Milena
Acordei com uma luz adentrando o quarto e um frio de congelar. Abri o olho e inchergava tudo embaçado, até que comecei a ver o quarto com clareza. Ele era bem luxuoso com móveis em branco e preto. O cheiro era bem familiar.
Estranhei e o medo começou a percorrer meu corpo.
Minha cabeça doía e meu estômago ardia. Sentei na cama cossando meus olhos e lembrado de ontem, acho que bebi alguma coisa que já nem lembro mais o que foi. Olhei pro meu corpo e eu estava apenas de calcinha e sutiã, quem tinha tirado minha roupa? Por que eu estava assim? Onde eu estou?
Foi quando eu ouvi algumas vozes e me cobri com a coberta macia.
Logo entrou uma mulher de meia idade e baixinha. Ela trazia consigo uma bandeja.
—Bom dia, linda— disse amigavelmente com um sorriso- sou Mirian, empregada da casa e vim cuidar de você
—Bom dia— eu respondi com um sorriso sem graça —mal lhe pergunte, onde eu estou? E por que estou assim?
—Bom. Foi o Thayson que trouxe você pra cá— ela falava enquanto colocava água no copo com remédio —Foi eu que tirei sua roupa, fica tranquila. Você estava toda vomitada e com um cheiro muito ruim.
Corei ao ouvir aquilo. Estava com muita vergonha, eu não sou dessas coisas, isso nunca tinha me acontecido. Essa seria a primeira e última vez que isso me aconteceria. E minha mãe? Deveria estar apavorada com meu sumisso, aí meu Deus.
Mirian me deu a água com remédio e bebi tudo.
—O Thayson pediu que lhe desse isso —ela me entregou uma sacola
Na frente da sacola tinha o nome "resert", se eu me lembro bem esse é o nome de uma grife muito famosa no Brasil.
Abri a sacola e me deparei com vestido rosa fraco de mangas longas com detalhes de babados. Era lindo, mas não podia aceitar, aquilo deveria ser muito caro.
—Eu não posso aceitar isso dona Mirian —coloquei o vestido dentro da sacola e entreguei
—Por que não?
—Deve ter sido muito caro
—Para com isso menina, aceita boba. Ele comprou com muito carinho pra ti —ela me devolveu a sacola— vai tomar um banho e se trocar que eu vou trazer seu café
Fui pro banheiro e tomei meu banho, logo após vesti meu vestido que tinha ficado lindo no meu corpo, ele era na altura do joelho.
Dona Mirian tinha trazido meu café, estava tudo muito bom.
Alguém bate na porta adentrando, era o Thayson, como sempre ele carregava aquele sorriso branco e bem alinhado.
—Iai gatinha, tá melhor? —ele se sentou na cama olhando dentro dos meus olhos
—Tô sim...E eu queria te agradecer por tudo que você fez comigo. Você não tinha obrigação nenhuma de cuidar de mim
—Eu tinha total obrigação de cuidar de você, foi eu que te dei a bebida né
—Mesmo assim. E obrigado também pelo vestido, ele é lindo
—De nada bobinha- ele apertou meu nariz de modo brincalhão —Você ficou linda nele. Agora me diz se eu não tenho um bom gosto —falou todo convencido me fazendo revirar os olhos
—Aí Thayson, só você mesmo
Depois de um tempo eu e Thayson demos um selinho, foi muito fofo. Ele não forçava nada entre a gente e isso me deixava segura.
Ele ficou ali brincando comigo até eu terminar de tomar o meu café.
Thayson era uma pessoa muito divertida, a cada segundo ele me tirava uma gargalhada sincera, acho que nunca ri tanto em minha vida. Aquela manhã tinha sido muito divertida.
__________
Thayson estava me levando de volta pro morro. Ele dirigia sua BMW que tinha ganho do pai. Jamais me imaginária andando nesse tipo de carro, tudo estava mudando completamente em minha vida.
Chegando na entrada do morro avistamos alguns homens armados com suas motos estacionadas. Thayson foi se aproximando devagar até que estaciona uma outra moto. Era ele, aquele homem que me secou lá no baile. Ele estava vestido em uma bermuda Jens rasgada, camiseta branca, sandália, cordões em volta do pescoço e boné.
Meu coração palpitou quando vi ele se aproximando com uma arma na mão. Ele fez sinal pro carro parar e abaixar o vidro e assim Thayson fez.
—Da coé playboy? Tá perdido?
—Não, vim trazer minha amiga que mora aqui no morro
—Deixa ela aí. Ela pode subir a favela sozinha— disse ríspido
—Sabe o que é....É que ela tá com caganeira e não pode subir a favela, vai que escorrer bosta pelas pernas dela
Dei um beliscão no Thayson fazendo ele gemer.
—Tá tirando com minha cara é playboy? Manda a mina descer agora antes que eu perca minha paciência e leve os dois pra casinha— ele disse sem paciência
Um frio percorreu meu corpo me fazendo arrepiar.
—Pode deixar Thayson, eu vou sozinha daqui— abracei ele —Obrigado por tudo
—Tem certeza?
—Eu moro aqui bobo— soltei um riso tentando disfarçar meu medo —Tchau
—Tchau
Desci do carro ajeitando meu vestido e com minhas pernas banbas por causa do medo.
Não olhei pra nada, apenas segui sem olhar pra trás mas sentia alguém me secar. Passei por alguma vielas e só ouvia "psiu" "ei gostosa" isso me incomodava muito mas não dava bola.
Quando entrei na rua quinze escutei um barulho de motor de moto se aproximar de mim. Quando olhei era aquele homem, levei um susto ao ver quem estava atrás de mim.
—Sobe na moto —ele falou dirigindo do meu lado
—Me deixa em paz. Eu não te conheço— falei com desespero na voz
—Eu não perguntei se tu me conhece ou não, só tô mandando subir na moto
Cada vez que eu aumentava meus passos ele aumentava a velocidade da moto ficando do meu lado.
—O que você quer comigo?
—Eu quero te fuder
Quando ele disse isso todos os pelos do meu corpo subiu como tivesse levado um choque elétrico.
Eu jamais ficaria com um traficante, jamais estragaria minha vida desse jeito. Eu sei muito bem o destino das mulheres de traficantes.
—Não vai subir não?
—Não
Rapidamente ele tirou uma arma apontando na minha cabeça. Fiquei imóvel sem saber o que fazer. Tudo que eu mais odiava estava acontecendo.
—Sobe agora
Fiquei parada com olhos arregalados e minha respiração desregulada, ou melhor, sem respiração nenhuma só de ver aquela arma apontada para mim. Mil coisas passavam em minha cabeça me fazendo ficar um pouco tonta.
Sem pensar três vezes subi em sua moto tirando um sorrizinho de vitória do homem.
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Perdida no Morro
Teen FictionBabilônia, um sistema capitalista em que todo mundo só pensa em poder, no lucro e na propriedade, pregando a individualidade e esquecendo da importância do próximo em nossas vidas. "Enquanto uns querem sair outros entram nessa Babilônia." Capa feita...