1938
Hana tinha cabelos loiros , olhos azuis e uma cara redonda e linda. Ela era uma menina forte. De vez em quando, Hana provocava George para uma briga, só para exibir seus músculos. Seu irmão era três anos mais velho e, mesmo assim, Hana, às vezes, saia como vencedora. Mas, na maior parte do tempo, Hana e George brincavam juntos.
No verão, no riacho atrás da casa da família, eles fingiam ser da marinha. Numa velha banheira de madeira, as crianças velejavam até que um deles tirasse a rolha do fundo e o "navio" afundasse entre risos e muito barulho. Havia três tipos de balanço no quintal dos fundos: um para crianças pequenas, um com dois lugares e um que ficava preso numa árvore gigantesca e balançava até o riacho. Às vezes, as crianças da vizinhança se reuniam ali para competições nos balanços. Quem conseguia ir mais alto? Quem conseguia pular mais longe? Na maioria das vezes, era Hana.
Nos longos corredores de seu apartamento no andar em cima da loja, Hana apostava corridas em seu triciclo vermelho com George, no triciclo azul. No inverno, Hana e George construíram fortes de neve e esquiavam. Mas a paixão de Hana era patinar, e ela praticava suas piruetas no lago congelado em Nove mesto. Às vezes, quando vestia seu traje especial para patinação que era vermelho com pelo branco nos punhos, ela imaginava que era uma princesa dançarina. Seus pais, seus amigos e seu irmão aplaudiam suas apresentações e seu sonho.
Por seus pais trabalharem seis dias por semana, as manhãs de domingo eram especiais para a família. Quando acordavam, George e Hana iam se aconchegar embaixo da colcha de penas na cama dos pais. Nas tardes de domingo, no verão, todos se empilhavam no carro e iam até o forte ou castelo mais próximo fazer piquenique. De vez em quando, tio ludvik e tia Hedda, que também viviam em Nove Mesto, os acompanhavam. No inverno, havia corridas de trenó e longas aventuras de esqui. Hana sabia esquiar muito bem. Na trilha de oito quilômetros entre Nove Mesto e uma vila próxima ( que tinha uma doceria fantástica, com pães doces deliciosos), Hana era o líder da grande família de primos,mesmo sendo a mais jovem.
Mas na virada do ano de 1938,havia um sentimento novo e ameaçador no ar. Havia rumores de guerras. Adolf Hitler e os nazistas assumiram o controle da Alemanha. No começo daquele ano, Hitler tinha a Áustria. Então marchou com seus exércitos em partes da Tchecoslováquia. Refugiados, pessoas que tentavam escapar dos nazistas, começaram a bater na porta da família Brady pedindo dinheiro, comida e abrigo. Eram sempre bem-recebidos por mamãe e papai. Mais as crianças estavam perplexas. "Quem eram aquelas pessoas?", Pensava Hana. "Por que estão vindo para cá? Por que não ficam em suas próprias casas?"
À noite, quando Hana e George iam a cama, Mamãe e papai ouviam as notícias pelo rádio. Muitas vezes, amigos vinham e se juntavam a eles, conversando durante toda a noite sobre as notícias que tinham ouvido.
-Vamos falar baixo- diziam eles-, para não acordar às crianças
A conversa dos adultos era tão intensa, as discussões tão acaloradas, que nem ouviam o barulho das tábuas do chão na sala escura, enquanto Hana e George caminhavam na ponta dos pés até o posto de escuta secreto perto da porta da sala. As crianças ouviram falar das leis antijudeus na Áustria. Ouviram sobre Kristallnacht, na Alemanha,em que gangues de nazistas violentos vagueavam nos bairros judeus, quebrando janelas de casas e lojas queimando sinagogas e batendo nas pessoas no meio da rua.
Isso não pode acontecer aqui, pode? – sussurrou Hana ao irmão.
– Shh! – disse George. – Se falarmos agora, eles irão nos ouvir e vão nos mandar para a cama.
Numa noite, o Sr. Rott, um vizinho, apresentou uma ideia que chocou a todos os adultos.
– Podemos sentir que a guerra se aproxima
– começou a falar. – Não é seguro que os judeus continuem aqui. Todos nós devíamos deixar Nove Mesto, deixar a Tchecoslováquia. Ir para a América, para a Palestina, para o Canadá. Qualquer lugar. Temos de sair agora, antes que seja tarde demais.
O resto do grupo ficou paralisado.
– Você está louco, Sr. Rott? – perguntou uma das pessoas. – Aqui é o nosso lar. Temos de ficar aqui – e isso encerrou a discussão.
Apesar de todos os problemas, os Brady estavam determinados a comemorar a entrada do ano de 1939. Na noite da passagem do ano, depois de um banquete de peru, salsicha, salame e doces,
as crianças se prepararam para o tradicional jogo de adivinhação do futuro. Hana, George e seus primos mais jovens das cidades vizinhas receberam metade de uma casca de noz, onde colocaram uma vela pequena. Uma grande bacia de água foi trazida até o meio da sala. Cada uma das crianças colocou ali seu barquinho de casca de noz. O barco de George, de onze anos, balançou na água, foi pra lá e pra cá, e finalmente parou, meio de lado. A vela continuava acesa.Hana, oito anos, colocou o dela e, por alguns momentos, o barquinho deslizou suavemente. Daí, balançou e virou de lado; a vela tocou a água e se apagou.
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A Mala De Hana - Parte 2
No Ficción*Essa é a parte 2 do livro* que eu publiquei em 2015 e não pude continuar pois eu perdi a conta infelizmente não consegui recuperar, peço desculpas a todos que estavam acompanhando, mais agora eu consegui uma conta definitiva e que eu não vou perder...