Nova Era - Deuses E Mortais

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A maioria das histórias se passa em castelos e terras selvagens, sobre nobres e aventureiros, mas as vezes uma história acontece quando um sátiro menestrel entra em uma taverna de uma pequena vila no sul do lar das serpentes.

"Espera um momento! Para aí na porta."

O taverneiro draconiano anunciou a ordem enquanto mostrava a palma. Logo um clérigo, aparentemente humano, vestido de preto e com o rosto coberto por um véu se aproximou e balançou um objeto com cheiro de incenso e um símbolo que o menestrel reconheceu como sendo de Snata Laab, o Usurpador.

"Eu não tenho um alaúde caso não perceberam."

Ele pegou sua flauta e soprou algumas notas rápidas e belas.

"Ok, esse aqui tá limpo Kodo. Pode entrar."

O clérigo guardou seus itens e se retirou do caminho, de volta para o assento ao lado da porta e levantou o véu um pouco para comer a fatia de torta sobre a mesa. O menestrel andou até a bancada, puxou um banco de madeira e se sentou esperando o taverneiro encher a caneca de um anão com um machado nas costas.

"Desculpe por isso."
"Tudo bem, pelo menos fiquei perfumado. Embora... Honestamente preferiria o perfume de uma bela dama grudado em minhas roupas."

Ele piscou para uma das moças, uma cait sith, sentadas a mesa que estava de frente para ele. A felina respondeu com com o dedo.

"O que vai pedir músico?"
"Água para meu cantil e saquê para minha garganta."
"Deve ter confundido os polos moleque. Estamos bem longe do Amidore."
"Ah, me vê o suco de minha patrona então."

O taverneiro suspira soltando pequenas faíscas elétricas no ar e põe o vinho no copo. Um comentário veio da voz áspera a direita do sátiro.

"Você usou quatro palavras para pedir algo que poderia pedir em uma."

Ele se virou e viu que era um svartálf, com as características orelhas de elfo, pele e cabelos brancos como neve e manchas escuras delineando seus olhos estreitos, vestido de preto das botas até a gola como se eternamente em luto pelos seus antepassados da floresta.

"Mas essa é a beleza da literatura e composição meu bom."

O elfo das profundezas respondeu com um murmúrio de insatisfação antes de levar o copo de vidro até a boca. O taverneiro serviu o copo do sátiro e esse bebeu com prazer.

"Ei, você tem olhos abençoados pelo sol."
"Abençoados? Olhe para mim, não existe bênçãos para os meus."
"De certo, essa é uma característica comum aos humanos e kitsune, mas não aos que passam a vida sob o solo."
"Meu avô era humano. Tem problema com isso?"
"Pelo contrário, acho fascinante! Os filhos dos cinco filhos de Hodrion, cada um deles abençoado pelo Sol de alguma forma."

O taverneiro encheu o copo do músico mais uma vez sem ele pedir.

"Por conta da casa. Me conta essa história."
"Mas é claro bom senhor!"

~~~~~

Há muito tempo, antes das terras se dividirem, os deuses caminhavam sobre a terra. Mas mesmo tendo uns aos outros, eles se sentiam sozinhos. Os deuses criaram os animais e as plantas, mas logo se sentiram entediados pois nenhuma nova história era contada, nenhuma nova música era cantada e nenhum novo assunto era conversado.

Então eles tiveram a ideia de criar seres pensantes como eles mesmos, dotados do dom da fala e da criatividade para cantar e falar como eles. Cada um dos deuses criou seus próprios filhos, de anões à garos, de sereias a goblins, de drakos à elfos e de aracnes à humanos.

Mas dessa vez, vamos falar apenas dos humanos. Os cinco primeiros que caminharam sobre a terra. A princípio todos eles eram como Hodrion, feitos de luz e perfeitos, mas os humanos queriam poder viver entre os outros mortais, poder viver, se apaixonar, morrer e então retornar aos braços de seu pai. Hodrion entendeu o desejo deles, mesmo que quisesse ficar com eles para sempre, ele não era egoísta.

O deus do sol então criou dois corpos materiais para cada um deles e os jovens humanos confusos questionaram porquê.

"Agora vocês são completos e perfeitos.", disse Hodrion, "Mas para viver entre outras de nossa crianças devem ser divididos em dois e cada um buscará sua outra metade, não importa qual seja a forma que assuma, para ser completos novamente."

E assim os cinco foram divididos e cada um deles recebeu um corpo de carne e osso. Para os primeiros que acordaram Hodrion deu bênção da proteção, sua pele negra como o céu noturno os protegia de sua poderosa luz para que pudessem dançar em sua presença sem medo de se queimarem. Para os que se seguiram deu a benção da jornada, com cabelos claros como os raios de sol e o desejo de viajar como ele mesmo faz pelo céu. Em seguida outros receberam a bênção da sabedoria e conhecimentos para sobreviver no deserto onde Hodrion é mais severo, os permitindo construir as grandes estruturas de pedra que continuam de pé até hoje. E então, para aqueles como o avô do cavalheiro a minha direita, os olhos estreitos que podem suportar a luz da Hodrion, para que possam o contemplar e se inspirar para assim criarem as mais belas artes. E por último aqueles que herdaram a maior benção de Hodrion, o coração indomável como um cavalo corre-ventos, com a coragem de enfrentar qualquer perigo das matas.

Cada um deles belo a sua maneira, todos fantásticos e fascinantes, a maravilhosa invenção do Solar, os filhos de seus filhos, os humanos.

~~~~~

"Foi uma bela lenda."

O taverneiro falou satisfeito.

"Pena que é tudo uma grande mentira."
"Como é?"
"Besteira. Tudo isso que você falou."
"Senhor, você não acreditar nos deuses, mas peço que respeite as crenças alheias ou se retire."
"Eu respeito. Mas sou um historiador. Os deuses que veneramos nem mesmo eram nascidos quando os primeiros povos surgiram."
"Ooh, eu conheço essa história! Dizem que Arumi, a heroína lendária, criou os deuses quando fez a magia renascer."
"Isso sim soa como besteira para mim. Não tem como mortais criarem deuses."
"Ficaria surpreso..."

O elfo albino deu outro gole após o comentário cínico.

"Mas se quiser, você pode acreditar nessa mentira. Afinal, se todos acreditarem, ela vira verdade."

Ele deixou algumas moedas na mesa e se retirou, parando antes de sair pela porta.

"Ah, mais uma coisa. Não adianta colocar a própria deusa das travessuras para vigiar caso a deusa das travessuras entre pela porta."

Ele saiu deixando todos confusos, então se viraram para onde o clérigo do Usurpador estava sentado e lá viram uma mulher, sua raça era a mesma de todos ali, mudando conforme os olhos do observador, com os pés ou cascos sobre a mesa e um sorriso de quem acabou acabou de pregar uma pegadinha.

"Até mais e obrigado pela torta!"

E assim a deusa desapareceu, deixando a confusão onde esteve, mas sem causar uma tragédia dessa vez.

Contos De NaestriaOnde histórias criam vida. Descubra agora