Olhares - Livro 2.

67 - Milena/Luan.

Milena.

Suspirei alisando a barriguinha da Luana, quase não tinha volume ainda, mas já dava pra sentir um pouquinho.

— O que você acha que é? — ela perguntou pra mim

— Menina, não sei — falei rindo — Mas você tem cara de mãe de menino!

— Eu acho que é menino — falou pensativa — Mas o que vier tá bom — riu

— Como você se sente? — perguntei

— Bem, amiga! — falou baixo

Eu fiquei calada, nada do que eu falar de fato confortaria, a Luana está em depressão, isso é visível, é algo que acompanha ela desde da primeira gravidez dela, onde ela perdeu o filho de uma forma tão brusca e dolorosa, hoje, grávida novamente, isso voltou com força total, por mais que ela esteja fazendo acompanhamento psicológicos, é visível o sofrimento.

— E aí mulheres — Luan apareceu na sala com a Lavínia no colo

— Hey, little baby — levantei pra pegar a Lavínia

— Papapa — tentou falar esticando os bracinhos pra mim

— Ela quer falar papai, olha Milena — Luan falou todo bobo

— Mamãe, mamãe — incentivei fazendo uma dancinha pra ela — Fala amor, mamãe — ela riu mexendo as mãozinhas

— Ela não vai falar, Milena, desiste — Luana falou rindo do sofá

Eu peguei ela no colo, agora mais pesada do que antes e fiquei brincando enquantoo Luan conversava com a Luana.

Eu sentia uma angústia estranha no peito e só rezava mentalmente para nada de ruim acontecer mais.

— Vou ralar — Luan olhou pra mim — Vai rolar uma reunião, tenho que tá lá — concordei

Ele deu um beijo na Luana e um selinho em mim, a Lavínia se esticou toda pra ir pro colo dele mas ele só brincou que ia pegar ela, quando ele saiu ela abriu a cara a chorar.

— Ah, filha, daqui a pouco ele tá voltando — falei alisando o cabelo dela

— Não chora, titia — Luana falou se levantando — iti malia, que neném chorona — brincou

Luan.

Sai de casa na tensão já, passei um rádio pro FB e ele já tava lá, a favela tá agitada, geral na tensão.

Entrei no carro e sai na mola com os menor atrás, se Deus quiser hoje eu dou um sossego maneiro pra eles.

Não vejo a hora desse bagulho ser resolvido logo, papo reto, o tempo só tá passando e nada se resolve, tô puto, nem pagamento nós tem, que porra é essa? Viramos ovários agora? Coe cara, não aceito essa covardia aí não.

Sai do carro e subi na lage, falei com uns moleques que tavam ali já e parei do lado do GB.

— Já falaram alguma coisa? — perguntei

— Nada, po, só tá chegando esses moleques chei de marra aí — apontou com a cabeça

— Esse bagulho vai dar ko, espera só — ele concordou

— Jota já tá no ódio já, LN, doidinho pra arrumar uma confusão aqui hoje — falou olhando pra frente

— Porra, espero que ele não atrase esse bagulho, custou pra essa reunião acontecer — falei procurando o Jota com o olhar

— O brabo já tá aí já, mas acho que tão esperando alguém chegar — concordei

Depois de maior enrolação, já tinha fumado uns 4 cigarros, os caras começaram a falar, a questão toda ali é quem vai assumir? quem é de confiança?

— LN, tu tem total confiança de geral aqui — falaram, concordei — Muitos aqui são criados, mas tu é cria menor, lembro de tu menorzinho correndo atrás do Martins, indo pra tudo quanto é favela com ele — arrumei minha postura

— Você — apontou o dedo pra mim — É puro, moleque! Teu trabalho é certo pelo certo — soltou a fumaça do cigarro — Esse bagulho todo aqui, essa favela, é tua moleque — falou rindo

— Coe Henry, respeito pra caralho vocês, tá ligado? — falei tenso — Mas, esse lance não é mais pra mim não — geral me olhou — Não posso assumir esse bagulho não, paizão, não quero mais essa vida não — ele negou com a cabeça

— Tô te dando, LN, como assim tu não quer? Tá com medo de que? Tu é pica menor, tu tem total disposição pra assumir isso aqui — botou uma mão no meu ombro

— Não posso, quero o viver em paz com a minha mulher e a minha filha, tá ligado? — falei nervoso — Tô saindo, não quero mais fechar não, o que não falta é cria pra assumir o lugar do Martins

— Tu cansou, menor? — perguntaram — Mas tu é foda, tu não pode abandonar assim não — falou

— Só eu falo! — Henry falou pro menor que falava pra caralho — Tu quer meter o pé? Tem certeza? — concordei, ele me olhou por um tempo — Vai, pretão, vai curtir tua filha, tua fiel, tô te dando passe livre, mas quando tu quiser voltar, isso aqui vai ser teu, pode ir menor — olhou dentro dos meus olhos

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