Beijada pelo Fogo

20. JUNTANDO OS PEDAÇOS

- Então, como foi? – Chris pergunta assim que abro a porta do meu quarto, pulando da cama e vindo em minha direção.

- Foi bem! – Minto para não ter que dizer mais.

A verdade é que durante todo o caminho de volta, não ouvi nada do que Íris disse ou realmente vi o caminho, simplesmente andei como um robô guiado por seu mestre. Meus pensamentos ainda na conversa de tive com Akihah, cada uma de suas palavras ecoando em minha cabeça. Mas uma frase em especial se destaca.

Você será a salvação ou a ruína completa de Aurora como a conhecemos. Esteja preparada.

Foi o que Juheyac disse, Akihah e Dalia ouviram e ainda assim, não se moveram ou conversaram comigo para tentar me impedir. Na verdade, me deram ainda mais uma coisa com que me preocupar.

Eu poderia simplesmente ir embora sem Aurora nunca saber quem realmente sou, o povo não precisaria saber. Mas os Elfos podem sim ler o futuro, e suas profecias são sempre realizadas, não importa como ou quando. Pode demorar milênios, ou horas, mas sempre se concretizam. Akihah e Juheyac disseram claramente que tinha chegado a hora, que eu cumpriria a profecia. Mas como?

- E o que mais? O que disseram? – Chris volta a perguntar. Eu suspiro pesado, desviando dele e me deitando na cama macia, querendo mais que tudo dormir como a bela adormecida e nunca mais acordar.

- Disseram que estavam felizes por conhecer a princesa de Aurora. – Eu não menti, eles disseram isso assim que nos cumprimentaram. – Só queriam me ver. – Completo para que ele pare de falar e me deixe pensar.

- Você está bem?

- Apenas cansada. – Digo baixo, fechando os olhos involuntariamente. – É cansativo viajar por portais.

Sem fazer mais perguntas, imagino Chris apenas concordando com a cabeça e quando sinto seu peso do meu lado, sei que está deitado junto comigo.

- Sophia veio aqui enquanto esteve fora. – Ele diz e eu me mexo para apoiar a cabeça em seu peito quando sinto o seu braço ser estendido, do mesmo jeito que fazíamos quando ele dormia ao meu lado em casa. Quando subia pela minha janela e ficávamos conversando até tarde.

- Uhum... – Resmungo para que ele continue.

- Combinamos de ir no restaurante da Agatha amanhã, todos nós. O que acha?

- Uhum. – Concordo e respiro fundo, inalando seu cheiro.

- Que bom que voltou. – Chris sussurra por fim acariciando meu cabelo, ou pelo menos, é a última coisa que ouço e sinto antes de adormecer.

Estranhamente, não acordo com Lya me chamando ou mesmo com a luz da porta de vidro da sacada, mas por mim mesma. Sinto a minha volta o braço de Chris que ainda me envolve mesmo depois de uma noite inteira. Levanto os olhos para ver seu rosto sereno. Os olhos fechados, os cílios sombreando a bochecha. Seus lábios avermelhados e parecendo tão macios estão fechados, relaxados pelo sono. Seu peito sobe e desce contra meu corpo e devagar para não acordá-lo, levo minha mão para sentir seu coração bater contra meus dedos.

- O que está fazendo? – Ele resmunga com a voz rouca, ainda de olhos fechados. Eu sorrio.

- Bom dia, flor do dia. Sabe o quanto me fez esperar?

- 12 segundos. – Ele responde, me fazendo franzir o cenho. Mas Chris, ao contrário, apenas ri. – Agente prodígio, lembra?

- Mas você estava dormindo. – O garoto assente, finalmente se mexendo e abrindo os olhos para me olhar. – Então como...?