7. CONVERSAS ESTRANHAS NUM ALMOÇO ESTRANHO

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É estranho como todos se dispersam. Na escola, mesmo com uma repreensão, uma vitória era uma vitória e comemorávamos a altura. Já aqui, todos saem em silencio, murmurando entre si e de cabeças baixas.

Não tem espaço para erros numa luta de verdade.

Quando entrei na adolescência, odiava os treinamentos por me privarem de algumas saídas com meus amigos. Um dia, quando estava distraída e fui derrotada por diversas vezes, mesmo com meu pai dizendo que eu devia prestar atenção, não conseguia entender o porquê de um treinamento ser levado tão a sério. Quando me recusei a dar qualquer passo ou golpe a mais, foi isso que ele me disse.

Numa luta para valer, o adversário não vai esperar que se prepare, pelo contrário, ele vai aproveitar do seu despreparo. Se você está fazendo algo errado, melhor para o inimigo. É por isso que não estão felizes, mesmo sendo vitoriosos. Não foi realmente uma vitória se erraram tanto.

- Scar? – Chris me chama, me tirando das minhas lembranças.

- Hum? – Respondo distraída, ele sorri.

- Vem! Vamos comer e tem alguém que quero que conheça. – Com um aceno ele me chama para perto.

Por não ter tomado café, mesmo sem ter feito muito esforço, estou com fome. Assim, eu o sigo para onde quer que vá.

Fazemos quase o mesmo caminho de quando viemos, mas invés de voltar pela estrada do castelo, fomos para o lado oposto. Enquanto caminhávamos, as ruas começaram a mudar e encher. Pessoas de todos os jeitos e maneiras como uma verdadeira cidade.

- Como sabe todas aquelas coisas? – Perguntei para Chris, não aguentando mais a curiosidade.

- Eu treinei. E você também, só não associa as coisas ainda. – Ele respondeu desviando de um homem alto com sacolas nos braços.

- Tá, mas e o que o Sr. Zacherry disse sobre ter te ensinado quando criança?

- Já disse que pode chamá-lo de Robert. É mais confortável.

- Isso não vem ao caso agora. – O corto quando percebo que está desviando o assunto. – Você disse que foi enviado com a missão de me proteger. Não tinha pensado muito bem nisso até agora, mas você tinha 10 anos quando nos conhecemos. Como um menino de 10 anos pode me proteger?

Ele suspira, estica o pescoço por cima da multidão e franze o cenho. Minha pergunta continua não respondida, e ele nem presta atenção. Ou melhor, finge não prestar.

- Estamos quase lá, vem! – Ele volta com animação. Os olhos abertos com as sobrancelhas erguidas e um sorriso no rosto.

Quando percebo, está com meu pulso em suas mãos, me puxando pela multidão para frente e além. Eu não faço ideia de onde estamos indo, e sempre odiei isso. Não saber onde estou, para onde vou. Uma cidade nova que eu nem conheço, com pessoas que nunca vi. Por que eu queria vir para cá mesmo?

Chris para de repente. Olho para ele e seu peito sobe e desce ofegante, e seu rosto quase parece brilhar. Sua visão está fixa a frente, e quando olho, tudo o que vejo é uma porta branca acima de alguns degraus com corrimões rodeado de flores. No pequeno hall antes da porta, uma placa no chão recepciona os clientes e informa o destaque do cardápio de hoje.

Riclix com molho Pixye.

É uma porta simples, quadrada com marcas geométricas. Nas laterais, grandes janelas de vidro que mostram as pessoas lá dentro, comendo e rindo com seus parceiros de mesa.

- É fofo. Vamos comer aqui? – Comento, perguntando sem tirar os olhos da estrutura.

- A melhor comida de Aurora. – Responde Chris com uma respiração profunda. Ele sorri, e como se saísse de um transe, sobe as escadas e abre a porta, dando espaço para que eu entre antes. E assim o faço.

Beijada pelo FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora