Julho 2000
Restavam apenas algumas horas, antes que o avião de Fumiko partisse para o
Japão na manhã seguinte. Tão logo saiu do ônibus em Praga, chamou um táxi.
– Museu Judeu, por favor – disse, tentando recuperar o fôlego.
Ela chegou ao Museu Judeu em Praga alguns minutos antes do fechamento. O guarda pediu que voltasse no dia seguinte.
– Não posso! – implorou Fumiko. – Tenho de voltar ao Japão amanhã de manhã. Estou aqui para ver Michaela Hajek. Ela me ajudou a encontrar desenhos muito importantes.
Quando nada mais parecia convencer o guarda, Fumiko distorceu um pouco a verdade.
– Ela está me esperando – disse Fumiko, confiante.
E ele a deixou entrar.
Dessa vez, Fumiko teve sorte. A mulher estava em seu escritório e se lembrou da história de Hana. Ela ouviu atentamente enquanto Fumiko contava tudo o que havia descoberto.
– Já ouvi falar de Kurt Kotouc – disse Michaela, com voz suave. Fumiko nem conseguia acreditar. – Vou ajudá-la a encontrá-lo – prometeu Michaela.Ela percebeu que Fumiko não tinha
tempo a perder. Fumiko sentou-se em silêncio enquanto Michaela dava um telefonema atrás do outro. Cada pessoa com quem Michaela falava fornecia outro número de contato e desejava boa sorte na
busca. Finalmente, ela encontrou um escritório em que o Sr. Kotouc trabalhou como historiador de arte. Ela passou o telefone para Fumiko, para que ela tentasse explicar a situação. A secretária
queria ajudar, mas disse que o Sr. Kotouc estava partindo em viagem para a América naquela noite.
– Sinto muito – explicou a secretária –, mas será impossível vê-lo hoje.
Ele não tinha nem tempo para dar um telefonema. Michaela percebeu o desapontamento no rosto de Fumiko. Pegou o telefone de volta e implorou à secretária.
– Você não tem ideia de como esta jovem está desesperada. Ela tem de voltar ao Japão logo pela manhã. Esta é sua única chance.
A secretária, finalmente, cedeu.
Duas horas mais tarde, o céu já estava escuro, e o museu, oficialmente fechado. Todos os funcionários já tinham ido embora, mas um escritório continuava com as luzes acesas. Ali, Fumiko e Michaela aguardavam a chegada do Sr. Kotouc.
Finalmente, ele chegou. O homem forte, com grandes olhos brilhantes, tinha muito o que contar.
– Tenho apenas meia hora – disse ele – antes de ir para o aeroporto. Claro que me lembro de George Brady. Dormimos no mesmo beliche em Theresienstadt. Nunca esquecemos os laços que formamos com as pessoas em Theresienstadt. E, além disso, ainda somos amigos. Ele mora
em Toronto, no Canadá.
O Sr. Kotouc tirou do bolso uma pequena agenda de endereços.
– Aqui está o que você procura – disse, sorrindo.Escreveu o endereço de George Brady e deu o papel a Fumiko.
– Oh, Sr. Kotouc, nem sei como lhe agradecer!
– Boa sorte! – disse ele a Fumiko. – Fico feliz em saber que as crianças no Japão estão
interessadas na história do Holocausto.
Então, o Sr. Kotouc praticamente correu para fora do escritório, com a mala na mão.
Fumiko sorria de orelha a orelha. Toda a sua perseverança tinha sido recompensada. Ela disse a Michaela quão grata estava por toda a sua ajuda.
Na manhã seguinte, Fumiko acomodou-se em seu assento para o longo voo até o Japão. Ainda estava radiante. Repassou mentalmente toda a história que contaria às crianças no Centro.
Quando pensava que Hana tinha um irmão mais velho, lembrava-se da própria irmãzinha, três anos mais nova. Fumiko sempre a protegeu e imaginou como seria horrível se ela estivesse em perigo. Só de pensar nisso, ela tremia. Olhava pela janela, enquanto os eventos do dia anterior se repetiam em sua mente. Depois de uma hora, caiu num sono profundo. Era a primeira vez que relaxava depois de muito tempo.

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A Mala De Hana - Parte 2
Não Ficção*Essa é a parte 2 do livro* que eu publiquei em 2015 e não pude continuar pois eu perdi a conta infelizmente não consegui recuperar, peço desculpas a todos que estavam acompanhando, mais agora eu consegui uma conta definitiva e que eu não vou perder...