CAPÍTULO 03

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Milena

Uma semana no morro já tinha se passado. Eu e minha irmã já tínhamos nos matriculado na escola. Eu já conhecia mais o menos o morro, é porque eu não saio muito de casa, vai que do nada um tiro pega em mim. Uma das coisas que mais tenho medo é de morrer de bala perdida. Onde eu morava não tinha essas coisas, lá só tinha mato, o único perigo lá era os animais.

Em plena três da tarde estava eu, Dandara e Marcela na frente de casa conversando quando uma moto enorme para do outro lado da rua. Um homem estaciona a moto e entra no estabelecimento.

Quem é esse? pergunta Dandara meio que animada fitando ainda o outro lado da rua

Esse é o Lipe, irmão do Corujão. Gato ele né? Queria pegar ele no baile só que ele nem da moral fala Marcela

Uma menina tão bonita como a Marcela pegando esses traficantes, jogando sua vida praticamente no lixo.

Quem é Corujão? pergunto

Como assim você não sabe quem é Corujão, mana? Marcela me pergunta de boca aberta

É errado não saber quem é Corujão?

Corujão é o dono desse morro todo. Ele que manda, ele que da as ordens nessa bagaça toda

E quando vai ser o baile? pergunta Dandara

Pra quê você quer saber, Dandara?
pergunto de braços cruzados

Você acha que quando ter um bailão eu vou ficar em casa é? Só se for no seus sonhos bebê

Como minha mãe fosse deixar.

Tá certa amiga. Tem que aproveitar mesmo. Daqui um tempo geral vai tá de baixo do chão sem ter aproveitado nada elas fazem um toque

Então, quando vai ser hen?

Todo sábado e domingo tem, mas por causa de umas tretas que teve ficou sem, mas acho que tem daqui umas duas semanas, se não me engano

Conversamos um pouco sobre coisas aleatórias quando o tal Lipe sai do estabelecimento. Ele era enorme, vestia uma camiseta, bermuda, sandálias havaianas e um relógio no pulso. Lipe arrastou sua grande moto fazendo uma zoada enorme do motor. Algumas meninas que passavam na hora só faltaram comer o Lipe com os olhos.

Escreve o que eu tô te dizendo, Lipe ou Corujão ainda vai ser meu fala Marcela rindo com malícia e enrolando a ponta dos seus cabelos

Já era quase cinco da tarde, a Marcela e a Dandara tinha ido rodar a cara pela favela. Minha mãe estava no emprego, ela tinha achado umas casas pra faxinar esse semana.

Eu estava sozinha em casa assistindo vale a pena ver de novo jogada no sofá. Eu ainda não tinha ido a escola, é porque minha mãe ainda não dinheiro pra comprar o material escolar.

Eu estava morta de fome e aqui em casa não tinha nada. Lembrei que minha mãe tinha deixado cinco reais pra comprar algum lanche.

Resolvi ir ao mercadinho, mas estava morrendo de medo. Mas a rua estava bastante movimentada, isso me deu uma certa segurança.

Fui até o mercadinho com gente me olhando dos pés a cabeça, algumas até cochichavam. Passei pelos becos praticamente correndo com medo.

Cheguei no mercado e comprei uma bolacha recheada e um suco de pacotinho, só isso deu quatro reais e quarenta. As coisas aqui é cara viu, Deus é mais.

Quando estava voltando uma moto vai parando do meu lado, nessa hora eu praticamente me cago toda. Vou aumentando meu passo mas a moto acelera e para na minha frente. O menino estava com uma arma atravessada nas costas.

Pra quê a pressa novinha? o menino me pergunta com um sorriso nos lábios

Quando eu falo que esse lugar é perigoso ninguém acredita.

Tentei passar pelo lado do menino mas ele me segurou. Essas horas minhas pernas já estavam banbas.

Calmaê novinha. Vamo bater um lero rápido, depois eu deixo tu pegar o beco ele diz ainda segurando meu braço De onde tu é? pergunta desconfiado

O menino parecia novinho, era magro, alto, usava uma camisa e bermuda,boné, tinha alguns cordões que pareciam ouro e sandálias.

Sou nova aqui. Moro no pistão digo tremendo

Nova na quebrada..?

Eu não tava entendendo nada daquelas gírias dele.

É  digo o mais rápido possível pra ver se ele me deixava ir embora

Algumas pessoas que passavam olharam com curiosidade mas outras ignoraram totalmente.

Como teu nome?

Milena

Eu não estava acreditando que estava conversando com um bandido.

Hum, beleza. Só toma cuidadoele arrasta a moto e eu agradeço mentalmente

Corro pra casa o mais rápido possível. Eu estava assustada, ainda bem que ele não fez nada comigo. Tranquei tudo e fui comer meu lanche assistindo TV.

Quando terminei fui tomar um banho. Vesti um macacão de textura fina bem confortável, fiz um coque no cabelo e calcei minha havaianas. Voltei a assistir televisão.

Depois de um tempo minha mãe chegou. Ela estava cheia de sacolas então corri pra ajuda-la.

Tô morta de cansada minha mãe senta no sofá

Eu fui pra cozinha guarda as compras.

Como foi lá, mãe?

Foi bem. A casa era do tamanho de hotel de tão grande, tive que limpar cada canto

Eu acho melhor a senhora ir tomar um banho e descansar

Volto da cozinha.

Não. Ainda vou na igreja. Quer ir comigo?

Quero sim

Eu amava ir à igreja que tinha lá na minha antiga cidade. Sempre que minha mãe ia eu também ia atrás, menos Dandara, ela odiava.

Cadê a Dandara?

Saiu cedo com a Marcela até agora não chegou

Não quero a Dandara saindo com essa menina. Ela parece ser aquelas meninas do mundo de péssima influência

***

Estava eu e minha mãe voltando da igreja, acho que já era dez da noite e as ruas continuam movimentada por causa do comércio.

Perdida no Morro Onde histórias criam vida. Descubra agora