Toronto

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Agosto de 2000

Mais de meio século depois de George descobrir o terrível destino de seus pais e de sua irmã, muita coisa aconteceu.

Aos dezessete anos, George deixou Nove Mesto. Mudou-se de cidade em cidade pela Europa, carregando seu único bem precioso: uma caixa com fotografias de sua família que Tio Ludvik e Tia Hedda haviam escondido. Então, em 1951, mudou-se para Toronto e abriu uma firma de serviços de encanamento, junto com outro sobrevivente do Holocausto. E fez muito sucesso.

George se casou, tornou-se pai de três filhos e, muito depois, de uma filha.
George se orgulhava de – apesar do sofrimento durante o Holocausto e do assassinato de seus pais e de sua irmã pelos nazistas – ter continuado a viver. Era um empresário bem-sucedido e um pai orgulhoso. Ele se considerava uma pessoa saudável que, na maior parte do tempo, deixava sua experiência de guerra no passado. Mas, quando alcançava um objetivo ou se sentia alegre, sempre era cutucado pela lembrança de sua linda irmãzinha e de seu terrível destino.

E agora, ali estava ele, com uma carta do outro lado do mundo, contando como a mala de sua irmã estava ajudando uma geração de japoneses a aprender sobre o Holocausto. A carta de Fumiko também pedia, gentilmente, sua ajuda.

Por favor, me desculpe se minha carta o machuca por lembrá-lo de sua experiência difícil. Mas eu gostaria muito de poder saber mais da sua história e da história de Hana. Gostaríamos de saber como era a vida de vocês antes de serem enviados ao campo, as coisas sobre as quais conversavam, seus sonhos e os sonhos dela. Estamos interessados em qualquer coisa que ajude as crianças no Japão a se sentirem mais próximas de Hana. Gostaríamos de entender o que o preconceito, a intolerância e o ódio causaram às crianças judias. Se possível, ficaria muito grata se pudesse me emprestar algumas fotos da família. Estou ciente de que a maioria dos sobreviventes do Holocausto perdeu suas famílias e suas lembranças. Mas, se tiver alguma foto, seria de muita ajuda para as crianças do Japão entenderem um pouco mais sobre o Holocausto. Nós, do Centro Educacional do Holocausto de Tóquio e as crianças do “Pequenas Asas”, estamos exultantes em saber que Hana tinha um irmão e que ele sobreviveu.

Estava assinado Fumiko Ishioka.
George nem conseguia acreditar. Tantas conexões espantosas e coincidências estranhas colocaram três mundos juntos: o mundo das crianças no Japão, o mundo de George no Canadá e o mundo perdido de uma menina judia da Tchecoslováquia, que tinha morrido havia tanto tempo.

George limpou a lágrima que descia pela sua bochecha e abriu um sorriso. O rosto de Hana estava tão claro em sua mente... Ele quase podia ouvir sua risada e sentir sua mão macia. George foi até o grande armário de madeira e pegou um álbum de fotografias. Queria entrar em contato com Fumiko Ishioka o mais rápido possível.

A Mala De Hana - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora