Milena
Hoje era o dia que iriam contratar a "babá". Eu, Dandara e Marcela fomos no bar da dona Madalena ser escrever, e tinha era gente. Me deu até um desânimo, com certeza eu não iria passar, quem iria contratar uma menina de 15 anos?
Fomos nós três á pé no sol de matar, e ainda por cima as ladeiras não ajudavam.
Chegamos em uma casa de apenas um cômodo. Duas meninas saíram lá de dentro.
Nós entramos e era o Colômbiano, ele que estava fazendo as perguntas. Já tinha se passado alguns meses, então já tinha decorado o nome de todo mundo.
Colômbiano estava sentado com as pranchetas na mão.
— Se não é as duas passa rodo. — Colômbiano falou no tom de brincadeira.
— Cadê a pessoa que vai fazer a entrevista? — Marcela perguntou irônica com os braços cruzados.
— Eu aqui bebê. — falou girando na cadeira — E vocês duas nem precisam fazer "entrevista" não. Conheço bem a bandida que vocês são.
Olhei pra Dandara não entendendo o motivo dele ter falado aquilo, a mesma me olhou com um sorriso desconfiado.
Eu sabia que a Dandara não era santa porque todos os sábados e domingos ela esperava minha mãe dormir e saia pro baile. Como minha mãe trabalhava muito não tinha como ficar vigiando ela.
— Que isso Colômbiano? Nois é parça pô. — o mesmo olhou pra ela com deboche fazendo a Marcela bufar.
— E você? — olhou pra mim — Pode sentar aqui bebê.
As meninas se entreolharam com uma cara não muito boa.
Sentei na frente dele e ele me fez várias perguntas aleatórias. Depois ele foi lá fora conversar no radinho e depois voltou.
— Hó, perfeita. Tá contratada viu. — ele falou quando entrou. Quando ele falava parecia um mongolóide, mas tudo bem.
Uma felicidade me invadiu, graças a Deus eu consegui a vaga, agora eu poderia ajudar minha mãe. Poderia mobiliar a casa dela.
— O que você aprontou, hen Colômbiano? — Dandara perguntou irritada.
— Não é do seu interesse. — falou — Não tá feliz por sua irmã ter ganhado a vaga?
— Tô, mas... — ele cortou ela.
— Tá, agora rala que eu não tô mais aguentado vocês. — disse — Aqui novinha, liga pra esse número pra acertar.
Ele me entregou um número.
Fomos embora e Dandara e Marcela nem pareceram que estavam felizes como minha conquista, foram o caminho todo reclamando, falando que era armação.
[...]
Já eram quase oito da noite, liguei pro número que o Colômbiano tinha me dado e nada de ninguém atender. Meus créditos estavam indo embora, só tinha dois reais.
— Iai, como foi lá no emprego? — minha mãe perguntou chegando do trabalho.
— Eu consegui mãe! — fui até ela abraçando a mesma muito feliz.
A mesma ficou muito feliz, até chorou de felicidade.
— Graças a Deus, agora as coisas vão mudar. — Minha mãe falou
Escutei o som da buzina no lado de fora, sai pra ver e era o Corujão.
Me bateu um calafrio tão grande quando eu vi ele. Corujão veio até mim ficando frente a frente comigo.
— Que foi? Não tô devendo nada pra ninguém não. — falei nervosa
Esse homem me dava um medo tão grande; não só por ele ser o dono do morro mas sim pelas coisas que já ouvi falar dele. Soube que a mãe da filha dele morreu porque ele matou, ninguém sabe o motivo, e nem é idiota de comentar.
— Vim cobrar nada não, até porque não é minha função. Só vim acertar o bagulho do emprego. — olhei pra ele sem entender — Eu que tô precisando de alguém pra cuidar da minha filha.
Estava muito ótimo pra ser verdade, eu não vou trabalhar pra um traficante. Porque quem pega dinheiro de tráfico, mesmo sem se involver, pra mim é traficante também.
Suspirei nervosa sem saber o que dizer.
— Eu..eu.....não sabia... — gaguejei
— O que tá acontecendo? - minha mãe saiu na porta e ela se assustou — Oi, a gente não deve nada a ninguém não, nós somos do bem — minha mãe falou com medo.
— Não é nada desses bagulho não. É que sua filha vai trabalhar lá em casa cuidado da minha cria. Vim acertar tudo com ela. — ele alhava no fundo dos meus olhos, parecia que queria achar algum segredo meu.
— Eu não sabia que...
— Que seria eu? O dono do morro? Pode ficar susa, tua filha vai ser protegida minha.
Minha mãe assentiu de cabeça baixa e entrou, com toda a certeza do mundo ela ficou com muito medo, não quis nem falar nada.
— Tu vai pegar ela na escola de manhã e vai direto pra minha casa. Tu vai trabalhar aos sábados e domingos também mas vai ser bem recompensada. Vou te pagar mil e trezentos pau. Tudo tranquilo pra ti?
Como assim mil e trezentos reais? Eu estava precisando tanto desse dinheiro...
— Quero uma mina de confiança pra cuidar da minha pequena — falou com a voz rouca — Tenho certeza que é tu.
Vou aceitar, qualquer coisa eu só fico um mês com a filha dele.
— Tudo certo então.
Ele me deu uma última olhada me fazendo baixar a cabeça, só levantei quando eu ouvi o barulho da moto indo embora. Várias pessoas na rua ficaram olhando pra mim depois que o Corujão foi embora.
....
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Perdida no Morro
Teen FictionBabilônia, um sistema capitalista em que todo mundo só pensa em poder, no lucro e na propriedade, pregando a individualidade e esquecendo da importância do próximo em nossas vidas. "Enquanto uns querem sair outros entram nessa Babilônia." Capa feita...