Capítulo 10

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Acordei com um barulho chato de máquina de hospital. Abri meus olhos devagar e minha cabeça doía. Senti algo no meu dedo e levantei ele devagar. Era o aparelho de medir batimentos. Fitei o relógio na parede e era de madrugada já. Senti algo em minha outra mão e olhei para o lado. Era a mão do Hugo. Ele estava sentado numa poltrona dormindo e segurando minha mão. Não pude conter um sorriso, muito menos esse frio na barriga. Mexi meus dedos para acariciar sua mão e ele acordou.

- Desculpa ter te acordado – sussurrei e não sabia do esforço que tinha que fazer para minha voz sair.

- Foi a melhor coisa que você poderia fazer – ele respondeu no mesmo tom de voz e sorriu – Como se sente? - perguntou acariciando meu rosto.

- Com dor, mas feliz por estar aqui. - Respondi com a maior simpatia e o melhor sorriso que poderia dar - Sabe se foi grave? - perguntei, agora com uma expressão preocupada.

- Fizeram vários exames e cirurgia para retirar a bala. Estão esperando os resultados para ver se houve algum dano ao coração ou algo perto. Sua mãe está dormindo no sofá - disse e me esforcei para vê-la.

- Está aqui desde que horas?

- Só passei em casa para tomar banho e almoçar e voltei. O Thiago saiu daqui as 21 horas. - Ele disse e abaixou a cabeça, parecendo querer tomar coragem para dizer algo – O Thiago... Vocês...

- Não - disse calma - Não - repeti pensando a insanidade dessa pergunta – O Thiago é apenas um amigo de infância, meus sentimentos por ele são diferentes dos meus por ti – disse e logo gelei pois não era para eu ter digo isso.

- Sentimentos por mim? - perguntou levantando a cabeça e me encarando confuso.

- Não, não. Desculpa, não era isso que eu queria dizer. Não é que eu esteja falando que sou apaixonada por ti nem nada do tipo – comecei e meu Deus. Cala a boca, Bruna!!! Estou me embolando entre as palavras e a máquina marca o aumento de meus batimentos cardíacos.

- Ei, calma. Amanhã a gente conversa sobre isso, pode ser? Descansa – ele diz acariciando minha mão e recostando na poltrona.

Ele ficou um bom tempo apenas me olhando e acariciando minha mão e fitando o aparelho. Eu ainda estava meio grogue. Talvez pela anestesia da cirurgia. Então apaguei novamente.

A manhã chega em um estalar de dedos. Assim sem sonhos, pesadelos ou crises de ansiedade. Apenas o barulho da enfermeira trocando o meu soro e checando se estava tudo bem. Hugo estava na poltrona vendo tudo e minha mãe não estava mais no sofá. Esperei a enfermeira sair e o encarei por uns segundos.

- Sua mãe foi passar em casa – ele disse quebrando o silêncio.

- Tudo bem – eu respondi e ele percebeu que eu parecia meio nervosa e chegou perto de mim.

- Não precisamos ter uma conversa que você não queira, tá bom? - ele disse e um alívio se instalou em mim.

- Tudo bem – respondi com um sorriso.

Thiago e Tatiane entram no quarto e Hugo se afasta um pouco. Tati me dá um beijo na testa e Thiago um na mão. Olho para trás e Hugo faz um sinal que vai comer algo.

- Então, como você está, minha princesa? - Thiago pergunta segurando minha mão em seu rosto.

- Estou melhor – respondo com um sorriso forçado, mas não por ser falso, mas sim pelo cansaço que estou sentindo fora do normal.

- E o Hugo, amiga? - Tati pergunta sentando na beira da cama.

- Ele ficou aqui comigo a noite toda – respondi olhando para a porta e meus olhos brilharam e não consegui impedir o sorriso sem graça.

- Vou comer algo e deixar as meninas sozinhas – ele disse levantando e dando um beijo em minha testa. Logo saiu e nos deixou a sós. Eu particularmente prefiro contar essas coisas para o Thiago. Não que eu odeie a Tati, mas amo o Thiago e confio de olhos fechados nele. Há uma grande diferença em minha intimidade com a Tati e com o Thiago.   

Cartas a Marte || CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora