A cortina balança com o vento vindo da janela como água fluida. Estou a horas observando, já nem sei quantas. Em pequenos intervalos, ouço batidas na porta trancada, suspiros, ofertas de paz como comidas, bebidas ou doces. Funcionou tantas vezes, por que não agora? Mas das outras vezes, eram pequenas promessas quebradas. Pedidos negados. Agora, é muito mais que isso.
Aqui, deitada na cama, as lágrimas já secaram em meus olhos. Tudo o que eu consigo pensar é em como algo assim foi acontecer. Talvez minha mãe tenha razão, talvez se não tivessem me contado nada, eu estaria bem melhor. Como? Por que? Essas duas perguntas pairam em minha cabeça como um gavião em busca da caça.
Meu celular toca mais uma vez, avisando outra mensagem. Imagino que seja de Emily. Todas elas, já que eu não falei nada desde que fomos ao shopping. Ela deve estar preocupada, imaginando um milhão de possibilidades com aquela cabeça fértil demais. Mas não consigo olhar as mensagens, muito menos pensar em responder qualquer pergunta. Eu não sei se consigo contar a ela, não consigo nem pensar direito, como vou desabafar com alguém?
Ela sabe tanto. Eu já contei tanto. Não posso contar mais nada, ou ela estaria em perigo também. Se eu com minhas habilidades, e meus pais soldados já corro risco, Emily estaria morta. Não posso e não vou fazer isso com a minha amiga. Estou de mãos atadas. Quebrada, chateada, incapaz de produzir uma simples faísca em mim. Mesmo assim, depois de horas, consigo sentir as chamas agitadas embaixo da pele fria, correndo como o sangue em minhas veias, a água que deveria compor 70% do meu corpo.
Queria apenas cair no sono, ou talvez acordar desse pesadelo. Mas ele não vem. Centenas, milhares de pensamentos assolam minha cabeça, meu coração parece acelerar e parar a cada 5 minutos, minha garganta mantém um nó que parece impossível de desfazer. Eu rolo para fora da cama enorme que estive deitada até agora, passeando pelo quarto. Passo os dedos pela penteadeira que usei antes, ao lado da cama, indo para o parapeito da janela. Eu preciso de ar, ar fresco.
O céu está limpo, as estrelas brilham como nunca vi antes. Avesso ao que acontece aqui em baixo. E a lua, coroada com sua luz, aparece bem acima de mim. Cheia, com todo o poder que pode dar. Sempre amei o céu, mas hoje, nem ele pode me fazer sentir melhor.
O barulho nos arbustos me chama atenção. Quando eu olho lá embaixo, vejo que alguém pulou a cerca, e anda sobre as flores em direção a minha janela. A luz é pouca, e eu poderia nunca reconhecer o intruso, se já não conhecesse tão bem aquela silhueta.
Eu observo enquanto ele anda, com as mãos nos bolsos e os olhos atentos por todos os lados, até os levantarem para mim. Mesmo no escuro, pude ver que sorriu, tirou o celular do bolso e apontou o aparelho, fazendo sinal para que eu pegasse o meu.
Entrei de volta no meu quarto, pegando o celular que tinha deixado em cima da cama, ao lado do travesseiro.
Eu estava errada. Quer dizer, tinham mensagens de Emily, mas nada demais. Todas as outras eram dele, Christopher Jonas.
Oi
Cheguei e queria te ver
Está em casa?
Uma hora se passou depois dessas mensagens, e aí vem outra.
Scar? Tudo bem?
E outras parecidas vem depois. Cheias de preocupação, além de 3 ligações perdidas.
Enquanto estou lendo, o celular toca de novo, e o nome de Chris brilha na tela.
- Parece que seu celular funciona, afinal! – Ele diz do outro lado da linha, em tom de brincadeira.
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Beijada pelo Fogo
FantasyScarlet cresceu ouvindo histórias sobre Aurora, o lugar onde nasceu e de onde fugiu ainda recém nascida. As aventuras que seus pais viveram pareciam boas demais para não voltar agora, e com uma inscrição para a Academia Preparatória de Aurora, Scarl...