CAPÍTULO 20

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Larissa

Thaysson...morto.

Meu primo, o único que eu amava e confiava agora já não estava mais vivo.

Isso tudo era culpa minha, claro que era. Isso tudo só aconteceu porque eu engravidei de um traficante de merda. Ele só queria me proteger, o único.

Meu corpo todo tremia apesar de tudo já ter acabado a um tempo. Hoje tinha sido o segundo pior dia da minha vida, só perdia pra quando eu soube que era adotada.

Já era oito e cinquenta e o resto do dia eu tinha passado chorando deitada e com muito medo.

Escutei o barulho da porta sendo aberta, era o Corujão; pude saber  pelo  cheiro de madeira forte que era sua cara.

Ele estava lindo, quer dizer, arrumadinho com sua camisa e o Short Jens e um cordão de outro fino que tinha a imagem de uma santa. O que ele entende sobre religião? Logo um traficante.

O Corujão ficou encostado na porta com os braços cruzados me observando.

— Por que matou o Thaysson? — fui direta e reta. — Ele nunca fez nada pra ninguém.

Minha vontade era de matar o Corujão, mas eu sabia que não podia fazer mais nada porque se não a próxima seria eu.

— Não foi eu que matei o seu priminho querido. — falou sem dar muita importância.

— E quem foi?

— Por que quer tanto saber? Vai vingar a vida dele por acaso?

— Queria muito — sentei na cama. — Tem certeza que não foi você? Por que talv... — ele me interrompeu.

— Por qual motivo eu negaria isso? Uma morte a mais ou a menos não faz tanta diferença, não acha? — ele arqueou a sobrancelha.

Bem que ele estava falando certo, que diferença faria?

— Vim te buscar pra passar um tempo lá em casa, até o bebê nascer pelo menos. 

— Por que isso? Lá pode ser mais perigoso que aqui. — acho que já tinha chorado tanto que eu tinha perdido minha consciência real junto com minhas forças.

— Porque é muito óbvio, e quase ninguém desconfia.

A maioria dos traficante odeia ter filhos, muitas das vezes nem assumem. Já o Corujão fez questão de assumir e ainda cuidar de mim.

— Vamo.

[...]

Corujão parou em frente a uma casa e desci junto com minha mala. Como eu não trouxe nada porque sai fugida de casa o Corujão foi comprar algumas coisas comigo e me levar pra conhecer o morro, por isso que o Thaysson me viu.

Uma garotinha estava esparramada no sofá assistindo galinha pitadinha, era a mesma que PL tinha deixado comigo mais cedo. E uma senhora gorda baixinha estava na cozinha mexendo nas panelas.

— Quem é essa, papai? — a menina perguntou com a cara de poucos amigos. Olhei da mesma forma pra ela.

— Essa é a Larissa, ela vai ficar aqui até seu irmão nascer. — Corujão falou indo levar as minhas coisas pra algum lugar. — Essa é dona Joana, ela vai cuidar da casa e da Lorena.

— Tudo bem, minha filha? — Dona Joana falou com um sorriso no rosto e se arrumando pra sair.

— Não. — fui sincera

Ela sorriu gentil e deu um beijo na menina.

— Tô indo, tá filho. — falou alto para que o Corujão escutasse. — Amanhã eu tô aqui cedo.

Dona Joana saiu me deixando com a menina. Ela olhou com cara de birra e me deu língua, fiz o mesmo com ela. Garota chata.

Fui atrás do Corujão e tinha várias portas, então descidi abrir a primeira.

E lá estava ele, tomando banho.  Como o box era de vidro, pude ve- lo totalmente nu.

— Opa. — ele falou dando um sorriso safado assim que abri a porta. Idiota.

Fechei a porta rápido.

Abri a segunda porta e lá estava minhas coisas.

O quarto era médio e tinha uma cama de casal que parecia ser confortável.

Eu só queria um banho.

Fiquei alguns minutos deitada depois decidi ver alguma coisa pra comer, estava morta de fome.

Na sala não tinha ninguém, melhor assim.

Fiz um sanduíche louco, já que eu não sabia fazer nada e peguei uma Coca Cola e comi. Depois tomei um banho quentinho bem relaxante e lavei os cabelos.

[...]

Acordei com um barulho de tiro muito alto, e logo após um barulho como a porta tivesse sendo arrombada.

Um homem entrou no meu quarto me pegando pelos cabelos e me arrastando até lá fora. O homem usava uma máscara para não ser reconhecido.

— O que você quer! — gritei chorando e com o coração palpitando forte.

— Seus pais estão atrás de você, vamos! — ele me arrastou até um beco escuro.

— Ei! — Um policial gritou de longe mirando e atirou bem na minha testa.

Acordei com a mão no peito. Graças a Deus era um pesado.

Olhei ao redor vendo o quarto todo escuro e apenas o barulho dos cachorros latindo lá fora.

Olhei no celular e era três e quarenta da manhã.

Meu coração batia forte e minha mão tremia.

Não iria ficar nesse quatro sozinha, não iria mesmo.

Levantei e sai procurando o quarto do Corujão, parei quando eu vi o mesmo deitado de bruços dormindo apenas de cueca com a arma na mão.

Tinha que achar um jeito de deitar sem levar um tiro.

Entrei e fechei a porta e deitei do outro lado me aconchegando mais na cama. O Corujão nem se mexeu.

Fechei os olhos e o sono me levou.

Perdida no Morro Onde histórias criam vida. Descubra agora