Nova Era - Órfãos De Voldenkaiser

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Eu sou o último dos órfãos que ainda se lembram de nosso passado glorioso, de nossa origem como os senhores da noite em um reino populoso e opulente.
Nós costumávamos ser os mais pacíficos de nossa espécie, vivíamos como nobres senhores feudais e cidadãos de Voldenkaiser. Raramente nos alimentavamos do sangue de criaturas inteligentes, criavamos animais para nosso alimento e não tínhamos medo de entrar em Frenesi.

Vivíamos os prazeres de nossas vidas eternas, aproveitando cada momento que podíamos para beber, dançar e comemorar neste lugar protegido pela magia das trevas onde não temíamos o sol ou caçadores metidos a heróis. Eram tempos memoráveis... Mas ainda assim, nós esquecemos este passado.

Mas... Esses tempos fáceis nos tornou frágeis e despreparados para quando um inimigo de nosso povo invadisse nosso reino. Um grupo de caçadores de vampiros se infiltrou enquanto dormíamos, matou nossos guardas e seus lakavs, bestas sem olhos domesticadas por nós que nos ajudam na caçada e comem a carne que sobra quando nos alimentamos do sangue. Seu objetivo não era qualquer vampiro, era para assassinar a pessoa que nos criou e assim ele fez, com sua espada mágica entregue pelos anjos ele matou a pessoa que nos fez, amaldiçoando a si mesmo e a todos nós, nos condenando a um destino pior que a morte verdadeira.

Logo ele sofreu as consequências de sua vitória quando sua espada santa se tornou uma assassina sanguinária e amaldiçoada, mas os ménestreis sempre esquecem de contar o que houve conosco. Uma linhagem vampira enfraquece com a destruição de seu progenitor, essa é uma verdade que os mortais aprenderam a muito tempo e levou a extinção de muitos de nossos espécies, das centenas de vampiros criados a 100 mil anos atrás, somente duas das linhagens originais sobreviveram: nós e os Masakh.

Eu pude presenciar as últimas palavras de quem nos criou, seu rosto era como o de um anjo mesmo neste momento moribundo, nos disse para vivermos o melhor que pudermos. Mas... Infelizmente não pudemos cumprir este último desejo. Poucos anos após esta perda, nossa sociedade se tornou decadente sem uma liderança centralizada e os mestres perderam o controle de suas crias e os feudos mau cuidados tornarem-se um âmbito de pestes digno daqueles goblins e mitzes¹ nojentos.

A gloriosa Voldenkaiser se transformou num local corrompido e doente. Nós estávamos deprimidos pela perda e buscando o alívio em nossos vícios quando a situação mudou para pior. Com chegada da horda barbarica de Kein, o maldito orc que nos dominou e escravizou, percebemos que era mesmo o fim de nossa era passada e jamais iríamos nos recuperar. Estávamos em menor número, enfraquecidos e sofrendo enquanto aquele bando de criaturas barbaricas atacaram sem parar dia e noite até que vergonhosamente nos rendemos e fomos reduzidos aos escravos de Kein.

O orc monstruoso devorou nossos melhores guerreiros ainda mortos-vivos e no dia seguinte ele tinha toda sua força e poderes. Nós que sobramos fomos forçados a trabalhar para ele cuidando dos animais de montaria e gado, construir as estruturas e carroças e atacar outros povos na linha de frente junto com os outros membros menos valorosos da horda de Kein. Nós tínhamos muita sede e todos as noites sofriamos os abusos daquelas bestas na forma de chicotadas, pauladas e outras punições que até hoje marcam os corpos daqueles que ainda existem desde desta época.

Nossa cultura se perdeu, por mais que anciões como eu tentaram preservar nossa identidade passada, fomos influenciados pelas tribos que nos dominaram. Nosso modo de vida que buscava passar cada momento de nossa eternidade da melhor forma se tornou um hedonismo distorcido, nossa decadência após a perda se tornou uma despreocupação com nosso próprio bem-estar e civilização e o desejo de nos libertar e nos vingar se tornou uma selvageria descontrolada.

Dýrið é como nos chamaram após ver os mais jovens de nossa linhagem famintos e corrompidos avançando com tudo, indo de cabeça para morte no campo de batalha, visando o sangue dos nossos inimigos a qualquer custo, destruindo e derrubando tudo no caminho e dilacerando a carne como os lobos fazem.

A vida de escravo nos tornou mais fortes, mais resistentes a dor e destemidos. Vivemos o inferno, não tínhamos nada a perder, nem mesmo nossas vidas imortais. Nós preferimos morrer a perder a nossa liberdade e esse se tornou o dogma central de todos Dýrið, viver pela liberdade, a todo custo.

Quando Kaida, filha bastarda de Kein, nos libertou, nós voltamos a nossa antiga capital que após tantos anos de abandono havia sido retomada pela natureza e podridão. Nossos xamãs disseram que devíamos abandonar nosso passado e renascer das cinzas, eu não concordei, mas em menor número e sedento não pude fazer nada. Os membros de minha família, minha linhagem, destruíram nosso antigo lar, colocaram fogo nos registros de nosso passado e então reconstruiram suas tribos a partir dos escombros. Nossos lakav se tornaram selvagens em nossa ausência, mas nós também nos tornamos, pude ver vampiros e bestas dormindo juntos, disputando pedaços de carne sangrenta e unidos como nunca antes.

Quando os filhos de Eleanor vieram, julgaram que nós eramos inferiores e selvagens, sem saber nossa história, mas eu acredito que não estão totalmente errados porque o acordo que alguns de nós fizeram para formar a Trindade trai nosso próprio dogma central. Os Edel escravistas e os Masakh cheios de segredos não deveriam pensar que são nossos mestres, nós somos mais fortes, forjados pelos séculos de sofrimento, não devemos nada a eles, mas ainda assim os jovens de nossa linhagem e os mestres preguiçosos se deixam levar pelas mentiras da Trindade Vampírica. Eu mesmo guiaria uma rebelião os malditos não tivessem me apagado da história, me decepado e prendido minha cabeça dentro desta maldita cripta! Malditos sejam Eleanor Von Edelstein e Ab Masakh!

Talvez um dia retomemos o nosso passado, nos tornaremos soberanos acima destes mentirosos e decapitaremos os verdadeiros traidores! Nós vamos recobrar nossa verdadeira liberdade!
Nós, os Dýrið, teremos nossa vingança sobre o mundo e todo sofrimento que nos causaram! Dançaremos e beberemos como fazíamos antes, mas desta vez será sobre os corpos destes ancestrais mesquinhos e bebendo o sangue de suas crias!

Mas até lá... Eu espero pacientemente até a descoberta de minha cripta...

***

¹Mitzes são ratos humanoides, os únicos ferais nativos de Ladjermeniun

Contos De NaestriaOnde histórias criam vida. Descubra agora