Eu finjo que acredito

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     Me levantei, fiz tudo o que tinha que fazer, então avisei Jonathan que poderíamos começar nossa terceira sessão. Ele novamente quis falar de sua infância, sua voz estava penosa, pois lembrar de como seus pais eram cruéis com ele o deixava triste.

     Sempre quis ser psicóloga, mas meus pais nunca apoiaram isso, o que é ruim para qualquer pessoa, ter um sonho que sua família não aprova. Jonathan sabe sobre isso, pois comentei que tínhamos essa parte de nossas vidas em comum, meus pais também eram ruins comigo. Eu tive uma infância mais normal do que a dele mesmo tendo pais tão ruins quanto os dele. Vinha de uma cidade pequena, onde a tecnologia não havia chegado com tanta força, então ele não tinha muito o que fazer em casa, ainda mais com pais como aqueles.

     Não sei ao certo qual a idade de Jonathan, parece mais velho do que realmente é. Dizem que o hospício envelhece as pessoas, então acredito que ele não deva ter sido muito amigo do tempo.

     Tenho certeza que ninguém iria acreditar em tudo o que ele me diz, e nem sei se seria só pelo fato de ter passado quase toda a vida preso junto com um monte de pessoas lunáticas, sei bem que esse tipo de lugar destrói a mente das pessoas ainda mais, pois loucura é contagiosa. Ele está cada vez mais perto da decadência, duvido que se lembre de tudo o que diz ter vivido naquele lugar, mas continuo anotando em meu caderno cada palavra que ele me diz.

     Sua história é um tanto peculiar, não tem um começo em um nascimento, ou pelo menos é o que ele me disse. Aparentemente ainda esta louco, pois garante que não teve que nascer, mas continuo escrevendo, seja lá o que ele acredite ter passado.

     A adolescência de Jonathan foi um pouco mais estranha em minha opinião. Ele diz que foi nessa época que todos diziam que ele era maluco, mas garante que só diziam isso para irritá-lo, pois ele era mais inteligente do que todos que conhecia. Me contou um caso desse período de seu passado. Falou sobre uma garota, e diz ter se apaixonado perdidamente por ela, o que é normal na adolescência. Mas a parte bizarra veio logo em seguida, ele me contou que fazia amor com ela todos os dias, e quando descobriram tentaram matá-lo.

     Talvez o nome "Jonathan" seja uma invenção dele, pois às vezes quando o chamo desta forma ele me da sempre uma risada, mas vou continuar com nossas conversas, pois loucos tem seu tempo, sei que uma hora ele vai se cansar e me dirá toda a verdade, seja ela qual for.

     Não tenho muito tempo para mim, meu trabalho me consome muito, mas é o que preciso fazer, pois lutei para chegar até onde cheguei. Sei que ninguém sonha em falar com loucos todos os dias, mas foi à oportunidade que me apareceu, e a agarrei sem medo, sei que não ficarei louca só por isso, falar com malucos não vai mudar quem sou.

     Na quinta sessão consegui tirar mais coisas de Jonathan, ele foi para o exército, o que não me surpreende, mas como vi que era louco achei meio estranho deixá-lo entrar lá. Disse que as pessoas não gostavam dele, e começo a ver um padrão nessa história, pois aparentemente ninguém nunca gosta de Jonathan, o que é uma boa característica de um maluco, ser odiado por todos a sua volta.

     No exército ele matou um companheiro, o que o levou direto para a cadeia, mas disse que só ficou lá por alguns dias, pois descobriram que ele era louco. Confesso que não sei como alguém consegue mentir sobre sua loucura, mas provavelmente psicopatas devem ter essa habilidade.

     Jonathan disse ter ficado no hospício muitos anos, pois ninguém o tirava de lá, e eu não achei isso estranho, era lá que ele deveria ficar. Ele me garantiu que não era maluco, várias vezes, até registrei todas elas em meu caderno, mas rabisquei algumas, pois ficaria muito repetitivo, e afinal de contas, eu sei que ele era maluco de fato.

     Talvez eu seja ingênua, talvez Jonathan nem se chame assim, não consegui saber seu nome verdadeiro, mas já estava terminando as páginas do caderno, então resolvi deixar esse enigma para quem o resolvesse ler algum dia.

     Levantei cedo como de costume, sai da cama olhando em todas as direções, tudo calmo como tinha que estar. Meus pais estavam amarrados num canto da sala já com os olhos vermelhos de tanto chorar, peguei mais um pouco de sangue deles para que lembrassem o quanto desperdicei minha vida por não conseguir ser psicóloga, e fui direto para minha sala de estar, tirei minhas roupas e me sentei no chão gelado, rabisquei no piso um pentagrama usando o sangue deles e quando a entidade apareceu disse para Jonathan que poderíamos iniciar nossa sétima sessão. E mesmo não querendo registrar no caderno o que eu imaginava, acabei lhe dizendo que já havia matado sua charada, pois entendi que todas as suas histórias não passavam de possessões em que ele esteve presente.


MINI CONTO #07

     Minha esposa está fazendo compras em um mercado aqui perto. Decidi seguí-la, pois suspeito que ela esteja se encontrando com um homem quando não estou por perto.

     Não precisei esperar muito, o canalha apareceu e a beijou no rosto. Ele tem um filho, então vou começar lhe ensinando como é ver alguém que ama sendo tirado de você.

     Pretendo torturá-lo durante vários dias antede de matá-lo, isso vai simbolizar a grande dor que é vê-la com outro.

     Os dois saem do mercado juntos, e eu penso nos detalhes. Só queria que minha esposa soubesse que eu existo, assim veria o que sou capaz de fazer por amor.

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