63 - Despedida.

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Nossa vida é bandida e o nosso jogo é bruto, hoje somos festa, amanhã seremos luto.

— Coe LN, to nem entendendo esses teus papos aí — Jota me olhou atravessado

— Vou sair mano, já dei os papos no Martins já — falei tragando

— Tu não pode ir saindo assim não, viado, largando nós aqui — GB falou do meu lado

— Ah mano, eu vou ta sempre aqui tá ligado? Ninguém larga o tráfico por completo, mas quero ficar suave curtindo o crescimento da minha pequena  — GB concordou

— Tá certo, po, se eu tivesse coragem faria o mesmo — FB falou mancando em direção à uma cadeira

— Irmão, tem essa de coragem não, uma hora nós cansa dessa vida, dá não menor — falei sentindo uma sensação estranha

— Mas aí, éramos feliz pra caralho fala — Jota falou rindo — Maycon vacilou? vacilou mas o menor era comédia demais, melhor época.

— Puxou longe em, João — falei fazendo eles rirem — Nossa época foi a melhor, não tem jeito, melhor formação!

— Só menor maluco, tudo neurótico, caralho, não tinha ninguém que batia de frente — GB disse encostado no muro

— Papo, a vida levou vários amigos, vários viraram x9, mas aí, essa tropa aqui não se separa não — Jota falou fazendo geral concordar

— Época que o Martins era brabo, casca grossa, hoje é só saudades — FB falou pensativo

— Paizão tá antigo já — falei rindo — Cansado, mas solta uma rajada aí pra ver se ele não brota na trocação — riram

— Papo reto, quem nasceu pro bagulho, nasceu, não adianta — GB disse acendendo mais um — Tu vai meter o pé, LN? — se virou pra mim

— Tô vendo a melhor forma, tenho uma missão antes — falei olhando a paisagem do mirante

— Ih, tá de segredo, que missão? — FB perguntou

— Julinho — falei rápido

— Vai passar? — Jota perguntou

— Não, só um susto só — falei fazendo eles concordarem

— Tô junto contigo, não gosto desse menor não — FB falou

— Claro, tu comeu a mulher dele — GB falou fazendo geral rir, o mais comédia de todos

Namoral, esses moleques são meus fechamentos purinhos, não dá, parece que nascemos pra fechar junto mermo, não tem tempo ruim com a gente, tamo aí juntão pro que der e vier.

Marolamos a madrugada toda ali, bebendo e fumando até amanhecer, eu vou desenrolar com o Martins hoje, ja tá decidido, vou sair.

07h embicamos pra casa, no meio do caminho escutamos uma rajada alta, cantando no alto do Morro, paramos no meio do caminho para ver se era isso mesmo, em seguida mais uma, dois minutos depois, várias rajadas, tiro pra caralho.

Mataram o Martins, LN, cadê tu irmão? Pegaram o Martins, cadê os moleques, a favela tá cheia de cara de mascarado  — a voz desesperada do menor soou no meu rádio, meu coração veio na boca

— Já tamo chegando, continua na trocação, não arrega não — falei no rádio arrumando o fuzil

— Caralho, mataram o paizão, LN? Que papo é esse, irmão, quem são esses caras? — FB disse desesperado no volante

— Cala boca porra, dirige essa caralho — falei nervoso, que brincadeira é essa?

— Vamos fugir, porra, vão passar a gente também, caralho, nós vai morrer se brotar lá — GB gritou, jota tava passando o rádio para os menor para saber em qual posição os caras estavam

— Vai arregar filhos a puta? Tu é cuzão a esse ponto? — falei puto me virando pra ele

— Nós vai morrer LN, me escuta mano — GB disse desesperado

Quando o FB subiu na rua da 13, tava tampado de carros, a gente desceu já na contenção, a questão era, invadir atirando ou entrar tranquilo? A rua tava vazia, eles poderiam estar escondidos, ninguém sabe quem são.

Jota pulou do carro com o fuzil apontado já, eu já desci tranquilo, GB veio atrás e FB correu pra dentro, quando abrimos a porta, não tinha ninguém, o movimento tava lá em cima, na lage, nós subimos mais um pouco, a cena era forte pra caralho, a conversa parou quando chegamos.

— Que porra..??— FB falou nervoso olhando a cena

— Vim vingar meu pai — o Caio, filho do tico, tava todo equipado, o moleque tinha entrado pro movimento

— Menor, que porra tu fez? — Jota disse puto, tinha ele e mais 10

— Esse filho da puta matou meu pai por olho grande, se vocês não quiserem seguir o mesmo caminho que ele, acho bom me escutar — Caio falou cheio de marra

— Tu não pode brotar na nossa favela assim não, tá achando que tu é quem? — falei puto

— LN, te respeito pra caralho, mas ambicioso morre cedo, tu sabe mais do que eu o quanto o Martins era trairia — o moleque falou frio

— Os moleques vão te pegar, Caio, a vai ser cobrado, como que tu faz um negócio desse? — GB falou — O paizão, caralho! — falou abaixando perto do corpo, eu não conseguia nem olhar

— Geral tá comigo, geral já tava ligado na dele, aos soldados de vocês, acho bom começar a fazer a modelagem, eu não vou tomar a favela, não quero isso pra mim, não fiz nada com nenhum morador, apenas vim cumprir o prometido — ele suspirou — Já tava tudo planejado, vai ter a reunião, tô vazando — eu tava sem acreditar

Ele saiu e os caras foram atrás dele, o corpo do Martins ainda estava ali, eu não conseguia nem olhar, eu desci atrás dele, e ainda consegue parar ele, desenrolou comigo que os caras vão  brotar pra desenrolar com geral, o Martins infelizmente só tava pagando o preço que ele mesmo deu, nada de novo, eu sabia que ele tinha traído o tico, só não esperava essa reação do Caio.

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Olhares - Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora