Tóquio

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Março de 2001

– ACALMEM-SE! – Disse fumiko sorrindo – Eu prometo que, logo, logo, eles estarão
aqui.

Mas nada do que dizia aplacaria o entusiasmo das crianças naquela manhã. Elas pipocavam ao redor do Centro, checando seus poemas, arrumando suas roupas pela enésima vez e contando
piadas bobas para o tempo passar mais rápido. Até Maiko, cuja tarefa era acalmar as outras crianças, estava agitada.

Então, finalmente, a espera chegou ao fim. George Brady havia chegado. E havia trazido com ele a filha de dezessete anos, Lara Hana.

Agora, as crianças ficaram quietas. Na entrada principal do Centro, elas cercaram George. E o cumprimentaram, curvando as costas, como é costume no Japão. Akira presenteou George com uma linda guirlanda multicolorida de origami. Todas as crianças se empurravam delicadamente para poder chegar perto dele. Tantos meses depois de Fumiko ter recebido a carta de George, estavam exultantes em finalmente conhecê-lo pessoalmente.

Fumiko segurou George pelo braço.

– Agora, venha conosco ver a mala da sua irmã.

Eles andaram até a área de exposição.
E ali, cercado pelas crianças, com Fumiko segurando uma de suas mãos, e sua filha, Lara, a outra, George viu a mala.

De repente, uma tristeza insuportável caiu sobre ele. Ali estava a mala. Ali estava o nome escrito bem em cima: Hana Brady. Sua irmã linda, forte, brincalhona, generosa e divertida. Ela morrera tão jovem, de uma forma tão horrível! George abaixou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem.

Mas, alguns minutos mais tarde, quando olhou para cima, viu sua filha. Viu Fumiko, que havia trabalhado tanto para encontrá-lo e contar a história de Hana. E viu as faces ansiosas daquelas crianças japonesas para quem Hana havia se tornado tão importante e tão viva.

George se deu conta de que, no fim, um dos desejos de Hana tinha se tornado realidade. Hana tinha se tornado uma professora. Por causa de sua mala – e de sua história –, milhares de crianças japonesas aprendiam as coisas que George considerava as mais preciosas dádivas que
podemos ter no mundo: tolerância, respeito e compaixão. “Que presente Fumiko e essas crianças me deram”, pensou ele. “E que honra para Hana.”

Fumiko pediu que as crianças se sentassem em círculo. Ela brilhava de orgulho quando, uma por uma, as crianças presentearam George com os desenhos e os poemas sobre Hana. Quando acabaram, Maiko levantou-se, respirou fundo e leu alto um poema:

Hana Brady, treze anos de idade, a dona desta mala.
Cinquenta e oito anos atrás, 18 de maio de 1942 –
dois dias depois de celebrar seu aniversário de onze anos – ela foi levada para Terezin na Tchecoslováquia.
23 de outubro de 1944, amassada num trem de carga, ela foi para Auschwitz.
Ela foi levada à câmara de gás logo depois.
As pessoas só podiam levar uma mala cada uma.
Eu tento imaginar o que Hana levou na sua mala.
Hana teria sessenta e nove anos hoje, mas
sua vida acabou quando tinha treze.
Eu imagino que tipo de garota ela era.
Alguns desenhos que ela fez em Terezin – isso é tudo que ela deixou para nós.
O que esses desenhos nos dizem?
Memórias felizes de sua família?
Sonhos e esperanças para o futuro?
Por que ela foi morta?
Havia uma razão.
Ela nasceu judia.
Nome: Hana Brady. Data de nascimento: 16 de maio de 1931. Órfã. Nós, “Pequenas Asas”, vamos contar a todas as crianças do Japão o que aconteceu com Hana. Nós, “Pequenas Asas”, nunca esqueceremos o que aconteceu com um milhão e meio de crianças judias. Nós, crianças, podemos fazer a diferença em construir a paz neste mundo – para que o Holocausto nunca aconteça de novo.

Poema feito pelos membros do “Pequenas Asas”, em dezembro de 2000, Tóquio, Japão.
Traduzido do japonês por Fumiko Ishioka.

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A Mala De Hana - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora