12. NÃO SE PODE ACHAR O QUE JÁ ESTÁ PERDIDO

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Já tive aulas de trigonometria na escola, ensino médio. Mas apesar de gostar de exatas, não aprendi em três anos inteiros o que aprendi aqui em duas horas. Ou melhor, o que consegui prestar atenção.

Sophia prometeu me ajudar com tudo o que eu preciso e agora, acha que o que eu preciso saber primeiro é da história de Chris. A história inteira. Apesar de concordar que estou começando a odiar não saber direito quem ele era antes de me conhecer e quem foi enquanto fomos amigos, não acho que esse seja o momento certo. Apesar do rosto sereno como os rios que controla, duvido que Henrique Dost, o professor que explica a matéria lá na frente tolere conversas paralelas.

Com toda a paciência e paixão, Henrique explica como usar a trigonometria em segundos e assim, acertar o alvo em cheio. Seja com uma arma ou com seus próprios poderes.

- O que você sabe até agora? – Sophia sussurra para mim. Hoje ela dispensou um lugar ao lado de Ryan para se sentar ao meu lado. Achei que fosse uma boa ideia, isso até ela começar.

- Sophia, podemos falar disso depois?

- Quanto mais cedo começar, mais cedo vai embora. Não é isso que quer? – Ela pergunta com a voz afetada.

- E eu achei que fosse exatamente o que você não queria. – Comento, sussurrando de volta e dessa vez, olhando-a diretamente nos olhos.

- Não é. Mas se for logo... – Ela abaixa a cabeça engolindo em seco. – Se for rápido, vou ter menos tempo para me apegar a você.

Sua voz soa triste, realmente sentindo o peso das palavras e, pela primeira vez, sinto o peso das minhas próprias atitudes. Nunca pensei em como as pessoas que me conheceram aqui se sentiriam quando eu fosse embora. Como Sophia, Ryan, Mackenzie, Lya e as meninas. Até mesmo Joshua e Chris. Vou deixar todos eles para trás e iria fazer isso sem nem pensar duas vezes. Isso até ouvir Sophia e finalmente... pensar.

- Sophia... – Chamo, mas o movimento a nossa frente não me deixa terminar.

Henrique Dost saiu de sua bancada, onde riscava numa lousa e veio até nós. Silencioso, cuidadoso como uma pantera. Seus olhos brilham olhando para nós e, quando cruza os braços, os músculos acentuam na camiseta fina e fresca que usa.

- Atrapalho, meninas? – Ele pergunta, e mesmo sabendo que está nos repreendendo, sua voz aveludada ainda me faz sentir bem.

- Desculpe. – Eu peço, olhando de lado para Sophia que recupera a postura e olha para frente.

O professor parece perceber que não é apenas uma conversa para fofocar, como normalmente seria. Na verdade, é algo mais sério que isso. Se meus cálculos estiverem certos, ele sabe quem sou, e se tiver vivido realmente em Aurora nos últimos anos, sabe quem Sophia é. Ele solta um suspiro, um aviso para que tomemos mais cuidado.

- Sophia. – Chamo quando ele vira as costas, voltando a aula. – Podemos falar sobre isso depois.

A resposta vem em minha cabeça, como frases em um livro, ditadas pela própria Sophia.

Tem muita gente prestando atenção agora e eu não sei se consigo dizer qualquer coisa, vamos conversar quando sairmos. Quero te levar a um lugar.

Eu apenas concordo com a cabeça e o restante da aula foi quase uma tortura, esperar e ainda pensar nessas coisas me deixou desconfortável e pior, me deixou com um pé atrás de ir embora.

Sophia prometeu que não entraria mais em minha cabeça a menos que eu desse permissão, nesse momento espero que ela cumpra com a promessa, ou poderia criar expectativas erradas e não quero magoar mais ninguém.

Beijada pelo FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora