Capítulo 12

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Letícia e Felipe verificaram diversas opções de quadros no espelho, até que um deles chamou a atenção de Letícia. A pintura retratava uma mansão rosa-claro ao fundo, com um imponente jardim à frente, que acabava por ser a grande atração do quadro. Com flores e vegetação variadas, tratava-se de um belo projeto paisagístico. Uma estátua de Santos Dumont, que apesar de não estar centralizada na tela e sim no canto esquerdo, foi o que mais lhe intrigou. Uma luz incidia sobre ela de forma que a destacava dos demais itens da pintura.

Felipe observou a obra.

- Com certeza é Santos Dumont, mas pode não ser esse quadro.

- Só pode ser - Letícia retrucou.

- Santos Dumont não nasceu em Petrópolis, e sim em Minas Gerais.

- É, só que ele tem história com a cidade! A casa de veraneio dele fica lá e você mesmo citou-o como pai da aviação.

- A questão é que podem existir outros quadros que não vimos e que retratem melhor Petrópolis.

- Não estou disposta a gastar uma eternidade verificando todos os quadros, Felipe - Letícia disse, exasperada. - E, meu Deus... Tem a ver com a charada. É tão óbvio!

Felipe aquietou-se e continuou observando o quadro. Letícia concentrou-se no rosto dele, tentando desvendar sua expressão. Um sentimento ganhou força dentro dela e logo se transformou em convicção. Felipe sabia que a charada indicava este quadro, mas, por algum motivo que ela desconhecia, evitava assumir isso. Ele não parecia sentir medo, o sentimento era outro, mas Letícia não conseguiu captar.

- Você venceu - ele disse. - Vamos entrar nesse quadro. Preparada?

Letícia consentiu, satisfeita.

- O que devo fazer?

- Lá dentro, fique perto de mim. Não podemos nos perder um do outro, senão corremos o risco de nunca mais nos encontramos. Um quadro pode ter muitas camadas, lembra?

- Lembro.

- Não somos bem vistos aqui. Temos que manter a discrição.

- Ainda não me disse quem nos odeia tanto.

- É uma longa história, que vou contar a você se sairmos vivos do quadro.

- Se? - Letícia não gostou da condição. - É sério?

Felipe confirmou e Letícia sentiu o estômago revirar, mas concentrou-se no motivo de estar ali. Resgatar meu pai. Achar o diário G. Sair de Picta Mundi.

Os dois gastaram os próximos minutos com preparativos. Felipe pegou a mochila e colocou dentro dela, além de algumas frutas e porções de pão, uma corda, algumas ampolas, seringas, os diários e a caneta.

- O que tem nessas ampolas? - Letícia pegou um frasco.

- Sedativo.

- Daniel falou que você desenvolveu. É verdade?

- Claro. Por isso ganhei minha quarta Feira de Ciências.

- Reparou que só fala nessas feiras? - Ela guardou a ampola de volta na mochila.

- É? - Felipe fitou-a. - Isso irrita você?

Letícia deu de ombros.

- O que posso fazer se ganhei as feiras? Não estou me gabando, é um fato - comentou.

- Um fato que adora repetir insistentemente.

- Nunca considerei ganhar a Feira de Ciências grande coisa... - Felipe fechou a mochila. - Além do mais, de que me adiantou tantos troféus na estante do quarto se nenhuma das minhas invenções me ajuda aqui?

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