Capítulo 15

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— Os dois tão de namorico de novo? — A mesma negra corpulenta que os abordou na dispensa apontou o dedo acusatoriamente para Letícia e Felipe quando os viu conversando na cozinha. — Acho melhor servirem os convidados. Vão se manter ocupados e não vão ficá fazeno besteiras por aí!

Letícia achou uma brecha para descobrir o que acontecia na casa.

— Convidados?

Ocê é doida, menina? Num viu o monte de gente aí, não?

Letícia não soube o que responder. Felipe pensou rápido.

— É que essa casa é sempre tão movimentada — comentou.

— Hum... — Olhou fixamente para os dois. — Num me lembro de ter visto ocês por aqui...

Letícia manteve-se quieta. Não fazia ideia do que dizer. Seu coração martelando descompassado no peito não ajudava muito também. Doía e a desconcentrava.

Novamente, Felipe soube o que dizer:

— Ficamos mais dentro de casa, fazendo companhia.

— Para a Senhorinha?

— Isso! Para a Senhorinha! — Letícia disse, esbaforida.

Ela sentiu uma cotovelada nas costelas e olhou irritada para Felipe.

— O que vós suncês tão fazeno aqui, pelo amor de meu bom Deus?! Por que num me falaram que eram acompanhantes da senhorinha Rosália? — A mulher colocou as mãos na cabeça. — O senhor Conde vai me estrupiá se souber que coloquei ocês pra trabalharem na cozinha. E logo na festa da fia dele! — Ela tomou a batata e a faca da mão de Letícia e empurrou os dois para a saída da cozinha. — Arre! Fiquem longe da minha cozinha! Anda! E se derem com a língua nos dentes pro senhor, vão se ver comigo, tá bão? — disse, apontando a faca para eles.

Com rudeza, ela fechou a porta. Os dois se viram mais uma vez do lado de fora.

— Ótimo! Parabéns, Felipe! — Letícia murmurou, irritada.

— O que foi? — Ele franziu o cenho. — Você que abriu a boca falando que fazia companhia para uma menina que nem sabemos quem é!

— É surdo? A menina é a filha do Conde!

— E daí? Quando você respondeu, não sabia quem era — argumentou. — Devia ter ficado quieta e esperado que a mulher desse uma dica sobre que tipo de acompanhantes deveríamos fingir ser.

— Ao menos, sabemos que é dia de festa da filha desse tal Conde!

— Grande coisa, Letícia! De que adianta saber disso se estamos do lado de fora e não temos a mínima ideia de onde começar a procurar o diário?

— Cala a boca, Felipe!

— Ei, ninguém me manda calar a boca!

Letícia deu um puxão no garoto com tanta força que o fez se abaixar junto com ela. Caíram atrás de um arbusto.

— O que está fazendo?!

— Shiii! — Letícia apontou.

Um jovem casal com roupas de festa, sentado em um banco de madeira, conversava na parte mais escura do jardim, perto de algumas árvores volumosas. A mente de Letícia trabalhou rápido e, em instantes, tinha a solução para entrarem na casa. Felipe deve ter pensado igual, pois quando Letícia olhou para ele, o garoto abriu a mochila e recolheu duas ampolas e duas seringas. Felipe nem precisou pedir que Letícia pegasse uma para si. Com a seringa em mãos, tirou-a do plástico que a envolvia e fez sua extremidade perfurar a ampola, para em seguida sugar o líquido que estava ali dentro. Felipe fez o mesmo.

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