'Ok' e fique aí parada, vá se trocar."
"Tá..."

Liches. São sempre assim, mandando em todo mundo. Sempre "Zumbi faça isso! Esqueleto faça aquilo!"

"E não demore Willa!"
"Tá!"

Me troquei, colocando o vestido que meu criador me deu quando me deixou aqui de castigo com a Verata.

"Aonde vamos?"
"Ao circo."
"Circo?"
"Odeio quando faz isso, você entendeu, mas repete o que eu falei como uma pergunta idiota."
"É... Foi mau. Eu só não imaginava que existisse um circo aqui."
"Uma coisa que eu aprendi com os vampiros é que o povo me serve melhor se estiverem com a barriga cheia e a cabeça ocupada. Além disso, a eternidade pode se tornar entediante."
"Olha, até que faz sentido."

Seguimos de carruagem aberta pela cidade tranquilamente até acontecer uma tentativa de assassinato, mas Verata parou a flecha com uma barreira mágica sem parar de beber o chá e com um estalar de dedos um par de demônios trouxeram o arqueiro para perto e cravaram a própria flecha que ele atirou no pescoço dele.

"Últimas palavras?"
"Glória a Ho... Hodr..."

Ele se engasgou, cuspiu sangue e morreu. Com um aceno de mão de Verata, o homem que costumava ser humano se levantou com os olhos vazios brilhando com a magia necromântica dela.

"Glória a Bhalzarfia!"

O zumbi rasgou a roupa com um símbolo do deus do sol que cobria sua cota de malha e se jogou para fora da carruagem. Quando a magia se dissipou e ele voltou a estar morto, os mais desesperados por material fresco vieram catar o que podiam.

Verata os chamou de abutres baixo demais para ouvirem, então acenou para as pessoas agradecidas. Ela mantém uma imagem de boa rainha, pelo menos aos padrões de uma cidade de necromantes e diabolistas.
Pouco tempo após isso chegamos a praça principal, onde haviam tendas enormes e coloridas, artistas fazendo malabarismo com objetos diversos, encenando suas piadas visuais e levemente violentas ou afinando seus instrumentos ou praticando em público.

Verata chamou a atenção de todos assim que chegou, afinal ela é a rainha, então o próprio dono do circo, um demônio vermelho de quatro chifres, se manifestou ao lado da carruagem para nos receber e ofereceu sua mão para auxiliar a elfa lich a descer.

"Obrigado cavalheiro."
"É uma honra vossa alteza."

Um par de diabretes trouxe uma pequena escada para Verata descer e tirou de perto antes que eu descesse também. Os pequenos idiotas riram da minha cara, mas após apanhar com uma rabada do seu chefe eles fizeram o trabalho direito.

"Permitam-me que eu as leve ao melhor assento do local, o show já vai começar."

Ele nos levou para sentar no local mais alto, com uma mesa e cadeiras bonitas diferentes da arquibancada normal onde as pessoas comuns estavam se sentando. Após ele ir embora, decidi falar com a rainha pra matar tempo até começar.