Namoro Portátil

Capítulo 14 (Você permitiu que ela tocasse seu rádio?)

A música alta preenchia o carro enquanto Samuel dirigia, batendo a mão no volante no ritmo do rap que tocava. Seus lábios se moviam enquanto ele murmurava a letra, claramente entretido.

Eu, por outro lado, sentada no banco do passageiro, estava sofrendo. Minha testa franziu e meus olhos se estreitaram ao tentar entender uma única palavra do que o cantor dizia. Tudo parecia uma mistura de batidas caóticas e palavras atropeladas.

Não aguentei mais.

- Que porcaria é essa que você está ouvindo? - questionei, olhando para ele com um misto de incredulidade e desespero.

Sem tirar os olhos da estrada, ele sorriu de canto.

- Você não sabe do que está falando. Essa é uma ótima música.

Revirei os olhos e cruzei os braços.

- Ótima mesmo, minhas orelhas estão sangrando.

Impaciente, inclinei-me para o painel do carro e comecei a mexer no rádio. Girei o botão até encontrar uma estação que tocava algo mais agradável. De repente, "Treat You Better" do Shawn Mendes preencheu o carro. Um sorriso satisfeito se formou nos meus lábios.

- Agora, sim, isso é música de verdade. - Apoiei a cabeça contra o encosto do banco e fechei os olhos, aproveitando a melodia suave.

Do meu lado, Samuel soltou um suspiro dramático.

- Sério? Shawn Mendes?

- Sim! - Abri os olhos e me virei para encará-lo. - Ele é incrível. Você não tem bom gosto.

Ele ergueu uma sobrancelha, lançando-me um olhar rápido antes de voltar a prestar atenção na estrada.

- Melhor do que a porcaria que você estava ouvindo. - acrescentei, insistente.

Ele soltou uma risada divertida, e eu, sem pensar, mostrei a língua para ele como resposta.

- Madura real. - Ele zombou, balançando a cabeça.

Ignorei o comentário e comecei a cantar as letras da música, imersa na melodia. Para minha surpresa, ele não mudou a estação. Permanecemos assim pelo resto do trajeto, o carro preenchido por um silêncio confortável, apenas quebrado pelo som da música e da minha voz cantando.

●●●

Minutos depois, Samuel estacionou o carro no estacionamento da escola. Assim que saímos, percebi um carro familiar parado ao lado do dele. O veículo preto brilhante de Adam.

Logo, a porta do carro se abriu e Adam saiu, caminhando até nós com um olhar curioso. Assim que se aproximou, ele franziu o cenho e inclinou a cabeça levemente para o lado.

- Você estava ouvindo... Shawn Mendes? - Sua voz saiu carregada de surpresa e um leve tom de zombaria enquanto olhava diretamente para Samuel.

O comentário me fez sorrir.

- Eu mudei a estação porque ele não tem gosto musical. - Respondi antes que Samuel pudesse dizer qualquer coisa.

Adam arqueou as sobrancelhas e virou-se para encarar Samuel, claramente intrigado.

- Espera... você deixou ela tocar no seu rádio? - Ele piscou algumas vezes, como se tentasse absorver a informação. - Você nunca deixa ninguém tocar no seu rádio.

Samuel apenas deu de ombros.

- Ela é teimosa. Eu sabia que, se eu mudasse de volta, ela iria mudar de novo de qualquer maneira.

Adam manteve o olhar fixo em Samuel, como se estivesse tentando resolver um enigma. Aos poucos, um sorriso se formou em seus lábios.

- Não é nada, não. Não é nada. - murmurou, ainda sorrindo.

Ia perguntar o que ele queria dizer com aquilo, mas, antes que eu pudesse abrir a boca, ouvi alguém chamando meu nome.

Levantei o olhar e vi Violeta me esperando na entrada da escola, acenando animadamente.

- Vocês podem continuar sendo esquisitos. Eu tenho que ir. - Falei rapidamente, antes de me virar e seguir até minha amiga, deixando os garotos para trás.

●●●

O segundo período havia começado e eu estava na aula de inglês, organizando meus materiais para as próximas aulas. Peguei meu caderno e abri na página certa, preparada para copiar qualquer coisa que a professora passasse.

Foi então que senti um movimento ao meu lado.

Minha expressão se fechou instantaneamente.

Lucas.

Minha raiva borbulhou no instante em que percebi quem era.

Ele sentou-se casualmente ao meu lado, como se nada tivesse acontecido, como se os últimos meses tivessem sido apagados.

Cerrei os punhos.

- O que você está fazendo aqui? - Minha voz saiu carregada de hostilidade enquanto lançava a ele um olhar afiado.

Ele inclinou-se levemente, tentando parecer descontraído.

- Isso é chamado de stalking, e já está ficando chato. - acrescentei, bufando de irritação.

Lucas sorriu de canto, ignorando minha irritação.

- Nós costumávamos sentar juntos.

Meu corpo ficou tenso. Ele disse isso como se fosse um argumento válido, como se o que ele tinha feito pudesse ser ignorado tão facilmente.

- Isso foi antes de você brincar comigo como se eu fosse uma marionete. - respondi, cerrando os dentes.

Fechei meu caderno bruscamente e agarrei minha mochila, determinada a trocar de lugar. Eu não precisava me sentar ao lado dele. Não queria ficar ao lado dele.

Mas ao olhar ao redor da sala, meu coração afundou.

Todos os lugares estavam ocupados.

Soltei um suspiro de frustração e afundei no assento, encarando o universo que parecia estar contra mim.

Só preciso ignorá-lo. Só preciso sobreviver até o final da aula.

Mas Lucas não facilitou.

- Eu preciso falar com você. - Sua voz cortou o silêncio entre nós.

Olhei para frente, fingindo que ele não existia.

- Acho que não. - murmurei.

- Por favor. Só três minutos do seu tempo. Depois da escola, no campo.

Revirei os olhos.

- Depois que você me ouvir, prometo que não vou mais te incomodar.

Ah, claro. Como se Lucas fosse cumprir essa promessa.

Mantive o olhar fixo na professora, mas suas palavras continuaram ecoando na minha mente.

Respirei fundo, ponderando. Talvez ouvir o que ele tem a dizer fosse a única maneira de encerrar isso de vez.

Depois de alguns segundos, finalmente me virei para ele e o encarei.

- Tudo bem. Eu vou ouvir. Mas só isso.

Se ouvir o que ele tem a dizer me permitisse acabar com essa história de uma vez por todas, então talvez valesse a pena.

Lucas sorriu, como se tivesse conseguido o que queria.

Mas ele não sabia que aquela conversa não mudaria nada.