Nunca na minha vida pensei chegar tão alto, quer dizer consegui o que queria para mim para a minha vida, vinguei profissionalmente no que queria e cheguei ao topo apenas com 20 anos, não haverá muita gente que possa dizer o mesmo. Pela mão da minha mãe com 3 anos de idade comecei a frequentar aulas de ballet e o que ao início me parecia a coisa mais aborrecida do mundo porque preferia ir antes brincar com as miúdos do bairro, aos 10 já sentia um entusiasmo enorme de cada vez que se chegavam os dias das aulas e lá ia eu a correr com as sapatilhas penduradas do ombro e era sempre a primeira a chegar e a última a deixar a sala querendo sempre e cada vez mais ser a melhor.. Além da sensação de felicidade que me dava elevar-me no ar e de cada jeté, sempre elogiada nos meus perfeitos grand battement a dança foi a minha primeira paixão avassaladora. E todos os que me rodeavam sabiam disso. Com 15 anos fui a convite de um amigo da escola, participar num workshop de dança com uma professora da companhia nacional de bailado, adorei assim como a professora que ficou impressionada com toda aquela sincronia e quis falar comigo no fim do workshop, daí foi um passo para querer conhecer os meus pais e dizeres-lhes que o meu talento se estava a desperdiçar, enfim um sem número de coisas para os convencer a levar-me com ela, o meu pai reticente a minha mãe emocionada (porque dançar também era a sua paixão), os meus irmãos e irmãs de roda do meu pai a incentivarem a dizerem o quanto eu era boa e que seria a minha oportunidade para voos mais altos, a professora Cristina com muita calma lá lhe disse que era uma oportunidade única na vida e que se me deixasse ir ela tomaria conta de mim como se de uma filha se tratasse. E lá fui com 15 anos uma mão cheia de sonhos e muita vontade de aprender mais e mais. Foram anos duros aqueles dois anos passados em Lisboa com desconfianças dos colegas de palco, sérios regimes alimentares e muitos esparadrapos gastos nos pés. Nada que uma tigela com água quente não curasse e a vontade de dançar aumentava a cada dia na esperança de chegar ao topo de ser uma primma ballerina. Aos 17 e com o apoio ainda da professora Cristina peguei em armas e bagagens e fui para Inglaterra tentar entrar na linda peça “O lago dos cisnes” na consagrada The Royal Ballet com o grande bailarino “menino prodigio” Thiago Soares” seria bom, pensei, pelo menos falamos a mesma língua.
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A vida numa dança
RomanceHelena, bailarina profissional em Inglaterra e em fim de carreira por opção. Sam, escocês ator em ascenção, encontram-se nas voltas da vida e tentam superar distâncias, tempo, e conversas exteriores. Manter tudo controlado não é fácil, aceitar as vi...