Nos dois dias seguintes Sam assumiu a sua veia de guia turístico, levou-me a conhecer a história de Stirling assumidamente ligada ao herói escocês William Wallace e aRobett the Bruce o rei escocês que lutou ao seu lado, disse-lhe que é das cidades mais bonitas que já vira, tu vais andando pelas vielas estreitas e sentes o peso da história a escoar pelas paredes como se os seus antepassados caminhassem ao teu lado e te sussurrassem ao ouvido os seus segredos, contei-lhe que conhecia a história do filme de Mel Gibson “Brave heart” contei-lhe dos rios de lágrimas que eu e Ana chorámos de cada vez que víamos o filme, o quanto aquele final era emocionante, ele riu-se.
-Podes ficar descansada que emociona qualquer escocês e nós somos homens de barba rija, quanto mais umas portuguesinhas.
- Portuguesinhas? Deves estar a gozar, por um acaso conheces a história de Portugal?
- Há algum filme conhecido? – perguntou de sobrancelha levantada, carregada de ironia.
-Bem, não sou a melhor para discutir cinema talvez haja, mas sei história e nós temos muitos heróis e heroínas, temos uma história muito rica.
-Humm - fez aquela coisa com a garganta que os escoceses arrogantes e teimosos gostam de fazer – e histórias de amor existem?- Fomos a Abbey Craig até ao monumento dedicado a Wallace. e após 20m de subida sentamo-nos a absorver a paisagem.
- Claro que sim, existe Pedro e Inês um amor lindo de um rei e uma castelã de Castela que era aia da Rainha Constança, viveram um amor que ficou para a história, acabou também num drama, o Rei D. Pedro I depois do pai lhe ter mandado assassinar Inês num dia em que ele não estava, quando chegou carregado de dor pelo acontecido nunca mais perdoou o pai e iniciou várias batalhas contra ele, assim que foi coroado rei, mandou arrancar o coração dos assassinos, vivos ao que dizem, pelo peito
-Bem, muito escocês esse tratamento. – E rimos – também há homens de barba rija em Portugal, estou a ver.
- E mulheres – disse-lhe, batendo-lhe no braço – tivemos a padeira de Aljubarrota que entrou na revolução da independência contra os castelhanos e combatia às pazadas, diz-se que encontrando 7 homens escondidos dentro de um forno matou-os a todos com a sua pá do pão.
-ahahahah, bem essa merece respeito, era uma mulher de barba rija.
- Em Portugal diz-se que é uma mulher de pêlo na venta. – ri-me abraçada a ele.
-E há ainda mulheres assim em Portugal?
- Muitas, a depilação já é um acto decorrente, mas a coragem está no coração das portuguesas, são mulheres de mar e sol, de frio das serras, dos calores abrasadores das planícies secas do Alentejo, são mulheres lindas, inteligentes, batalhadoras.
-Eu sei, - apertou-me contra si- tenho aqui o protótipo comigo – e beijou-me os cabelos. Agarrei-o e beijei-lhe os lábios, tão doces como o mel, era um pecado um homem ter uns lábios tão lindos, enquanto estávamos assim, ouvimos um click. Era uma jovem a uns metros de distância, tirou uma foto e desatou a correr colina abaixo.
-Vou atrás dela? – olhou sem muita vontade de o fazer - não me apetece. Mas apanhava-a. - olhou de esguelha, como que a medir a distância.
-Não, não vale a pena. Ficou feliz. – disse eu com ironia. - Não sei o que esta gente pensa, realmente… pensam que uma pessoa não caga por ser famoso?
- Credo Lena – Sam riu-se da minha explosão – olha a veia da padeira.
-Ah! a sério Sam, não te cansas? Sempre a seres alvo de exposição pública, de fotos adulteradas, de situações constrangedoras, como esta por exemplo?
- Lena, eu disse-te que isso ia acontecer não há forma de parar isto, é pior se me aborrecer, imagina o Fandom revoltado comigo, isso sim assusta mais que mil padeiras com mil pás – e arrepiou-se.
-Sim, imagino que sim, eu também tenho fãs homens e mulheres também me assediam, mas nada do que leio e vejo na net do que se passa contigo, acho que anda tudo com falta de sexo, imaginam-se contigo, beijam-te, fodem-te – escancarei os olhos – sei lá que mais, é muito forte não sei se fosse comigo, se aguentaria.
- Não é contigo? Não sabes se aguentarias? Então o que fazes aqui sentada ao meu lado abraçada comigo? És mais uma? – desviei-me dele, fixou-me o olhar, levantou uma sobrancelha - também me fodeste. – levantei a mão para lhe dar um estalo, segurou-ma, e puxando-me de novo, beijou-me o pulso – como vai ser Helena, vais aguentar e viver comigo o amor de Pedro e Inês.? - nos seus olhos azuis lampejava uma luz intensa que me pedia que ficasse, mas também vi a dúvida e o medo de eu ir sem ele.
-Sam, tenho medo, acho que nunca tive medo de nada na vida, todos os obstáculos foram ultrapassados por mim com muita valentia, não tinha uma pá de padeira mas tinha as minhas sapatilhas, os meus esparadrapos, as minhas fitas, o meu tutu, e apoio da família, da comunidade sempre com muito respeito, isto que te fazem é diferente é uma intrusão na tua vida. – passei-lhe a mão pela face – os nossos mundos são diferentes, o nosso público é diferente, mas eu amo-te muito, muito e vou ficar mas tens de entender que estes medos me assaltam de vez em quando, sou valente mas sou feita de carne e osso e Sam isto não é fácil de aceitar, deverias fazer como Wallace chegar a beira do penhasco e gritar : LIBERDADE!!! .
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A vida numa dança
RomanceHelena, bailarina profissional em Inglaterra e em fim de carreira por opção. Sam, escocês ator em ascenção, encontram-se nas voltas da vida e tentam superar distâncias, tempo, e conversas exteriores. Manter tudo controlado não é fácil, aceitar as vi...